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Vinho ícone da América Latina, o Almaviva terá agora seus segredos desvendados. A vinícola, que fica a apenas 20 minutos do Centro de Santiago, abre suas portas após passar por obras que criaram uma estrutura para o enoturismo. O tinto chileno foi o primeiro vinho não produzido na França a ser comercializado na Place de Bordeaux, onde são vendidos os melhores rótulos do mundo. E entre os principais compradores desse vinho estão os brasileiros, tanto aqui quanto em viagem ao país vizinho.

— O Brasil é um dos top 5 mercados mais importantes do mundo. Levamos isso em conta, além da quantidade de brasileiros que vêm visitar o Chile. Grande parte do desenvolvimento do enoturismo no Chile ocorreu em razão deles. E nós não tínhamos uma infraestrutura apropriada para recebê-los. Decidimos arrumar a casa e aproveitamos também para otimizar o trabalho na vinícola — revela o CEO da empresa, o enólogo português Manoel Louzada.

As uvas para a produção do Almaviva são colhidas manualmente — Foto: Divulgação
As uvas para a produção do Almaviva são colhidas manualmente — Foto: Divulgação

A proposta é que sejam recebidos pequenos grupos, de no máximo 12 pessoas, com a degustação do Almaviva e do Epu, o segundo vinho da casa. A repaginada nas instalações criou sala de cinema, adega incrível com garrafas das safras produzidas e até uma “rota” interativa, que conta a história da marca.

A vinícola foi criada pela associação entre duas potências do mundo do vinho: a chilena Concha y Toro e a francesa Baron Philippe de Rothschild em 1997. O objetivo foi elaborar naquele país um vinho dentro do conceito de château, que é usado na região de Bordeaux desde o século XIX. Ele leva em conta um terroir excepcional (clima, solo, uvas e pessoas que o produzem), uma adega central única e uma equipe técnica para a produção de um grande rótulo.

O ponto de partida é o vinhedo

Começa pelo vinhedo o tour pelo mundo desse vinho que batizado com o nome de um personagem da literatura da França, o conde de Almaviva. As vinhas ficam a 630 metros de altitude, na parte mais elevada do Vale do Maipo, chamada de Puente Alto. O local reúne condições ideais para produzir um dos melhores Cabernet Sauvignon do mundo. São 90 hectares, dos quais 73 deles com vinhedos em produção. Grande parte foi plantada em 1978 pela Concha y Toro.

— A proximidade da Cordilheira dos Andes tem um papel moderador nas temperaturas, com ventos mais frios que descem das montanhas no fim do dia. Não há tanto calor, é bastante fresco de manhã, o que permite que, no final da maturação, tenhamos temperaturas não tão elevadas. O resultado é um vinho com mais fruta, mais frescor — detalha o diretor técnico Michel Friou.

O enólogo francês Michel Friou com o Almaviva — Foto: Divulgação
O enólogo francês Michel Friou com o Almaviva — Foto: Divulgação

Friou é francês e está no projeto desde 2007, sendo o terceiro enólogo por trás desse vinho premiado. Ele explica que, em razão do clima, o ciclo das videiras é mais atrasado que em outras regiões chilenas como o Vale de Colchágua e até em setores que não ficam tão longe de Puente Alto. Ali, a Cabernet Sauvignon não é colhida quando as temperaturas estão no auge do verão, e sim mais tarde, quando já começaram a cair um pouco.

— Um pouco da beleza disso é que, como não costuma chover na colheita, podemos esperar o tempo que quisermos. Contamos com uma janela maior. A uva pode atingir a maturidade, mas, ao mesmo tempo, pela proximidade da cordilheira, mantém frescor. Assim, conseguimos frescor e maturidade, o que não é fácil de se obter ao mesmo tempo. De maneira geral, eu diria que grandes vinhos tintos precisam ter um pouco mais de frescor nas últimas semanas de maturação — ensina Friou.

Já o solo da região é do tipo aluvial, formado por material arrastado por rios ou pela água.

— É preciso voltar ao passado, há dois milhões de anos, quando o Rio Maipo era muito maior, passava por aqui e carregava esse material. O clima mudou, com menos chuvas. O rio encolheu e se afastou dois quilômetros daqui. As pedras começaram a desbotar, plantas cresceram e formaram de 20 a 60 centímetros de solo. Vemos pedras de bordas arredondadas de tamanhos diferentes, areia, o que também dá a particularidade desse lugar — descreve Jorge Castilho, subgerente agrícola.

O Almaviva é feito com mais três uvas. Uma delas sempre está presente no blend, a Carménère. Variedade símbolo do Chile, é plantada em vinhedos em Peumo, no Vale do Cachapoal. Já a Cabernet Franc e a Petit Verdot também são de Puente Alto. No local, há ainda a Merlot, nem sempre incluída no vinho.

