Boa Viagem

Cidades da Espanha tentam conter a 'turismofobia'

Assunto foi discutido durante a Feira Internacional de Turismo de Madri (Fitur)
Protesto contra turistas no Park Guell, em Barcelona Foto: JOSEP LAGO / AFP
Protesto contra turistas no Park Guell, em Barcelona Foto: JOSEP LAGO / AFP

MADRI - Turismo de massa, que vem causando transtornos em cidades como Barcelona, e sustentabilidade são palavras de ordem hoje entre  profissionais do ramo. Não à toa, foram os assuntos mais presentes na Feira Internacional de Turismo de Madri (Fitur), realizada na capital da Espanha, um dos países que mais recebem visitantes estrangeiros (82 milhões em 2017) e que tem visto crescer, nos últimos anos, uma onda de "turismofobia", uma certa rejeição à invasão de turistas. Em Barcelona, por exemplo, moradores já realizaram protestos contra o turismo de massa.

De acordo com a Organização Mundial de Turismo, da ONU, o ano de 2018 registrou o recorde no número de turismo internacional, com 1,4 bilhão de pessoas viajando para fora de seus países, 6% a mais do que em 2017,  uma cifra que a entidade esperava atingir apenas em 2020. Agora, já se estuda rever a estimativa para 2030, de 1,8 bilhão.

Já o Conselho Mundial de Viagem e Turismo (WTTC, na sigla, em inglês) prevê que o número de passageiros das companhias aéreas vai mais que dobrar em dez anos, passando dos quatro bilhões em 2017 para 8,2 bilhões em 2028. Os estudos da entidade, que reúne mais de 170 dirigentes de empresas privadas do setor, mostram também que a participação do turismo no PIB mundial passará dos atuais 10,4% para 11,7%, em 2028.

- Hoje, um em dez empregos no mundo é ligado à atividade turística, direta ou indiretamente. As pesquisas mostram que em dez anos será um a cada nove. Por isso, é fundamental que o setor envolva cada vez mais as comunidades, para que elas possam se beneficiar desse crescimento e não apenas se sentirem prejudicadas - considera a presidente do WTTC, Glória Guevara Manzo.

Para ela, a sustentabilidade deve ser prioritária no planejamento dos órgãos de turismo. E aponta o caso de Dubrovnik, na Croácia, que passou a adotar um sistema de rodízio no agravamento de navios de cruzeiro, para acabar com a superlotação em seu centro histórico, como um bom exemplo. Assim como a ideia do aplicativo que avisa aos visitantes de Amsterdã quando há menos fila para entrar nos museus da cidade.

Para descobrir outras formas de promover o turismo de forma mais sustentável, a Fitur criou uma espécie de observatório para se debater o assunto, a FiturNext. Entre os casos discutidos está o de um grupo de povoados em Portugal que realiza eventos culturais fora da temporada para evitar saturação. Na última quinta, uma mesa redonda se dedicou a destinos muito populares no litoral espanhol, como Benidorm e Magaluf, nas Ilhas Baleares.

- Não é só dizer "venha", mas "volte e fique",  porque um turista que quer voltar preserva o lugar que visita. Se multiplicarmos o que temos por quatro de qualquer jeito, não vamos a lugar nenhum - disse à agência AFP  Javier Creus, organizador da FiturNext.

Criar uma identificação com o destino e com o que ele oferece além dos cartões-postais é o caminho em que acredita Antonio Muñoz,  secretário do Turismo de Sevilha, cidade que sediará o encontro global da WTTC em abril:

Área dedicada ao Brasil na Feira Internacional de Turismo de Madri (Fitur), realizada na capital da Espanha Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
Área dedicada ao Brasil na Feira Internacional de Turismo de Madri (Fitur), realizada na capital da Espanha Foto: GABRIEL BOUYS / AFP

- Queremos estar entre as referências turísticas na Espanha, mas trabalhamos para não perder a nossa essência. O estilo de vida de Sevilha é um atrativo tão importante quanto as construções históricas. E sabemos que ele pode ser afetado se começarmos a buscar mais visitantes a qualquer preço.

Propostas podem ser encontradas mesmo fora dos painéis especiais. No estande da Catalunha, representantes de Barcelona, um dos focos da "turismofobia", mostravam alguns dos motivos que renderam à cidade a certificação Biosphere, concedida pelo Instituto de Turismo Responsável, ligado à Unesco. Entre as iniciativas estão as de hotéis como o Curious Hotel, que criou um programa de incentivo para os clientes consumirem nos estabelecimento do bairro (Raval), e do Inout Hostel, que tem mais de 90% dos funcionários com alguma deficiência.

A edição de 2019 da feira, sua 39a, foi inaugurada na última quarta-feira e termina neste domingo. Com 886 expositores e mais de dez mil empresas participantes, de 165 países, o evento deve atrair cerca de 250 mil pessoas ao final de cinco dias. Os números apresentados no primeiro dia da feira, que contou com a presença do rei da Espanha, Felipe VI, revelam um setor que não para de crescer.

Eduardo Maia viajou a convite do Conselho Mundial de Viagem e Turismo