Boa Viagem
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Por Alex Marshall, The New York Times — Zagreb, Croácia

Quando o relacionamento de Olinka Vistica e Drazen Grubisic acabou, há mais de 20 anos, veio a hora da divisão dos pertences: uma TV, um computador, uma série de lembranças de viagem... até chegar ao coelhinho.

Quando ainda estavam juntos, os dois croatas tinham um ritual meigo: na hora em que um chegava em casa, o outro encorajava o animalzinho a sair de onde estivesse para lhe dar as boas-vindas. E quando um deles ia para o exterior a trabalho, levava o pet consigo e com ele tirava fotos nos pontos turísticos.

– Representava tudo que vivemos, por isso achei que nenhum de nós devia ficar com ele – explica Vistica.

Nesse momento, a dupla poderia ter engatado uma briga feia; em vez disso, porém, teve uma ideia brilhante:

– Não seria maravilhoso ter um lugar para onde todas as pessoas do mundo pudessem mandar as coisas que restaram depois da separação? Eu me lembro de ter pensado que um tipo de "arquivo mundial de romances falidos" poderia ajudá-las a superar o rompimento e a encarar o fato de que aquele amor existiu – prossegue ela.

Um celular antigo é um dos mais de 70 objetos expostos no Museu das Relações Rompidas, em Zagreb, capital da Croácia — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships
Um celular antigo é um dos mais de 70 objetos expostos no Museu das Relações Rompidas, em Zagreb, capital da Croácia — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships

Hoje, os ex-companheiros administram juntos o Museu das Relações Rompidas (Museum of Broken Relationships, em inglês, como é mais conhecido), uma das atrações turísticas mais populares e peculiares da Croácia. Situado em um antigo palacete na cidade velha da capital Zagreb, o museu exibe objetos doados por amantes de coração partido de todos os cantos do planeta, além de uma explicação de sua história. Muitos preferem fazer a contribuição pelo correio, e sua identidade é mantida em sigilo para estimulá-los a contar a verdade.

Os itens variam do mais trivial – como o sapato social branco que chegou com um bilhete em que se lia: "Ela tentou me fazer engolir suas ideias de moda" – aos carregados de emoção, como o paraquedas doado por uma mulher cujo companheiro morreu em um salto.

O museu abriu as portas em 2006 como um projeto temporário apresentado por Grubisic e Vistica no Salão de Zagreb, a bienal de arte. Nas primeiras mostras apareceram só os amigos, mas, depois que a exposição foi encerrada, o ex-casal começou a receber pedidos de novas versões das instalações por e-mail e telefone. Não demorou para a dupla começar a montar pop-ups em espaços como a galeria de arte na Califórnia e o shopping center na Turquia, sempre solicitando doações por onde passava. Na Cidade do México, por exemplo, recebeu centenas de objetos e histórias.

Em 2010, os dois inauguraram a sede permanente, na mesma rua, aliás, que a sede da Prefeitura da cidade, na qual são oficializadas muitas uniões. A coleção atual reúne mais de quatro mil peças, com mais ou menos 70 sendo exibidas de cada vez. Segundo Charlotte Fuentes, curadora responsável pelo acervo e pela organização de mostras no exterior, toda semana chegam novidades pelo correio:

– Outro dia me mandaram um pedaço de um bolo comemorativo de 37 anos de casamento! Pus no freezer. Acho incrível o que as pessoas fazem para tentar manter o amor vivo.

Localizado em Zagreb, o Museu das Relações Rompidas exibe objetos de ex-casais enviados de todos os cantos do mundo — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships
Localizado em Zagreb, o Museu das Relações Rompidas exibe objetos de ex-casais enviados de todos os cantos do mundo — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships

No meu tour recente pelo museu, Vistica, Grubisic e Fuentes destacaram alguns artigos que vieram de bem longe: uma bicicleta da Bélgica, móveis de brinquedo da Coreia do Sul, um par de tênis de Seattle.

