A prisão do delegado Rivaldo Barbosa pela Polícia Federal como suspeito do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes explica o porquê de tantos inquéritos envolvendo matadores por encomenda ficarem nos escaninhos da Delegacia de Homicídios sem resposta até hoje. Veio da delação do assassino confesso da morte da parlamentar, o ex-policial militar Ronnie Lessa, a informação de que integrantes da Polícia Civil recebiam pagamentos para não elucidar o caso, um deles, o próprio Rivaldo.
Os dados foram checados pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), que confirmaram alguns dos pagamentos ao ex-chefe de Polícia Civil. As duas instituições foram responsáveis pelas prisões dos suspeitos de serem os mandantes, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e seu irmão Chiquinho Brazão, além do próprio Rivaldo.
As buscas, realizadas na manhã deste domingo, nas casas do delegado Giniton Lages e do comissário de Polícia Civil Marco Antônio de Barros Pinto, que atuaram na primeira fase do caso Marielle, reforçam a suspeita da atuação da DHC para atrapalhar o caso. A partir das buscas realizadas hoje, a PF pretende descobrir outras pessoas suspeitas não só de criar obstáculos nas investigações do duplo assassinato da parlamentar e do motorista, mas também de outros crimes. Isso prova, mais uma vez, que a morte de Marielle desvendou o submundo do crime e das ligações de policiais corruptos com organizações criminosas.
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Segundo fontes que investigam o caso, as colaborações de Lessa e Élcio de Queiroz foram contundentes e confirmadas, em sua maioria, com provas robustas pelos agentes federais. Rivaldo é classificado na denúncia como partícipe do crime, na linguagem jurídica, como um garantidor de que o crime não seria elucidado. Daí a farsa montada, em maio de 2018, menos de dois meses após a execução da vereadora e seu motorista.
Na época, Rivaldo levou a testemunha Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, para Giniton e Marco tomarem seu depoimento. A falsa testemunha apontou o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, e o vereador Marcello Siciliano, como autor e mandante do crime. Tudo não passava de uma cortina de fumaça ou, "embuchamento", no jargão policial, para que o caso fosse atribuído a eles e encerrado rapidamente. Havia grande clamor público pela elucidação da morte de uma vereadora preta, mulher, favelada, LGBTQIAP+ e combativa em suas lutas de classe.
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Rivaldo era uma pessoa de frente para os holofotes, outra diante de cúmplices
Rivaldo foi escolhido um dia antes do assassinato de Marielle e Anderson para ser chefe de Polícia Civil, durante a intervenção federal, no dia 13 de maraço de 2018. Seu nome foi indicação do general Richard Nunes, que assumira a Secretaria de Segurança Pública, durante a administração do interventor federal, o general quatro estrelas Walter Nunes Baga Netto. Nessa época, diante da pressão, ele fazia o papel de que o caso seria desvendado brevemente. Chegou a se reunir com dirigentes do PSOL em seu gabinete e afirmar, diante da imprensa, que estava no "caminho certo" para chegar aos assassinos e mandante.
