Saideira
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Mostramos para vocês as melhores pedidas de programas no Rio de Janeiro.

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Marina Gonçalves

Do subúrbio à Zona Sul, do rock ao samba, da praia ao boteco, não importa: o Rio é o meu lugar. Com saideira, de preferência.

Cláudia Meneses

Cláudia Meneses é uma jornalista apaixonada por vinhos, caminhadas e o Rio de Janeiro. É sommelière pela ABS-RJ e nível 2 da Wine & Spirit Education Trust.

Por Cláudia Meneses

Dias antes de ser comercializada na Praça de Bordeaux, onde são negociados os melhores vinhos do mundo, foi apresentada no Brasil a safra 2021 do ícone chileno Almaviva. O rótulo é produzido naquele que é considerado um dos melhores terroirs mundiais para a uva Cabernet Sauvignon: Puente Alto, em Maipo. O Almaviva é produzido pela aliança de dois pesos-pesados da enologia: a francesa Baron Philippe de Rothschild e a chilena Concha y Toro. O vinho deve chegar entre janeiro e março de 2024 no Brasil, mas o preço não está definido. Foram elaboradas 200 mil garrafas.

— Puente Alto hoje é reconhecida como uma das regiões mais conceituadas e qualitativas para a produção de Cabernet Sauvignon no Chile. Estamos muito perto de Santiago, um pouco cercados pela cidade. Também estamos perto do Rio Maipo, a quatro quilômetros ao Sul, e da Cordilheira dos Andes. Esses dois elementos naturais têm uma influência importante no terroir — descreve o enólogo francês Michel Friou.

Quatro uvas de origem francesa

O blend do Almaviva é composto majoritariamente por Cabernet Sauvignon: 71%. Em seguida, vêm Carménère (22%), Cabernet Franc (5%) e Petit Verdot (2%). Desde o início de sua produção, a proposta foi um vinho de château da região francesa de Bordeaux:

— O Almaviva foi concebido com o conceito de château de Bordeaux, em que os principais recursos, a vinha, a adega, os equipamentos, estão totalmente focados na produção de um único vinho. Quando é produzido um segundo, no nosso caso o Epu, que seja dentro do mesmo conceito.

O enólogo francês Michel Friou e o Almaviva 2021 — Foto: Cláudia Meneses / Agência O Globo
O enólogo francês Michel Friou e o Almaviva 2021 — Foto: Cláudia Meneses / Agência O Globo

O solo e o clima: o terroir do Almaviva

O enólogo explica que os vinhedos não estão distribuídos pela encosta, mas na parte mais plana. A região registra uma grande amplitude térmica, fator sempre associado ao terroir de grandes vinhos tintos:

— Estamos na parte alta de Maipo. Temos uma influência significativa da serra, no sentido de recebermos sempre ventos mais frescos, que descem das montanhas para moderar um pouco as altas temperaturas do dia durante o verão e também para refrescar as noites, gerando sempre uma diferença de temperatura de 20 graus Celsius entre a máxima do dia e a mínima da noite. Essa diferença de temperatura favorece a acumulação de cor, de polifenóis e também permite uma maturação mais lenta.

Localização do vinhedo do Almaviva em Maipu, no Chile — Foto: Divulgação
Localização do vinhedo do Almaviva em Maipu, no Chile — Foto: Divulgação

Friou revela que esse terroir pode ser considerado tardio, o que significa que a maturação final da uva não ocorre quando as temperaturas estão no seu pico, mas quando começaram a cair:

— Esses fatores permitem uma maturação mais lenta. Conservam mais fruta, mais acidez, mais frescor. De fato, é difícil fazer grandes vinhos tintos se não tivermos maturação lenta. Quando é muito rápida, perdemos um pouco de todos os elementos ou não somos capazes de colher todas as uvas num momento tão bom quando há uma área maior de vinhedos.

Corte do solo de Puente Alto: cascalhos como em Bordeaux, mas com pedras maiores, explica MIchel Friou — Foto: Divulgação
Corte do solo de Puente Alto: cascalhos como em Bordeaux, mas com pedras maiores, explica MIchel Friou — Foto: Divulgação

Michel Friou explica que "outra grande diferença com relação a setores como Pauillac, em Bordeaux, é que eles têm lençol freático com profundidade que pode ser de um metro, dois metros no inverno e quatro ou cinco metros no verão".