– O interessante é que geralmente as doações refletem o contexto político e/ou social do país. Quando promovemos uma mostra nas Filipinas, recebemos muita coisa de casais que se separaram por causa da emigração. Milhões de filipinos vão para o Canadá, Dubai e outros lugares para trabalhar; aí acabam se separando. Tenho certeza de que, se montássemos uma exposição na Ucrânia, ficaríamos sabendo de um monte de histórias de perdas causadas pela guerra – explica Grubisic.

Para Vistica, nesse aspecto o museu não deixa de ser uma lente da história, o que ficou bem claro desde o início do projeto.

– Quando começamos a reunir os primeiros itens em Zagreb, um ex-soldado nos deu uma prótese e disse que tinha perdido a perna nos anos 1990, lutando pela independência croata da Iugoslávia. Explicou que as sanções internacionais dificultavam a remessa do acessório, mas uma funcionária do Ministério da Defesa conseguiu o material para a produção; os dois acabaram se apaixonando, mas a perna falsa durou mais que a relação. No começo, ficamos com medo de receber só lembranças de namoricos sem consequência, mas logo as histórias começaram a ficar bem complexas. Temos itens da Segunda Guerra Mundial, envolvendo terrorismo... Coisa pesada mesmo. Mas a vida também é, não? – filosofa ela.

Grubisic acrescenta:

– Apesar disso, são os objetos mais toscos e cômicos que conquistam a maior parte do público. Por exemplo, uma inglesa mandou um livro cujo título é "Posso fazer você emagrecer", com um bilhete: "Presente do ex-noivo. Não preciso falar mais nada, né?"

Fuentes completa:

– Recebemos muita coisa negativa nesse nível, além de vários itens que não têm nada a ver com romance. Na verdade, remetem a outros tipos de rompimento, como a perda de uma crença religiosa ou a morte de um filho.

A certa altura do tour, Vistica aponta para dois sutiãs em uma redoma:

– A mulher que doou disse que tinha acabado de fazer uma mastectomia dupla e que estava se livrando deles, torcendo para que pudesse recuperar a relação que tinha com o próprio corpo, e não via a hora de que aquilo acontecesse. Sempre fizemos questão de deixar o nome em aberto; é apenas o "Museu das Relações Rompidas", não fala nada de amor. Todos os relacionamentos são emocionais, não só os românticos – acrescenta Vistica.

No Museu das Relações Rompidas há mais de 70 objetos dos mais variados, como este par de luvas de borracha, que representam uma relação que acabou — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships
No Museu das Relações Rompidas há mais de 70 objetos dos mais variados, como este par de luvas de borracha, que representam uma relação que acabou — Foto: Divulgação / Museum of Broken Relationships

Mas, entre os mais de 70 itens da mostra, talvez o mais estranho seja uma placa de Petri com uma raspagem de pele de mais de 30 anos.

– Uma bióloga recolheu a amostra do primeiro namorado para o caso de ele sofrer um acidente e ela poder cloná-lo – explica Fuentes.

Grubisic aproveita a deixa:

– O museu nem pode receber partes do corpo pelo correio, mas uma apresentadora de TV croata uma vez mandou uma pedra de vesícula, dizendo que o parceiro lhe dava nos nervos de tal maneira que contribuíra para a formação da obstrução. E escreveu: "Isso foi o que ele me deu".

Vistica completa a narrativa:

– No fim das contas, sabe-se lá por quê, ela pediu a pedra de volta. Devolvemos, mas agora estabelecemos uma regra de não restituição, mesmo quando o doador volta com o(a) ex.

Fuentes conclui:

– Veja você outro exemplo: ali naquela redoma há duas pedras que um casal achou em uma praia na Dinamarca, uma para ele, outra para ela, como explicaram na nota que veio junto. Depois de um ano do passeio, eles se separaram e ele as mandou para cá. Quando as pusemos na exposição, mandei mensagem para avisar, e ele escreveu de volta para contar que os dois tinham se apaixonado de novo, depois de sete anos separados! Não pediu as pedras de volta, só comentou que era maravilhosa a possibilidade de as pessoas conseguirem resgatar o amor e, ainda assim, expor no Museu das Relações Rompidas.

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