Sonar - A Escuta das Redes
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Sonar - A Escuta das Redes

Um mergulho nas redes sociais para jogar luz sobre a política na internet.

Informações da coluna

A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que não havia "nada de anormal" no pleito que declarou a vitória de Maduro nas eleições na Venezuela foi usada como munição para ataques da oposição. Levantamento da consultoria Bites identificou que a fala gerou 68,7% de menções negativas no X (antigo Twitter) nos últimos três dias, percentual superior aos ataques direcionados ao petista na visita de Maduro ao Brasil, em maio de 2023, quando foram 59,1% de comentários negativos relacionados ao presidente.

— As buscas no Google sobre Lula estão fortemente impactadas por essa agenda negativa e quando alguém procura algo sobre o presidente aparecem conteúdos sobre essa relação do Brasil com a Venezuela — pontua Manoel Fernandes, sócio e CEO da Bites.

O levantamento identificou ainda uma repercussão negativa da declaração de Lula no noticiário da América Latina, com 3.700 reportagens sobre a relação de Lula com Maduro sendo retratada de forma negativa. O PT, partido do presidente, também divulgou uma nota reconhecendo a reeleição do presidente venezuelano. Em nota assinada pela executiva nacional, a legenda classificou o processo eleitoral do país vizinho como uma "jornada pacífica, democrática e soberana" e disse que espera que o governo eleito "continue o diálogo com a oposição". Por meio do comunicado, a sigla manteve o alinhamento com o governo de Maduro, sustentado historicamente pela legenda e também por sua presidente, a deputada federal Gleisi Hoffmann.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), responsável por organizar o pleito, consagrou a vitória de Maduro para um terceiro mandato de seis anos sem apresentar os boletins das urnas e com apenas 80% de votos apurados. O resultado foi amplamente contestado por grande parte da comunidade internacional e pela oposição — unida em torno do candidato Edmundo González Urrutia, substituto da líder María Corina Machado, que foi inabilitada de concorrer pela Justiça, controlada pelo chavismo, apesar da vitória acachapante nas primárias no ano passado.

Uma onda de protestos tomou as ruas desde então, com ao menos 11 mortos e 711 detidos identificados, dentre eles 74 menores, segundo a ONG Foro Penal. Cinco estátuas do ex-presidente Hugo Chávez, padrinho político de Maduro, foram derrubadas durante as manifestações.

O presidente brasileiro, durante uma entrevista, minimizou a crise no país vizinho e disse não ver "nada de grave" ou " de assustador" na situação. Também afirmou que o processo eleitoral foi "pacífico" e que "não houve violência".

— O Tribunal Eleitoral reconheceu o Maduro como vitorioso, e a oposição ainda não. Então, tem um processo. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial, mas não tem nada de anormal — disse Lula. — Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Tem uma eleição, tem uma pessoa que disse que teve 41%, teve outra pessoa que disse que teve 50%, entra na Justiça e a Justiça faz.

Lula disse que é "obrigação" reconhecer o resultado das eleições após a divulgação das atas.

— Na hora que forem apresentadas as atas e for consagrado que as atas são verdadeiras, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela. Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance de tranquilidade para governar a Venezuela ele terá — disse.

Ele afirmou, ainda, que o o presidente venezuelano "sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver", mais tranquilidade em governar o país.

— Acho que é preciso acabar com a ingerência externa em outros países. A Venezuela tem o direito de construir seu momento de crescimento sem que haja bloqueio — declarou o petista.

Histórico de desgastes

Esta não é a primeira vez que a associação entre a imagem de Lula com a do presidente Venezuelano traz um revés político para o brasileiro. Em 2023, a visita de Maduro ao Brasil foi mal recebida nas redes sociais e, entre as 326 mil menções ao assunto, 59% tiveram conotação negativa, contra 35% de teor informativo e somente 6% de menções positivas. Os dados são de um levantamento realizado pela consultoria Quaest.

Ainda segundo a pesquisa, o alcance das postagens foi de 530,3 milhões de visualizações, sendo a publicação negativa com maior alcance a do senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), que criticou as honrarias recebidas por Maduro em solo brasileiro.

Entre as dez contas que mais repercutiram entre as que mencionaram o assunto nesta segunda, sete eram críticas, e somente uma positiva, a da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. As demais, neutras.

Um outro levantamento da consultoria Arquimedes, que monitorou as redes sociais por 24 horas após o desembarque de Maduro no Brasil, registrou cerca de 260 mil postagens em português que mencionavam o líder venezuelano, sendo a maioria de tom negativo. Do total, aproximadamente 81% dos perfis que abordaram o assunto eram da oposição ao chefe do Executivo, que aproveitaram o tema como uma oportunidade para criticar a reaproximação entre os governos brasileiro e venezuelano.

Do outro lado do debate, a análise da Arquimedes apontou que a base governista enfrentou dificuldades ao tentar defender a visita de Maduro ao Brasil no X. Isso porque, apesar das diversas publicações do perfil do presidente Lula apresentando argumentos a favor do encontro, foram poucos perfis de grande alcance que se manifestaram em apoio a ele.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO já apontaram que declarações de Lula favoráveis a Nicolás Maduro era alguns dos fatores que afastavam o brasileiro do posto de líder regional. Lula chegou a chamar de “narrativa” as acusações de que o governo de Maduro viola os direitos humanos, durante a recepção ao político venezuelano no Brasil, e que o conceito de democracia é algo “relativo”.

Maduro não vinha ao país desde 2015, quando participou da posse do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment no ano seguinte. Sua presença no país não era permitida desde agosto de 2019, quando uma portaria editada pelo então presidente Jair Bolsonaro proibia o ingresso no país do líder venezuelano e de outras autoridades do vizinho latino-americano.

Ainda em 2023, durante declaração conjunta à imprensa, Lula fez fortes críticas aos EUA pelo embargo econômico ao país vizinho, afirmando que as sanções econômicas são "pior do que uma guerra", e chamou de "narrativas" as acusações de que a Venezuela não vive sob um regime democrático. Lula também afirmou que a visita de Maduro ao Brasil foi um "momento histórico" e que o país recuperou o direito de fazer "política com seriedade" ao abrir um canal de diálogo com a Venezuela.

Uma das principais prioridades de Lula é recompor o vínculo entre Brasil e Venezuela. Isso se deve não apenas ao fato de o presidente brasileiro considerar o país um parceiro importante na região, mas também porque, no contexto atual marcado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, retomar o relacionamento bilateral com Caracas é visto como estratégico tanto pelo presidente quanto por seus assessores internacionais.

Em uma das reuniões da cúpula do Mercosul, realizada na Argentina em julho de 2023, as declarações pró-Venezuela do presidente Lula voltaram ao centro do debate. Enquanto o petista criticou a tentativa de isolamento do país, que enfrenta uma série de denúncias de violações de direitos humanos, os presidentes do Uruguai e Paraguai expressaram "preocupação" com a inabilitação política da pré-candidata da oposição à Presidência da Venezuela María Corina Machado, que não pôde concorrer ao pleito contra Maduro.

Repercussão

Embora Lula não dê indicação de que irá alterar a rota, a avaliação no Planalto é que a Venezuela se transformou num dos assuntos internacionais com maior repercussão, devido à exploração feita pela base do ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaristas usaram novamente as redes sociais nesta semana para criticar as falas dele sobre o assunto, como o deputado federal Delegado Éder Mauro (PL-PA), que chamou Lula de "ditador".

A parlamentar Carol De Toni (PL-SC), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, opinou que a declaração do petista "relativiza a democracia" e disse ainda que ele considera Maduro um "parceiro".

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