— Já em Puente Alto, o lençol freático está em 180 metros atualmente. Não podemos contar com ele para ter umidade. E ainda temos pouca chuva por ano. A média é de cerca de 300 milímetros históricos, mas nos últimos 10 anos estamos com 200ml de chuvas. Especificamente nos últimos 5, 6 anos ficamos mais perto de 150ml. Chegamos a ter dois anos com 60, 70 milímetros, que não é nada, é o que o Rio de Janeiro tem em 4 horas de chuvas — explica o francês.

A colheita das uvas para a produção do Almaviva é manual — Foto: Divulgação
A colheita das uvas para a produção do Almaviva é manual — Foto: Divulgação

Friou revela que é manual a maior parte do trabalho feito nos vinhedos, como a colheita, e na adega.

— O processo de colheita é bastante tradicional, em cargas de 9 a 10 quilos, muito manualmente. As uvas passam então por um processo de seleção, eu diria quase clássico. Hoje em todas as vinícolas que fazem grandes vinhos temos mesas de seleção diferentes, seleção óptica, ainda muitas mãos. Tudo é fermentado em inox e, após o processo de fermentação e maceração, colocamos o vinho em barricas. O Almaviva passará cerca de 18 a 20 meses em barricas de carvalho francês, 70 a 80% delas novas.

Michel Friou degusta amostras para selecionar os melhores lotes das uvas Cabernet Sauvignon, Carménère, Cabernet Franc e Petit Verdot — Foto: Divulgação
Michel Friou degusta amostras para selecionar os melhores lotes das uvas Cabernet Sauvignon, Carménère, Cabernet Franc e Petit Verdot — Foto: Divulgação
A sala de barricas onde amadurece o ícone chileno Almaviva — Foto: Divulgação
A sala de barricas onde amadurece o ícone chileno Almaviva — Foto: Divulgação

O que esperar do Almaviva 2021

Michel Friou usa três adjetivos para descrever a safra 2021 do Almaviva:

— É um vinho que tem mais a ver com elegância, pureza, precisão, do que com concentração ou potência. Tem um pouco de diferença com outros anos mais quentes como 2020 ou 2017, em que tivemos complexidade, mas também concentração e potência. Em 2021, temos um caráter muito mais delicado e um padrão de taninos muito mais polidos, com grãos muito mais finos. O Almaviva sempre tem taninos macios e redondos, mas aqui acho que há algo mais. Tem um caráter muito mais polido, que o torna mais acessível e fácil de compreender desde a primeira prova.

No sopé da Cordilheira dos Andes, Puente Alto é conhecido por cultivar o melhor Cabernet Sauvignon do Chile e um dos melhores do mundo — Foto: Divulgação
No sopé da Cordilheira dos Andes, Puente Alto é conhecido por cultivar o melhor Cabernet Sauvignon do Chile e um dos melhores do mundo — Foto: Divulgação

Michel Friou diz que o vinho está pronto para ser apreciado, em razão da suavidade de seus taninos:

— Como é um vinho jovem, então temos mais fruta vermelha, fruta preta, amoras, cassis, algum alcaçuz, mas ainda não estamos na complexidade dos vinhos com 10 ou 20 anos, que terão aromas diferentes . Acho que a grande diferença está mais na textura, na suavidade dos taninos, no equilíbrio que o diferencia. É um vinho que estagiou cerca de 20 meses em barricas de carvalho francês, 75% barricas novas. Obviamente, você sente o caráter tostado, o caráter de torrefação, mas um caráter que vai suavizando com o tempo. Ao mesmo tempo, é um vinho que está pronto. É muito fácil consumir hoje. Obviamente, se você quiser um nível de complexidade maior, se esperar 5 anos, 6 anos, 15 anos terá outra outra experiência, outra aventura.

Carménère no vinhedo: Almaviva 2021 tem 22% da uva em seu blend — Foto: Reprodução
Carménère no vinhedo: Almaviva 2021 tem 22% da uva em seu blend — Foto: Reprodução

Nome veio de um livro; desenhos da tradição Mapuche

Detalhe do rótulo do Almaviva — Foto: Reprodução
Detalhe do rótulo do Almaviva — Foto: Reprodução

O Almaviva foi batizado como um nome que pertence à literatura clássica francesa. O conde Almaviva é o herói de "As bodas de Fígaro", famosa peça do dramaturgo Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1732 - 1799), que foi posteriormente transformada em ópera por Mozart.

As origens chilenas também são representadas no rótulo, com três reproduções de um desenho estilizado que simboliza a visão da terra e do cosmos na civilização pré-hispânica.

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