True Crime
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Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção

Informações da coluna

Ullisses Campbell

Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”

Por — São Paulo

RESUMO

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GERADO EM: 04/07/2024 - 04:30

Perfil psicológico do Vampiro de Niterói: Irrecuperável e perigoso

Psiquiatras analisam cartas de amor do Vampiro de Niterói, revelando distúrbios mentais graves e a impossibilidade de recuperação do serial killer. Os especialistas destacam a ausência de remorso e ética, indicando a periculosidade do criminoso. O perfil sádico e manipulador do assassino é evidenciado em suas correspondências, que revelam um indivíduo perverso e irrecuperável. A infância tumultuada e os traumas vivenciados pelo Vampiro são apontados como fatores que contribuíram para sua escalada de crimes. A análise das cartas também aponta para um déficit cognitivo e traços de psicose no assassino, reforçando a avaliação de sua irreversibilidade.

As três cartas escritas por Marcelo Costa de Andrade, o Vampiro de Niterói, de 57 anos, reveladas pelo blog nesta quarta-feira, foram analisadas por dois dos maiores psiquiatras do país especializados no estudo de mentes assassinas. O serial killer matou 13 crianças com idade entre 6 e 13 anos, no início dos anos 90, alegando que pretendia acelerar a entrada delas no céu. Uma das características marcantes do seu ritual envolvia beber o sangue das vítimas. Recluso no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, no Rio de Janeiro, ele escreveu três cartas para uma psicóloga da instituição, pela qual ele teria se apaixonado.

O trecho de uma das correspondências enviadas à então estudante de Psicologia Solange Diniz de Carvalho, em 2008, diz o seguinte: “Quando eu tinha 10 anos, fiquei me prostituindo na Cinelândia, Central do Brasil e na Galeria Alasca, em Copacabana, até os meus 18 anos de idade. E eu ganhava um bom dinheiro assim. Aconteceu que eu cresci e comecei a gostar de garoto novo para sexo. Aconteceu também de eu ficar endemoniado e doido da cabeça. Então eu matei 13 garotos de 5 a 13 anos de idade em lugares desertos. Eu bebia o sangue dos meninos e estuprei eles. Isso em um ano. É por isso que estou há muitos anos preso.”

Marcelo Costa de Andrade e trechos das cartas enviadas à psicóloga — Foto: Reprodução
Marcelo Costa de Andrade e trechos das cartas enviadas à psicóloga — Foto: Reprodução

O psiquiatra Guido Palomba leu as mensagens do Vampiro e teceu uma avaliação. “O conteúdo das cartas é típico de criminoso com gravíssimos distúrbios mentais. Esse tipo de indivíduo é totalmente irrecuperável. Nasceu deformado, é anormal e continuará sendo até morrer. A deformidade é estrutural e não existe tratamento que possa modificá-lo”, opinou o médico, autor do livro "Insania furens: Casos verídicos de loucura e crime".

Para Palomba, se voltar às ruas, o Vampiro de Niterói voltará a cometer novos crimes. “Pelas cartas que ele escreveu, são identificadas uma ausência de valores éticos e morais, a inexistência de capacidade de crítica e de autocrítica e a falta completa de qualquer palavra ou menção a arrependimento. Ele fala dos crimes, mas não fala de culpa. Chega a lamentar estar preso, mas não se refere às vítimas nem aos seus familiares. Isso leva, diretamente, a supor ausência de sentimentos superiores de piedade, compaixão e altruísmo, o que, aliás, coincide perfeitamente com a morfologia dos crimes que praticou”, concluiu.

Trecho de carta de Marcelo Costa de Andrade — Foto: Reprodução
Trecho de carta de Marcelo Costa de Andrade — Foto: Reprodução

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora do best-seller "Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado", também leu as cartas escritas pelo Vampiro de Niterói. Segundo sua análise, ele não demonstrou comportamento infantil — pelo contrário, mostrou-se um “sedutor barato e burro”, principalmente quando fala que se masturbou no hospital. Ana Beatriz também observou a astúcia dele em bolar um plano para a estudante de Psicologia tirar uma carteirinha para visitá-lo na cadeia. “Fica claro que ele apresenta um déficit cognitivo, o que antes era chamado de retardo mental. Dá para chegar a essa conclusão lendo o que ele escreveu e a forma como se expressa”, disse a médica.

