Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

RESUMO

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GERADO EM: 31/08/2024 - 04:31

Depoimento revela contradições na investigação do assassinato de Marielle no STF

Em depoimento no STF, Élcio revela que assassino de Marielle, Lessa, se preocupou com digitais na arma, descartando-a no mar. Depoimento contradiz versão de Lessa sobre a entrega da arma. Testemunha destaca meticulosidade de Lessa. Réus incluem Domingos Brazão, Chiquinho Brazão, Rivaldo Barbosa, Robson Calixto e major Ronald Paulo. Próxima audiência será em setembro.

O assassino confesso Ronnie Lessa ficou preocupado ao saber que havia vestígios de digitais em cápsulas encontradas no local onde a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram executados, no Estácio, Zona Norte do Rio. A informação foi prestada pelo réu colaborador Élcio de Queiroz nesta sexta-feira (30/08), no primeiro dia de seu depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), na ação penal contra os mandantes do duplo homicídio. O delator revelou que, em uma conversa com Lessa, ele lhe confidenciou ter manuseado as balas ao municiar a submetralhadora HK MP5, arma usada no crime, sem o uso de luvas.Caso Marielle: Lessa deixa escapar que está proibido de falar de Rogério de Andrade, cujo teor está sob sigilo

O depoimento de Élcio derruba a versão de Lessa, outro réu colaborador, de que os mandantes lhe entregaram a arma já municiada. Além disso, o assassino confesso, que também depôs esta semana, afirmou ter sido obrigado a devolver a submetralhadora na favela Rio das Pedras, na Zona Oeste, acompanhado do amigo Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, logo após o crime. No local, segundo Lessa, estavam Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho — miliciano de Rio das Pedras preso na Operação Intocáveis I, em 2019 — e Robson Calixto Fonseca, o Peixe, que já foi assessor do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), Domingos Brazão.

— Ele (Lessa) me contou que tinha municiado a arma e que, por isso, estava preocupado com a possibilidade de suas digitais estarem parciais na cápsula, porque não usou luvas — relembrou Élcio.

O réu colaborador Ronnie Lessa depõe na audiência do STF — Foto: Reprodução
O réu colaborador Ronnie Lessa depõe na audiência do STF — Foto: Reprodução

Segundo Élcio, Lessa também contou que descartou a submetralhadora no mar, pegando uma lancha e lançando-a nas águas da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, a mais de 30 metros de profundidade.

— Ele disse que, antes de descartar a arma, ele serrou a submetralhadora em diversas partes, pegou uma embarcação e jogou no mar da Barra da Tijuca, na parte mais profunda. Quando perguntei se ele iria vender a arma, ele respondeu: "Tá doido? Eu serrei ela todinha e joguei no mar" — relatou o delator.

Uma das defesas questionou então se um "matador profissional e meticuloso" como Lessa aceitaria uma arma de terceiros para realizar o "serviço". Élcio respondeu que achava difícil, mas não impossível.

— Acredito que ele só aceitaria se ele mesmo verificasse a arma em todos os sentidos: desmontar, montar e até municiar. Com certeza, municiar principalmente. Ele é muito meticuloso — disse Élcio, lembrando que Lessa possuía sua própria HK MP5.

São réus na ação penal contra os mandantes: Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão; o ex-chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa; Robson Calixto Fonseca e o major Ronald Paulo Alves Pereira.

Élcio é a décima primeira testemunha de acusação a ser ouvida pelo STF. Ele voltará a depor na audiência de instrução e julgamento na próxima segunda-feira (02/09), para responder a perguntas da defesa do delegado Rivaldo Barbosa. As sessões serão retomadas no dia 09 de setembro, com os depoimentos das testemunhas de defesa.

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