Marombeiro, estudante, porteiro. Segundo Ronnie Lessa, réu colaborador na ação penal relacionada aos mandantes do homicídio de Marielle Franco, havia um integrante no Escritório do Crime especializado em se disfarçar: Diego Lucas Pereira, conhecido como Playboy. Em depoimento prestado na tarde desta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF), o delator afirmou que Playboy se infiltrou em uma academia de ginástica, em Ipanema, para monitorar e matar o pecuarista Rogério Mesquita, administrador dos negócios da família de Waldomiro Paes Garcia, o Maninho.
Mesquita foi assassinado em 24 de janeiro de 2009, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, sob o olhar incrédulo de babás que colocavam os bebês para tomar sol. O crime não foi elucidado, mas, em seu depoimento nesta quarta-feira, Lessa revelou que o assassinato foi cometido por Playboy, que havia se matriculado na mesma academia do pecuarista. Antes de sua morte, Mesquita já havia sofrido um atentado em Cachoeira de Macacu, após uma exposição de gado. Após a tentativa de homicídio, ele procurou a polícia e acusou o ex-capitão Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime.
Segundo Lessa, Playboy era o mais jovem do grupo, louro, o que lhe permitia infiltrar-se com facilidade. O réu colaborador afirmou que, em uma ocasião, Playboy se disfarçou com uniforme de colégio público.
— Rogério Mesquita foi morto pelo Playboy, que malhava na mesma academia. Ele fazia parte do núcleo inicial do Escritório do Crime. Teve uma vez em que colocaram um dos integrantes para matar o Nadinho de Rio das Pedras (Josivaldo Francisco da Cruz, ex-vereador assassinado em 2010), no condomínio Rio 2, na Barra da Tijuca. Conseguiram estacionar o carro ao lado do dele porque havia um infiltrado vestido de porteiro. Em outra ocasião, Playboy se disfarçou de estudante, usando uniforme. Quem imaginaria que na mochila de um estudante haveria uma arma? — afirmou Lessa em seu depoimento na audiência de instrução e julgamento no STF.
Os réus nessa ação penal são os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e deputado federal, respectivamente —, o delegado Rivaldo Barbosa, os policiais militares Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, e o major Ronald Paulo Alves Pereira. Até a tarde desta quarta-feira, nove pessoas foram ouvidas na audiência, presidida pelo desembargador Aírton Vieira, responsável pelo processo sob a relatoria do ministro do STF Alexandre de Moraes.