Segredos do crime
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 22/08/2024 - 04:30

Delegado revela conexões perigosas no submundo criminal

Em depoimento ao STF, delegado revela interesse especial de ex-chefe da DH em investigações. Miliciano acusa propina para evitar investigação de homicídios. Revelações sobre a morte de Marielle e conexões perigosas no submundo criminal. Secretaria de Polícia Civil questiona credibilidade das declarações. Defesas mantêm silêncio diante das acusações.

A demora nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, já provocou justos protestos, mas, por outro lado, seu lento desenrolar pode ajudar a desvendar outros pontos sensíveis do submundo em que este crime se insere. Nos oito dias da audiência de instrução e julgamento dos mandantes do homicídio, feita por videoconferência, pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, denunciou em detalhes alguns casos de corrupção na Divisão de Homicídios da Capital (DHC), que foi comandada pelo delegado Rivaldo Barbosa — réu, no caso, junto com os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e deputado federal, respectivamente.

Curicica afirmou que o contraventor Rogério de Andrade teria desembolsado R$ 500 mil à delegacia especializada para não ser investigado como mandante no homicídio do sargento reformado Geraldo Pereira, morto em março de 2016, numa academia de ginástica no Recreio dos Bandeirantes.

— Quando mataram o meu amigo Pereira, mandei um recado dizendo que iria depor. Eles (policiais) pegaram o meu recado e o mostraram para Rogério de Andrade. Então, o Flávio Pepe (Flávio da Silva Santos, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel), braço direito do contraventor, me procurou, abriu a bolsa e me mostrou que estava cheia de dinheiro. Ele disse que havia R$ 500 mil e que aquilo era para a Delegacia de Homicídios não levar adiante o que eu dissesse — disse Curicica, na parte de seu depoimento feita ontem, respondendo ao promotor de Justiça Olavo Evangelista Pezzotti.

O primeiro suspeito

Curicica foi o primeiro a ser investigado apelo homicídio de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Em maio de 2018, o então policial militar Rodrigo Ferreira, rival de Curicica, procurou três delegados da Polícia Federal para apontá-lo como autor do crime, com o então vereador Marcelo Siciliano, como mandante. Ferreira foi levado pelo delegado Rivaldo Barbosa, na época chefe de Polícia Civil, para prestar depoimento ao titular da DHC, delegado Giniton Lages. A Polícia Federal descobriu se tratar de uma farsa. No entanto, inquéritos foram instaurados contra Curicica, que estava preso por porte ilegal de arma. Ele acusa Giniton de forçá-lo a assumir a morte da parlamentar.

Curicica foi transferido para uma penitenciária federal, onde está até hoje. Chegou a responder por 15 crimes, entre homicídios e organização criminosa, e é apontado como chefe de milícia de Curicica, em Jacarepaguá, e do Terreirão, no Recreio. Ele nega.

Ontem, o delegado Brenno Carnevale, também ouvido como testemunha, fez revelações que corroboraram algumas respostas dadas por Curicica antes dele. Carnevale, que atuou na DHC de agosto de 2016 a março de 2018, contou que, ao assumir o caso do sargento Pereira, observou que havia apenas seis ou sete páginas de investigação, sem o depoimento, por exemplo, da principal testemunha: Hélio Machado da Conceição, o Helinho, ex-policial civil que estava ao lado de Pereira no dia do crime. Helinho fazia parte do grupo de policiais conhecidos como “inhos”, investigados por corrupção e formação de quadrilha, na operação Segurança Pública SA, em 2008, da Polícia Federal. Os agentes da Polícia Civil foram excluídos da corporação.

Carnevale ressaltou que “era fato público e notório” que Helinho era ligado à contravenção.

—Eu determinei a oitiva dele de imediato. Em tese, ele foi ferido com um tiro na perna, enquanto o Pereira, sentado ao lado dele, tomou 89 tiros — lembrou Carnevale. — Houve a apreensão de HD ou pendrive com as imagens da cena do crime, mas isso nunca foi encontrado na delegacia — acescentou.

Perguntado se havia buscado pelo material, o delegado respondeu ao promotor:

—Perguntei no cartório e falavam, não, está com o pessoal que estava investigando. Aí, o pessoal que estava investigando dizia que tinha mandado para o cartório. Aí, o cartório dizia que tinha mandado para o GIC (Grupo de Investigação Complementar). O GIC dizia que tinha mandado para o cartório. Enfim, ficava esse desencontro de informações e não apareciam.

Segundo Carnevale, como ele era responsável por investigar crimes envolvendo agentes públicos, no caso, policiais e mesmo ex-policiais, um dos casos que ficou sob sua alçada foi o do subtenente da Polícia Militar Marcos Falcon, presidente da Portela, assassinado em setembro de 2016, logo que chegou à DHC. O delegado afirmou que, fugindo da rotina da titularidade da delegacia, Rivaldo Barbosa o acompanhou.

— A minha relação profissional com o doutor Rivaldo era adstrita à unidade policial. Sobre as investigações presididas por mim, me recordo de Rivaldo ter me chamado para ir comigo até o local da morte do Falcon — ressaltou o delegado. — Umas três ou quatro vezes ele me pedia que o avisasse, caso eu fosse pedir alguma medida cautelar (no caso do Falcon), que eu o avisasse, que ele iria pessoalmente comigo no Ministério Público — explicou Carnevale, que usou o termo “monitoramento” para se referir à relação de Rivaldo com o caso da morte de Falcon.

Perguntado pelo defensor público Pedro Paulo Lourival Carrielo , assistente de acusação de Marinete Silva, mãe de Marielle, e de Ághata Arnaus, esposa do motorista Anderson Gomes — morto junto com a vereadora — , se lembrava se a DH recebera algum tipo de “adjetivação” por parte de testemunhas no caso do Falcon, Carnevale respondeu:

— Uma das filhas da vítima (Falcon) demandou um esforço para confiar em mim. Ela disse que, pelo que sabia, ‘toda a DH era vendida’ — recordou-se.

Esclarecimentos

A Polícia Civil informou por nota: “No que diz respeito ao depoimento do miliciano citado, a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que a declaração, por si só, tem pouco ou nenhum crédito se não tiver outros elementos que corroborem as afirmações.”

O blog Segredos do Crime procurou os advogados das partes, mas apenas Marcelo Ferreira, que defende Rivaldo, se pronunciou:

— O depoimento da testemunha Orlando Oliveira não tem qualquer fundamento. Essas declarações já haviam sido dadas por Curicica à Polícia Federal.

As defesas de Flávio dos Santos, Rogério de Andrade e Giniton Lages não quiseram se pronunciar a respeito.

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