Caso Marielle: supostos mandantes do crime são presos no Rio de Janeiro
![Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do RJ, chegando na sede da Polícia Federal — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/KgPzefh96FW-BZSxNYHSDoZ7k4E=/0x0:1667x981/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/o/c7SUYqTQuO28GO90q1mw/106355533-ri-rio-24-03-2024-caso-marielle-franco-pf-prende-supostos-mandantes-do-assassinato-de.jpg)
![Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do RJ, chegando na sede da Polícia Federal — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/ixGnwJuU5GAd_lRC2wnoLIs_Ozo=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/o/c7SUYqTQuO28GO90q1mw/106355533-ri-rio-24-03-2024-caso-marielle-franco-pf-prende-supostos-mandantes-do-assassinato-de.jpg)
Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do RJ, chegando na sede da Polícia Federal — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
![Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, chegando na sede da PF — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/CHJx3CKSHh2FS7snbmbBzgjloV4=/0x0:1406x867/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/W/f/A3RZKIQ9qXKoRPJLDENw/106355226-ri-rio-24-03-2024-caso-marielle-franco-pf-prende-supostos-mandantes-do-assassinato-de.jpg)
![Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, chegando na sede da PF — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/54rzkoMZluIzfdF61cTPfOH74OY=/1406x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/W/f/A3RZKIQ9qXKoRPJLDENw/106355226-ri-rio-24-03-2024-caso-marielle-franco-pf-prende-supostos-mandantes-do-assassinato-de.jpg)
Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, chegando na sede da PF — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
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![Rivaldo Barbosa chega no IML para fazer corpo de delito em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/oQsZnR-Bklnj-XNrMMZxFaiOYPU=/0x0:3049x2033/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/9/9/T85VBFRXm2PLtlIbJ4kw/bren1018.jpeg)
![Rivaldo Barbosa chega no IML para fazer corpo de delito em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/z7KHyXWx6zdeTeEGzAUclusWraU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/9/9/T85VBFRXm2PLtlIbJ4kw/bren1018.jpeg)
Rivaldo Barbosa chega no IML para fazer corpo de delito em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
![Chiquinho Brazão deixa IML após fazer corpo de delito em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/H_tC0bM6y4Z79uJ-C6axtsoQlBU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/D/b/8Ag9zaTAiEsBX9lALzxg/bren1046.jpeg)
Chiquinho Brazão deixa IML após fazer corpo de delito em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
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![Deputado Chiquinho Brazão deixa o IML, em Brasília — Foto: Cristiano Mariz](https://s2-oglobo.glbimg.com/9_r01EarWtLLVZ0c9YFpINFDvIM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/m/j/7NtgkJRA6ZAAjejBgonQ/whatsapp-image-2024-03-24-at-5.10.21-pm.jpeg)
Deputado Chiquinho Brazão deixa o IML, em Brasília — Foto: Cristiano Mariz
![Ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa no IML, em Brasília — Foto: Brenno Carvalho](https://s2-oglobo.glbimg.com/OXyWE1Wfr-Xzvpp-wUh7f-0oY90=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/b/z/5IaV1fTbmanDGoVq0TLA/whatsapp-image-2024-03-24-at-5.19.56-pm.jpeg)
Ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa no IML, em Brasília — Foto: Brenno Carvalho
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![Fachada da casa do Domingos — Foto: Márcia Folleto](https://s2-oglobo.glbimg.com/LpX5MWUle-MF2QM3Y0nRbHzI_Rs=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/a/9/TO9rOpRg6x95LiQVW1MA/whatsapp-image-2024-03-24-at-09.36.02.jpeg)
Fachada da casa do Domingos — Foto: Márcia Folleto
![Endereço do Chiquinho Brazão — Foto: Mácia Folleto](https://s2-oglobo.glbimg.com/EL6EaVvxLt5KbTdzag_4J14EAmE=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/Q/c/ft72TWSAedqJRIY8BAZw/whatsapp-image-2024-03-24-at-10.04.10.jpeg)
Endereço do Chiquinho Brazão — Foto: Mácia Folleto
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No dia do crime, na noite de 14 de março de 2018, apesar de ser avisado do assassinato de uma vereadora e do motorista, por policiais e assessores, Rivaldo não se apressou para ir ao local do crime. Ele se encontrava num jantar com a mulher, num restaurante com a mulher, na Zona Oeste do Rio, e ignorou a importância do caso.
Outra evidência do desinteresse de Rivaldo na elucidação do crime, foi que quando O GLOBO descobriu duas testemunhas do caso, que estavam no momento da execução de Marielle e Anderson, o ex-chefe de Polícia desprezou a informação. Irritado, ele disse que não existiam tais testemunhas. Quando O GLOBO publicou a reportagem, a DHC decidiu procurar as testemunhas, as que tinham visto mais de perto a execução. A certeza da suposta participação de Rivaldo veio com a delação de Lessa.
Rivaldo é delegado desde 2012 e já foi professor de direito numa universidade fluminense. Por trabalhar por mais de seis anos na Delegacia de Homicídios e Divisão de Homicídios, entre 2012 e 2018, ele conhecia todas as técnicas de investigação. Esteve à frente de assassinatos importantes como o do policial militar, candidato a vereador e presidente da Portela, Marcos Falcon, em 2016; e do contraventor Haylton Escafura, filho de José Caruzzo Escafura, o Piruinha. Todos os casos sem esclarecimento até hoje.