— A colheita das uvas é manual. Não houve outra forma de reproduzir o nível de qualidade ótimo para a produção — revela Manuel Louzada.

O próximo ponto do tour é a adega, que foi projetada pelo arquiteto chileno Martín Hurtado. Ela começou a ser construída em 1998 com madeiras nativas do sul do país. A inauguração foi em 2000. A decoração interior teve inspiração em símbolos e artefatos representativos de povos originários. A obra recente de modernização da vinícola não mudou quase nada da aparência externa, mas foram construídos espaços novos, principalmente subterrâneos, como uma sala para o vinho já engarrafado.

É na adega onde o visitante aprende o que acontece com as uvas após a colheita até o momento em que são colocadas nas cubas gigantes de aço inox para a vinificação.

O grand chai abriga 520 barricas de carvalho francês, onde o Almaviva amadurece por 18 a 20 meses — Foto: Divulgação
O grand chai abriga 520 barricas de carvalho francês, onde o Almaviva amadurece por 18 a 20 meses — Foto: Divulgação

A atração que vem na sequência é o impressionante grand chai, que abriga 520 barricas de carvalho francês (75% novas e 25% usadas já uma vez), onde o Almaviva amadurece por 18 a 20 meses. Depois, ele é transferido para outra sala, onde passa mais meses antes de ser engarrafado. Assim, aquela safra abre lugar no grand chai para uma nova.

Passeio em túnel

Dali, 21 degraus abaixo levam a um túnel recentemente construído, que oferece um passeio turístico que reúne de um lado garrafas de Almaviva de diferentes safras; e, de outro, uma exposição que apresenta a história do vinho e de seu rótulo. A etiqueta exibe três ilustrações do kultrun, um instrumento cerimonial sagrado para indígenas chilenos. No lugar, há ainda um painel interativo, que mostra como foram as safras do vinho, com notas de degustação de Michel Friou.

Outro destaque subterrâneo é a sala de projeção, com poltronas vermelhas que foram de um cinema de Valparaíso. Um vídeo mostra como é a produção do Almaviva, da colheita à rotulagem.

Mais à frente, conhece-se a espetacular adega com capacidade para 6 mil garrafas do Almaviva, com vinhos de 1996 a 2021. Por fim, uma capela com o deus Baco, divindade romana que protege a vinhas e o vinho, ligado à boêmia e à festa. Da janela, pode-se ver o vinhedo e a cordilheira ao fundo.

A adega com capacidade para 6 mil garrafas do Almaviva — Foto: Divulgação
A adega com capacidade para 6 mil garrafas do Almaviva — Foto: Divulgação

Degustação feita em mansão

O tour continua na antiga mansão da propriedade, a chamada "casona", construída em 1923 e 1924 pelo arquiteto Eduardo Costabal Zegers no estilo basco. Antes da venda desses terrenos à família Chadwick e depois à Viña Concha y Toro, morava no imóvel don Domingo Tocornal. Ele era advogado e se dedicava à agricultura na região, além de ter sido vereador e prefeito da comuna.

O ponto alto da visita vem agora, com a degustação do Almaviva e do segundo rótulo da casa, o Epu, conduzida sempre pela equipe de enologia da marca. Na prova, são apresentadas as informações sobre os vinhos e como foram aquelas safras.

— O Almaviva é um corte de variedades de uvas francesas que nascem no Chile. É um terroir muito complexo, muito interessante. É um vinho que transmite muita elegância, também potência, além dessa tradição em que o vinho vai evoluindo com o tempo, porque tem muito mais para esperar. Quem degusta o Almaviva vai ter uma experiência para entender tudo o que o Chile tem para oferecer, mas também com muita tradição francesa, sobretudo da região de Bordeaux. É um vinho que tem muitas camadas, muita complexidade. É um vinho de meditação quase. Ele vai despertando aos pouquinhos, vai parecendo um gigante, de uma forma muito sutil. Se quer um vinho para pensar, para contemplar, para refletir, e também se encantar, vale a pena experimentar — analisa a sommelière Cecilia Aldaz.

Degustação de safras de Almaviva — Foto: Divulgação
Degustação de safras de Almaviva — Foto: Divulgação

Serão três opções de tour: com degustação de uma safra de Epu e uma de Almaviva (US$125 por pessoa); com duas safras de Almaviva e uma de Epu (US$190); e com duas safras de Almaviva e duas safras de Epu (US$255). As visitas serão de segunda a sexta, em três horários (10h, 12h30 e 15h), com máximo de 12 pessoas, sempre guiadas pela equipe de enologia. A duração é de 90 minutos. Agendamento pelo e-mail [email protected] ou pelo site https://www.almavivawinery.com/.

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