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Por Richard Paddock e Muktita Suhartono, The New York Times

Quatro anos atrás, havia uma cena lamacenta, caótica e emocionalmente tensa à entrada da caverna Tham Luang, na Tailândia, onde milhares de pessoas, de voluntários a pais a espeleólogos de todo o mundo, reuniram-se com um objetivo: resgatar 12 meninos e seu treinador de futebol presos lá dentro. Durante uma provação de 18 dias, grande parte da atenção do mundo se voltou para a caverna, com muitos temendo o pior. Mas, contra as probabilidades, toda a equipe foi salva.

O resgate milagroso se tornou desde então o foco de documentários e sucessos de bilheteria de Hollywood, bem como de mais de uma dúzia de livros, e, hoje, a área em frente à caverna é uma zona de construção à medida que o parque nacional se prepara para uma esperada onda de turistas que querem ver o local.

As áreas onde os membros da família aguardavam ansiosamente notícias sobre o destino das crianças desapareceram, e os abrigos onde os voluntários se recuperaram de incursões árduas na caverna foram derrubados. Em seu lugar, estão sendo construídos um centro de visitantes, instalações turísticas e uma grande réplica das montanhas circundantes.

Tham Luang, que durante muito tempo foi um velho parque nacional pacato e pouco visitado, voltou ao mapa graças ao surpreendente resgate do time de futebol Wild Boars.

– Nunca esperei que mudasse tanto, porque, antes que os meninos ficassem presos na caverna, ninguém conhecia Tham Luang. Mesmo nosso povo em distritos vizinhos não conhecia a caverna – disse Naphason Chaiya, de 54 anos, chefe da aldeia vizinha Baan Jong.

Estátua em homenagem a Saman Gunan, mergulhador voluntário e ex-fuzileiro naval tailandês que morreu durante o resgate dos meninos da caverna Tham Luang, na Tailândia — Foto: Luke Duggleby/The New York Times
Estátua em homenagem a Saman Gunan, mergulhador voluntário e ex-fuzileiro naval tailandês que morreu durante o resgate dos meninos da caverna Tham Luang, na Tailândia — Foto: Luke Duggleby/The New York Times

Em uma primeira onda de melhorias, estradas foram repavimentadas e novos hotéis, lojas e cafeterias surgiram. Em homenagem a Saman Gunan, mergulhador voluntário e ex-Seal da Marinha Tailandesa que morreu durante o esforço, uma estátua dele – com 13 javalis a seus pés – foi erguida na sede do Parque Nacional.

Logo depois do resgate, começaram a chegar tantos turistas que a fila de carros às vezes tinha mais de um quilômetro e meio, entrando em Baan Jong, com uma série de casas, lojas, barracas de comida e restaurantes ao ar livre reunida na rua principal. Para desânimo dos comerciantes locais, no entanto, o boom turístico foi interrompido em 2020 com a chegada da Covid-19. Mas agora, com o vírus recuando e com o lançamento de duas grandes produções cinematográficas, muitos moradores esperam que Tham Luang volte a ser um ímã de visitantes quando a estação chuvosa terminar e a caverna reabrir em outubro.

No fim de julho, a Amazon Prime lançou "Treze Vidas: O Resgate", releitura dramática do resgate, dirigida por Ron Howard. Em agosto, a Lionsgate lançou "Cave Rescue". E recentemente a Netflix lançou "O Resgate na Caverna Tailandesa", série de seis episódios contada da perspectiva dos meninos.

– Estou otimista. A caverna está trazendo mais turismo e melhorando a economia da cidade. Vejo muitos novos projetos, novos negócios, novos restaurantes e cafés – comentou Pansak Pongvatnanusorn, que construiu o Teva Valley Resort a cerca de cinco quilômetros da caverna em 2019 e o manteve aberto durante a pandemia.

Uma visão geral de Ban Pha Hee, uma vila nas montanhas acidentadas de Doi Nang Non, ao longo da fronteira com Mianmar, na província mais ao norte da Tailândia, Chiang Rai — Foto: Luke Duggleby/The New York Times
Uma visão geral de Ban Pha Hee, uma vila nas montanhas acidentadas de Doi Nang Non, ao longo da fronteira com Mianmar, na província mais ao norte da Tailândia, Chiang Rai — Foto: Luke Duggleby/The New York Times

Tham Luang fica nas montanhas Doi Nang Non, faixa que corre ao longo da fronteira com Mianmar na província mais ao norte da Tailândia, Chiang Rai. As montanhas, consideradas sagradas por muitos moradores, erguem-se repentinamente do vale, com vista para os verdes campos de arroz e as aldeias espalhadas abaixo.

Durante a estação seca, Tham Luang é um sistema de cavernas longo e estreito pontuado por algumas câmaras subterrâneas. Durante a temporada das chuvas fortes, rapidamente se torna um rio subterrâneo, motivo pelo qual os meninos ficaram presos.

