Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

A investigação do assassinato do advogado Rodrigo Crespo trouxe à tona uma intrincada rede de ligações perigosas. Ao chegar ao cabo da Polícia Militar Leandro Machado da Silva, de 39 anos, como o responsável por coordenar a execução da vítima, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) acabou por descobrir um vínculo do policial com Vinicius Pereira Drumond — herdeiro do bicheiro Luiz Pacheco Drumond, que morreu devido a um AVC, em 2020 — e o contraventor Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho. Vinicius, Adilsinho e o bicheiro Rogério Andrade são conhecidos no universo da contravenção como "Santíssima Trindade".

Rodrigo foi executado, em plena luz do dia, na Avenida Marechal Câmara, a 50 metros da sede da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio, próximo ainda da Defensoria Pública e do Ministério Público do Rio. O crime ocorreu às 17h14 do último dia 26, quando um homem, usando uma balaclava, saiu de um Gol branco e dirigiu-se até a calçada, onde se encontrava o advogado, disparando 21 tiros contra a vítima. A Polícia Civil ainda não sabe o que motivou o crime.

Foragidos: Leandro Machado da Silva, à esquerda; e Eduardo Sobreira Moraes, suspeitos de envolvimento no assassinato de advogado — Foto: Reprodução
Foragidos: Leandro Machado da Silva, à esquerda; e Eduardo Sobreira Moraes, suspeitos de envolvimento no assassinato de advogado — Foto: Reprodução

O nome de Machado consta num grupo de amigos do WhatsApp, segundo a polícia, onde também aparece o cabo da PM Rafael do Nascimento Dutra, de 35, conhecido como Sem Alma, apontado como chefe da segurança de Adilsinho. As conexões não terminam por aí. Uma foto de Machado com Dutra, obtida pela DHC, também revela a amizade entre os dois, fortalecida no quartel do 15º BPM (Duque de Caxias), onde os caminhos se cruzaram.

Aliás, é na cidade de Duque de Caxias que fica o reduto de Adilsinho. O contraventor é suspeito de comandar a máfia do cigarro ilegal no município. Em maio de 2021, ele ficou conhecido pela festa de aniversário que patrocinou no Copacabana Palace, na Zona Sul do Rio, em plena pandemia, com trilha sonora do filme "Poderoso Chefão". Um dos convidados do bicheiro, inclusive, foi Sem Alma. Adilsinho também é apontado como o mandante dos assassinatos do miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, e de Alexsandro José da Silva, o Sandrinho, numa investigação da DHC, em novembro de 2022.

Advogado Rodrigo Marinho Crespo é executado a tiros no Centro do Rio — Foto: Reprodução
Advogado Rodrigo Marinho Crespo é executado a tiros no Centro do Rio — Foto: Reprodução

Catiri era braço direito do bicheiro Bernardo Bello, ex-genro de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, executado em 2004. Bello, que está foragido da Justiça, é inimigo do bicheiro Rogério Andrade. Este último foi preso em flagrante pela Polícia Federal, em agosto do ano passado, acusado de continuar no comando da contravenção. No local, uma casa em Petrópolis, os agentes encontraram uma lista com pagamento de propina para uma delegacia da Polícia Civil. Atualmente, Andrade faz uso de tornozeleira eletrônica e precisa se recolher até 20h. A DHC não encontrou, até o momento, ligação do bicheiro com a morte de Rodrigo Crespo.

Vinicius figura como vice-presidente da Imperatriz Leopoldinense. Além de Machado ser o chefe de segurança do herdeiro de Luizinho Drumond, o carro usado para fazer a vigilância do advogado foi alugado na mesma locadora que Vinicius tem contratos de aluguel como uma espécie de cliente vip. O dono da locadora informou, em seu depoimento a DHC, que foi Vinicius quem o apresentou a Machado. O advogado do filho de Luizinho Drumond, Carlos Lube, disse, em nota, que “não consegue vislumbrar qualquer possível relação (de seu cliente) com o advogado Rodrigo”

Vinicius Drumond é vice-presidente da Imperatriz Leopoldinense e herdeiro do bicheiro Luizinho Pacheco — Foto: Vera Araújo
Vinicius Drumond é vice-presidente da Imperatriz Leopoldinense e herdeiro do bicheiro Luizinho Pacheco — Foto: Vera Araújo

Em entrevista coletiva na segunda-feira (04/03), na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, para anunciar a identificação de dois dos três suspeitos do assassinato do advogado, o diretor do Departamento de Homicídios, delegado Felipe Curi, ressaltou que havia uma assinatura de determinado grupo criminoso investigado pela DHC. Curi referia-se justamente ao bando de Sem Alma. Nos bastidores, o novo grupo de matadores de aluguel do PM, que está foragido, é denominado como "Escritório do Crime 2".

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