Sonar - A Escuta das Redes
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Um mergulho nas redes sociais para jogar luz sobre a política na internet.

Informações da coluna
Por — Rio de Janeiro

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 01/08/2024 - 20:43

Políticos bolsonaristas geram polêmica sobre identidade de gênero de atleta intersexo.

Políticos bolsonaristas propagam desinformação sobre lutadora intersexo como mulher trans. COI critica testes de elegibilidade da IBA. Boxeadora argelina Imane Khelif vence e é alvo de ataques e boatos. Deputados e senadores geram controvérsia sobre identidade de gênero da atleta.

Políticos bolsonarista utilizaram as redes sociais para compartilhar informações falsas acerca da boxeadora argelina Imane Khelif. Os parlamentares se referiram à atleta — que é intersexo — como uma mulher transsexual ou “homem biológico” para questionar a participação dela nas Olimpíadas de Paris 2024, após a vitória da lutadora na primeira rodada da categoria até 66kg do boxe feminino.

Pessoas intersexo nascem com características sexuais que não se encaixam nas definições tipicamente disponíveis para corpos masculinos ou femininos. Isso pode incluir traços da anatomia sexual, órgãos reprodutivos, padrões hormonais e/ou cromossômicos.

Já uma pessoa transexual tem uma identidade de gênero diferente do sexo biológico designado ao nascer. Nesse caso, uma mulher trans é a pessoa que se identifica como sendo do gênero feminino, embora tenha nascido biologicamente como pertencente ao sexo e gênero masculino.

Após o fim da luta, a italiana Angela Carini, oponente de Khelif, afirmou que desistiu do embate por conta de dores no nariz, negando qualquer relação com a condição da adversária. "Entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria vencer", explicou.

Em postagem no X, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) compartilhou um vídeo em que mostra um trecho da luta desta quinta-feira. Ele afirma, sem qualquer respaldo nas declarações da própria lutadora, que Carini desistiu do combate após encontrar um “homem biológico socando a cara dela muito mais forte”. Em um outro momento da gravação, o parlamentar se refere à argelina como uma pessoa “trans”.

Já o senador Eduardo Girão (PL-RJ) compartilhou uma imagem de Carini chorando após a luta e escreveu ser um “escárnio ver um homem biológico batendo numa mulher com gente assistindo e achando bom”.

Girão também compartilhou uma postagem da jogadora de vôlei e medalhista olímpica Tandara Caixeta, candidata a vereadora de São Paulo pelo PL. Ela escreveu que “estamos em uma era que pagamos para assistir um homem quebrando o nariz de uma mulher e aplaudindo”. Tandara também afirmou, equivocadamente, que a lutadora vencedora seria uma "mulher trans".

O senador Sergio Moro, por sua vez, postou um vídeo da luta e escreveu que “ninguém deve ser discriminado por sua opção sexual, mas precisa ter competição justa para mulheres”. O parlamentar acrescentou que “colocar alguém que mudou de sexo para competir no boxe olímpico com uma mulher não é fair game (jogo justo)”.

Horas depois, Moro publicou um outro tweet em que afirma ter recebido informações de que “não houve mudança de sexo”, mas ressaltou que, devido à atleta ter “falhado em critérios de elegibilidade para competir no boxe feminino perante a IBA”, a Federação Internacional de Boxe, e o “problema persiste”. O senador referiu-se à lutadora no masculino e reforçou que seu post estaria "correto".

Entenda o caso

As pugilistas Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting foram desclassificadas da Copa do Mundo de 2023, em Nova Delhi, organizada pela IBA — hoje descredenciada —, após serem reprovadas nos testes de elegibilidade. A medalha de bronze de Lin foi inclusive retirada depois que ela não passou em exames “biomédicos” encomendados pela federação.

Com isso, as duas sofreram inúmeros ataques de internautas e até de companheiras de profissão, como Caitlin Parker, da categoria até 75 kg, que considerou "perigoso" ter a participação de atletas que não passaram em teste de gênero.

Nesta quinta-feira, o Comitê Olímpico Internacional (COI) emitiu um comunicado informando que as atletas sofreram ataques enganosos em redes sociais e classificando os testes aplicados pela IBA como pouco claros e arbitrários. Antes disso, ambas sempre estiveram dentro dos parâmetros estabelecidos pelo COI e pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (PBU), competindo em disputas internacionais de boxe, como os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e o Campeonato Mundial da própria IBA.

"Os ataques contra essas duas atletas se baseiam inteiramente nessa decisão arbitrária, que foi tomada sem nenhum procedimento adequado – especialmente considerando que esses atletas participam de competições de alto nível há muitos anos", disse o COI na nota.

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