Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

O ex-PM Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, é visto como peça-chave em assassinatos de repercussão no Rio. Não por acaso, sua morte é considerada queima de arquivo por um dos responsáveis pelo relatório da Polícia Federal que serviu de base para a prisão dos acusados de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes.

Segundo a delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de atirar na parlamentar e no motorista, Macalé, sargento da Polícia Militar fluminense, foi quem o procurou para cometer os assassinatos. O contato, segundo Lessa, aconteceu no segundo semestre de 2017.

Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes — Foto: Reprodução
Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes — Foto: Reprodução

Passatempo comum

Os investigadores observam que o deputado federal Chiquinho Brazão e Macalé têm um passatempo comum: são passarinheiros, criadores de aves. O gosto do político pela prática foi constatado em registros nas redes sociais.

Outra conexão entre eles não é tão singela: o agenciador Macalé era responsável pela milícia de Osvaldo Cruz, bairro da Zona Norte sob influência de Chiquinho e seu irmão Domingos Brazão, ambos hoje no presídio federal de Brasília, apontados como mandantes do duplo homicídio.

Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, foi executado em 2021

Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, foi executado em 2021

Para Lessa e Macalé, a recompensa pelo homicídio da parlamentar seria um loteamento na Zona Oeste, onde estariam livres para explorar serviços da milícia, como “gatonet”. Conforme o relatório, também coube a Macalé entregar uma metralhadora MP5, a preferida de Lessa, trazida da favela de Rio das Pedras e usada no crime.

No documento da PF consta ainda que o contraventor Bernado Bello foi outro a requisitar serviços de pistoleiros. Mais uma vez, Macalé fez a ponte com Lessa. A missão seria matar a ex-presidente do Salgueiro, Regina Celi Fernandes Duran, desafeto do bicheiro, o que não aconteceu.

Caso Marielle

Caso Marielle

Para a PF não há dúvidas de que Macalé era uma espécie de “corretor da morte”. Além de atuar na milícia da Zona Oeste, o sargento da PM também servia de intermediário entre quem queria encomendar um assassinato e quem executaria o serviço.

Lessa contou na colaboração que Macalé trouxe o pedido de Bello, que não tinha falado diretamente com o contraventor no primeiro contato. Coube ao chefe da segurança de Bernardo Bello, outro policial militar, José Carlos Roque Barboza, procurar o compadre Macalé. O réu no caso Marielle complementa dizendo que nem sabe se ambos realmente tinham essa relação de parentesco, mas era assim que Macalé tratava Roque. Macalé foi executado em Bangu, na Zona Oeste do Rio, em novembro de 2021. A Delegacia de Homicídios da Capital informou que já há um suspeito — ou seja, por enquanto ninguém foi indiciado. Quando foi morto, Macalé carregava três gaiolas com passarinhos.

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