Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

RESUMO

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GERADO EM: 15/08/2024 - 21:09

Críticas e revelações no caso Marielle: negligência e conexão com milícias.

Agente federal critica investigações da Delegacia de Homicídios no caso Marielle, apontando negligência. Revelações sobre ligação da morte de Marielle com milícias e grupo de matadores. Depoimentos extensos na audiência do STF sobre mandantes do crime. Contexto de milícias e envolvimento político. Réus presos assistem às audiências de penitenciárias federais. Troca de afeto entre familiares de réus durante a sessão.

O agente federal Marcelo Pasqualetti, quarta testemunha a ser ouvida na audiência de instrução e julgamento sobre os mandantes do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, na tarde desta quinta-feira, criticou as investigações feitas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) no período dos delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages. Segundo o policial federal, os casos envolvendo a contravenção e as milícias não chegavam a uma autoria na época deles.

— A morte de Marielle é decorrente desse balcão de negócios da DH Capital, na gestão dos delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages. Isso perdurou por bastante tempo — disse Pasqualetti, que lembrou do inquérito do homicídio do contraventor José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, genro do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, assassinado num centro espírita na Praça Seca, em 2004.

Neste episódio, Pasqualetti afirmou que, a exemplo do caso Marielle, os dois delegados teriam sido pouco diligentes durante a apuração do crime. Segundo ele, logo após a morte de Zé Personal, houve uma ligação para o Disque Denúncia, já informando os nomes de alguns suspeitos, como o ex-capitão Adriano da Nóbrega, o tenente João André Fernandes e um "paraíba". O agente federal lembra que, apesar de haver a informação, com apenas o erro de uma palavra no endereço de "paraíba", a DHC não procurou pela pessoa certa de imediato. Esse suspeito seria Leonardo Gouvêa, o Mad.

Pasqualetti também ressaltou que Mad, assim como o ex-capitão Adriano, pertenciam ao Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel que só veio à tona com a morte de Marielle. Adriano, morto em fevereiro de 2020, e comandava o grupo de sicários.

— Até hoje esse assassinato (de Zé Personal) não foi elucidado, como muitos outros desse período — ressaltou o agente federal, que atuou nas investigações do caso com o delegado da PF Guilhermo de Paula Catramby, responsável pelo inquérito sobre os mandantes do duplo homicídio.

Catramby concluiu, por volta das 15h, seu depoimento iniciado na terça-feira (13/08). Foram onze horas respondendo às perguntas de acusação e defesa. O delegado definiu a atuação da milícia na região de Jacarepaguá quando um dos advogados de Domingos, Márcio Palma, lhe perguntou como seu cliente foi citado pela CPI das Milícias, em 2008. A defesa pretendia mostrar que Domingos não fora definido no relatório como um "miliciano". O investigador explicou que, na época, o miliciano era apontado como a pessoa que dominava territórios com o uso de armamento. No entanto, tal definição foi ampliada desde então:

— Não há milícia sem todo o amparo de agentes públicos e, sobretudo, sem apoio de personagens do Poder Legislativo — afirmou Catramby, ressaltando que os irmãos Brazão, pelo que constatou, tinham interesse na morte de Marielle Franco, conforme escreveu em seu relatório que serviu de base para o indiciamento dos mandantes do crime.

A audiência de instrução e julgamento foi conduzida pelo desembargador Airton Vieira, pelo quarto dia consecutivo. Participaram ainda da sessão o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão; seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão; o delegado Rivaldo Barbosa; o policial reformado Robson Calixto Fonseca, o Peixe; e o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, com suas defesas. Pela acusação, estavam o procurador Olavo Pezzotti, da Procuradoria-Geral da República, e as assistentes de acusação de Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado que vitimou Marielle e Anderson.

Os réus, que estão presos, puderam assistir das penitenciárias federais onde se encontram: Domingos, na de Porto Velho (RO); Chiquinho, na de Campo Grande (MS); Rivaldo, do presídio de Brasília. Ronald e Peixe também se encontram em unidades federais.

No início e no fim da audiência desta quinta-feira, parentes dos réus, que acompanhavam os depoimentos como ouvintes, trocaram acenos e beijos. Foram os casos dos próprios irmãos Domingos e Chiquinho, e deste último com sua esposa e filha. A esposa do ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa, Erika Barbosa, também acenou para o marido.

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