Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

RESUMO

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GERADO EM: 30/08/2024 - 04:31

Armas de Ronnie Lessa desaparecidas após prisão

No caso Marielle, Ronnie Lessa afirmou que suas armas sumiram ao ser preso, acusando delegado de tê-las levado. A apreensão das armas em sua casa não foi realizada conforme documentado. Lessa negou retirada de armas de outro imóvel após sua prisão. Depoimentos e investigações em andamento.

No terceiro e último dia de seu depoimento, o réu colaborador Ronnie Lessa pode ter mentido ou se equivocado ao afirmar que as armas que mantinha como colecionador em sua casa na Barra da Tijuca desapareceram no dia de sua prisão, em 12 de março de 2018. Nesta quinta-feira, ao responder a perguntas dos advogados de defesa dos réus acusados de mandarem matar a vereadora Marielle Franco, o delator acusou o delegado Giniton Lages, então titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), de ter sumido com oito de suas armas: três pertencentes à Polícia Civil e cinco de sua coleção particular, já que Lessa possuía registro de CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador).

O assassino confesso de Marielle e do motorista Anderson Gomes afirmou que a única arma apresentada no processo foi a pistola que ele carregava enquanto tentava fugir do condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste, onde morava, na madrugada de sua prisão. Nesse dia, foram apreendidos ainda três celulares no modo avião, além de chips e uma quantia em dinheiro. A operação para a prisão de Lessa foi antecipada em um dia devido ao vazamento da informação. No mesmo dia, o ex-PM Élcio de Queiroz, que admitiu em acordo de colaboração premiada que dirigiu o carro no dia do crime, também foi detido ao chegar em casa, no Méier, Zona Norte do Rio.

Ao ser questionado sobre as armas apreendidas em sua casa no dia da prisão, Lessa mencionou o suposto sumiço:

— Isso é um mistério até hoje, porque nunca apresentaram nada além de uma pistola. Apresentaram a pistola que estava comigo na hora da prisão, uma calibre .380. E nunca mais apresentaram nada. O delegado Giniton Lages me disse, na cela, que as armas estavam apreendidas em auto próprio (registro separado). Esse auto próprio nunca apareceu. Nenhuma arma apareceu, ou seja, a única arma que eles apreenderam foi uma. Na verdade, duas. Minha .380 e uma segunda arma que apareceu: uma carcaça de calibre .22, que pertencia à minha avó — afirmou Lessa.

Arsenal de Lessa

Durante seu depoimento, o delator listou as armas que disse lhe pertencerem. O pedido foi feito pelo advogado Murilo de Oliveira, que defende o deputado federal Chiquinho Brazão. O parlamentar, seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão, e o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa são réus na ação penal como mandantes do duplo homicídio. O colaborador afirmou que algumas das armas pertenciam ao seu acervo pessoal, sendo algumas da Polícia Civil e outras catalogadas pelo Exército:

— Eram duas pistolas .380 e duas espingardas. Pelo meu CR (certificado de registro) do Exército, havia duas pistolas calibre .45 de tiro prático; uma submetralhadora HK MP5 calibre .22; um fuzil Ruger calibre .223; e uma réplica de AR-15 calibre .36 — afirmou Lessa.

No entanto, no dia da apreensão, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e policiais militares da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do Ministério Público do Rio (MPRJ) acompanharam a ação na casa do colaborador realizada pela Polícia Civil. Foi constatado que não havia armas no local, embora elas estivessem apostiladas e registradas no Exército, conforme documentos encontrados na residência. A imprensa, que cobriu a prisão de Lessa, transmitiu ao vivo imagens da operação na casa, inclusive com o uso de helicópteros. Até o quintal do imóvel foi escavado, onde se encontrou um compartimento enterrado, mas vazio.

Prosseguindo no assunto das armas, o advogado perguntou ao réu colaborador sobre a suposta retirada de armamentos de um de seus imóveis, no Pechincha, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, um dia após sua prisão. Em 13 de março de 2018, a polícia obteve um vídeo que mostrava José Márcio Mantovano, conhecido como Márcio Gordo, amigo de Lessa, saindo do condomínio com uma caixa. Na época, a DHC informou à imprensa que havia a possibilidade de que a caixa contivesse a submetralhadora HK MP5, a arma usada para matar Marielle e o motorista Anderson Gomes.

— Doutor, isso é uma especulação muito grande, tá? Nenhuma arma foi retirada. Como disse anteriormente, mandei que retirassem de lá uma certa quantia de dinheiro e o restante das bolsas que estavam lá, que eram só cacos velhos, e que foram jogadas fora. Mas não havia nenhuma arma — declarou o assassino confesso.

As defesas do réu colaborador e de Giniton Lages foram procuradas pelo blog Segredos do Crime, mas não se pronunciaram até o momento.

Caso Marielle Franco:  Élcio Queiroz preso em presídio federal — Foto: Reprodução
Caso Marielle Franco: Élcio Queiroz preso em presídio federal — Foto: Reprodução

Nesta sexta-feira, será o depoimento do réu colaborador Élcio de Queiroz. O primeiro a fazer perguntas será o promotor Olavo Evangelista Pezzotti, representante da Procuradoria-Geral da República. Em seguida, a sabatina ficará por conta dos assistentes de acusação das famílias das vítimas: Marinete Silva, mãe de Marielle; Ághata Arnaus, viúva de Anderson; e da sobrevivente Fernanda Chaves. Por último, os advogados de defesa ficam livres para arguir a testemunha. A audiência de instrução e julgamento está sendo presidida pelo desembargador Aírton Vieira, representante do relator, o ministro do STF Alexandre de Moraes.

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