“Às vezes, percebemos que ele delira um pouco, o que indica traços de psicose. Em determinados trechos, ele expressa uma megalomania típica de pessoas narcisistas. Principalmente quando ele relata os detalhes dos crimes que cometeu, dando o número de vítimas como se fosse um troféu. Nas cartas, também fica muito claro que ele é perverso e irrecuperável. Certamente, ele veio de uma família desestruturada e de ambiente violento”, finalizou Barbosa.

Repreendido por enviar cartas

No passado, o Vampiro de Niterói já havia sido repreendido por escrever cartas para fora da cadeia. Certa vez, ele estava fazendo um trabalho de educação artística dentro do hospital. Foi dado aos pacientes uma pilha de revistas para que recortassem e fizessem colagens. Marcelo separou uma sessão de classificados onde havia mulheres em busca de namoro por correspondências e passou a mandar mensagens para mais de uma dezena de garotas se identificando como o Vampiro de Niterói e se oferecendo até para beber o sangue delas.

O pai de uma dessas meninas foi até o hospital psiquiátrico fazer uma queixa à direção, achando um absurdo o Vampiro se comunicar com pessoas do lado de fora. Depois desse escândalo, ele ficou terminantemente proibido de escrever cartas para quem quer que seja.

Trecho de carta enviada por Marcelo Costa de Andrade — Foto: Reprodução
Trecho de carta enviada por Marcelo Costa de Andrade — Foto: Reprodução

Quem é o Vampiro de Niterói?

Nascido na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, o Vampiro de Niterói teve uma infância tumultuada, marcada por violência doméstica e dificuldades financeiras. Sua mãe tentou afastá-lo do ambiente hostil, enviando-o para morar com os avós no Ceará, onde ele também foi vítima de estupro. De volta ao Rio de Janeiro, sofreu novos abusos sexuais e bullying, culminando em um comportamento perturbado que, mais tarde, na avaliação de especialistas, o levaria a cometer assassinatos brutais.

Como o Vampiro de Niterói cometia os crimes?

Marcelo atraiu suas vítimas com promessas de comida e dinheiro, levando-as a locais isolados sob o pretexto de realizar rituais. Seu primeiro crime ocorreu em abril de 1991, quando ele encontrou um garoto vendendo doces e o levou para um matagal, onde tentou abusar dele. A resistência da criança resultou em sua morte, iniciando uma sequência de crimes que durou oito meses. O Vampiro usou métodos semelhantes para atrair e matar outras vítimas, consolidando seu perfil sádico e manipulador.

Após sua captura, Marcelo foi submetido a exames psicológicos que confirmaram distúrbios mentais, resultando em sua internação em um manicômio judiciário em 1993. Ele conseguiu escapar em 1997, mas foi recapturado no Ceará. Atualmente, especialistas do hospital onde ele está internado afirmam que ele não pode ser reintegrado à sociedade devido à sua condição mental e à falta de remorso pelos crimes cometidos. Hoje, o Vampiro é considerado paciente sem referência familiar, pois as duas únicas pessoas que o visitavam no hospital, a mãe e a avó, já morreram.

Procurada pelo blog, a Secretaria estadual de Administração Penitenciária afirmou que, "em respeito ao Art 41, do inciso XV, da Lei de Execuções Penais, permite a comunicação do detento com o meio exterior por meio de cartas". O texto enviado pela pasta prossegue informando que, no entanto, não é permitido "o envio de correspondências com conteúdos inadequados, tais como ofensas, ameaças, assédios ou qualquer outro tipo de comunicação criminosa".

Cracha de Solange nos tempos de estagiária — Foto: Reprodução
Cracha de Solange nos tempos de estagiária — Foto: Reprodução
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