Vern Unsworth, explorador amador de cavernas que passou anos inspecionando Tham Luang, desempenhou um papel fundamental no resgate, recrutando os mergulhadores britânicos que encontraram os meninos e ajudaram a resgatá-los. Desde então, ele lidera esforços para expandir o sistema de cavernas, encontrando novas entradas e câmaras e conectando segmentos sem saída.

Ele contou que, em uma área, onde duas seções de cavernas são separadas por uma barreira com um metro de espessura, as equipes que limpam uma passagem, vindas de lados opostos, já estabeleceram contato por voz. Desde que começaram seus esforços de expansão, o sistema de cavernas ganhou mais de 11 quilômetros extras de comprimento.

– Até o ano que vem, vai ser o sistema de cavernas mais longo da Tailândia – previu Unsworth.

Vern Unsworth, um explorador de cavernas amador que desempenhou um papel fundamental no resgate do time de futebol WIld Boars da caverna Tham Luang na Tailândia em 2018 — Foto: Luke Duggleby/The New York Times
Vern Unsworth, um explorador de cavernas amador que desempenhou um papel fundamental no resgate do time de futebol WIld Boars da caverna Tham Luang na Tailândia em 2018 — Foto: Luke Duggleby/The New York Times

Diante de toda a atenção internacional que o resgate recebeu, pouco se sabe desde então dos meninos e de seu treinador, Ekkapol Chantawong. Uma das razões é que eles e seus familiares venderam os direitos de sua história a uma empresa ligada ao governo, que por sua vez as vendeu à Netflix. Nos contratos, as crianças e Ekkapol são impedidos de contar sua história publicamente durante anos. (Vários dos meninos, seus pais e Ekkapol, contatados pelo "The New York Times", recusaram-se a falar ou não responderam às mensagens.)

Unsworth informou que alguns dos meninos e Ekkapol tinham voltado à caverna para ir explorá-la com ele – na época da seca – e pareceram se divertir:

– Eles não têm problemas com o que aconteceu. Sem pesadelos. Só tentaram tocar a vida o melhor que puderam. Não se colocaram em um pedestal. Permanecem muito discretos.

Vários dos garotos estão se dedicando ao futebol. Um deles, Duangphet Promthep, foi recentemente aceito pela Brooke House College Football Academy, no Reino Unido, um passo em direção a uma possível carreira no futebol profissional.

Adul Sam-on, que cumprimentou em inglês os mergulhadores britânicos que encontraram a equipe, agora está estudando na Masters School em Dobbs Ferry, no estado de Nova York, com bolsa de estudos integral. Foi um dos três meninos apátridas que, além de Ekkapol, receberam a cidadania tailandesa depois do resgate.

Um par de chuteiras e uma bicicleta usada por um dos membros do time de futebol Wild Boars para ir até a caverna Tham Luang em junho de 2018 é exibido na entrada do parque — Foto: Luke Duggleby/The New York Times
Um par de chuteiras e uma bicicleta usada por um dos membros do time de futebol Wild Boars para ir até a caverna Tham Luang em junho de 2018 é exibido na entrada do parque — Foto: Luke Duggleby/The New York Times

Adul, aluno do ensino médio, é proficiente em cinco línguas e tinha o sonho de se tornar um médico local, disse seu tio-avô e guardião, Go Shin Maung. Mas o resgate e a atenção internacional ampliaram sua visão de mundo e agora ele espera fazer um trabalho humanitário, possivelmente com a ONU.

– Os meninos estão seguindo caminhos próprios. Alguns estão estudando e outros, no futebol. Eles ainda se falam e trocam mensagens entre si, compartilhando suas experiências – contou Go, pastor da igreja cristã.

Embora a maioria dos moradores da região seja de budistas, muitos mantêm uma crença tradicional em espíritos e dizem ver a figura de uma mulher adormecida no contorno das montanhas.

Segundo a lenda local, há muito tempo uma princesa se apaixonou por um cavalariço e, depois que ela engravidou, eles fugiram para a caverna, tentando escapar à ira do pai dela. Quando o jovem saiu para buscar comida, foi morto pelos homens do rei, levando a princesa ao suicídio por esfaqueamento. Seu sangue se tornou o rio que flui através da caverna, e as montanhas acima assumiram sua forma. O nome Doi Nang Non significa "Montanha da Dama Adormecida", e o nome completo da caverna, Tham Luang Nang Non, significa "Grande Caverna da Dama Adormecida".

Durante o resgate, muitos voluntários rezaram e deixaram oferendas em um santuário para Nang Non na entrada da caverna, pedindo-lhe que salvasse os meninos. Quando os Wild Boars foram descobertos, a localização da câmara em que estavam significou para muitos que a moça estava realmente mantendo-os seguros.

– O destino está escrito porque eles foram encontrados sob os olhos da princesa. Isso significa que ela estava cuidando deles. Seu destino era que todas as pessoas se reunissem para salvá-los – declarou Kamon Kunngamkwamdee, guarda-florestal que ajudou no resgate.

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