Boa Viagem
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Por Jennifer Harlan, The New York Times

Quando Eleanor Hamby e Sandra Hazelip se conheceram, há mais de 20 anos, tornaram-se melhores amigas logo de cara, mas nunca imaginaram que um dia isso as levaria a participar de programas de TV, virar motivo de piada no "Saturday Night Live" e fazer com que os passageiros de uma estação de trem em Tóquio parassem para dizer: "Meu Deus, são as vovozinhas viajantes do TikTok!"

Eleanor, de 81 anos, e Sandra, de 82, inspiram gente de todo o mundo com o projeto "Volta ao mundo em 80 dias aos 80, e com muito gás", que ganhou esse nome em homenagem ao livro de aventuras que Júlio Verne escreveu no século XIX. Suas viagens no início deste ano as levaram do litoral gelado da Antártida às rochas majestosas do Grand Canyon, além de lhes angariar mais de um milhão de curtidas e milhares de seguidores ao longo do percurso.

— Nem sonhávamos com tamanha repercussão — confessou Eleanor.

Eleanor Hamby e Sandra Hazelip posam com um macaco em Bali, numa das muitas viagens da dupla pelo mundo  — Foto: Eleanor Hamby via The New York Times
Eleanor Hamby e Sandra Hazelip posam com um macaco em Bali, numa das muitas viagens da dupla pelo mundo — Foto: Eleanor Hamby via The New York Times

As duas se conheceram quando tinham 50 e poucos, em uma missão médica evangélica na Zâmbia, da qual Eleanor, fotógrafa documental, era a diretora, e à qual Sandra, que acabara de enviuvar, chegara como médica convidada. Cinco anos depois, o marido de Eleanor também morreu de repente. Sandra queria transferir sua clínica para Abilene, no Texas, onde a amiga morava, mas não queria viver ali permanentemente; por isso, fez uma proposta.

— Se você me acolher duas vezes por semana, eu a levo para comer fora — contou Eleanor.

Foi durante essas visitas esporádicas que descobriram a paixão comum pelas viagens.

— Um dia eu comentei com Ellie que sempre tivera vontade de andar no Trem Transiberiano e perguntei se estava disposta a me acompanhar — relembrou Sandra.

Foi a primeira grande aventura, em 2008; depois vieram as expedições ao Sudeste Asiático, em 2010, e ao Oriente Médio, em 2011.

Sandra Hazelip e Eleanor Hamby tentam se proteger da água na Victoria Falls, em Zâmbia — Foto: Eleanor Hamby via The New York Times
Sandra Hazelip e Eleanor Hamby tentam se proteger da água na Victoria Falls, em Zâmbia — Foto: Eleanor Hamby via The New York Times

Nas primeiras excursões, as duas usaram um blog para manter os familiares e amigos atualizados, mas, para a turnê de 80 dias, uma amiga as ajudou a abrir contas no Instagram e no TikTok, e não demorou para que milhares de seguidores do mundo todo começassem a acompanhá-las.

— Muita gente disse que servíamos de inspiração, não só em matéria de amizade, mas de disposição para sair por aí e fazer coisas. Sem dúvida, foi uma experiência que mudou nossa vida — explicou Eleanor. E elas não têm a mínima intenção de parar.

As duas não podem viajar o tempo inteiro — já que ambas ainda trabalham, Sandra em uma casa de repouso e Eleanor na missão —, mas já estão planejando a próxima aventura, na América do Sul, para 2024. Segundo Sandra, o tema dessa vez será: "Octogenárias, sim; viajandonas, também." (A seguinte entrevista foi editada e condensada por motivo de espaço e clareza.)

As amigas Eleanor Hamby e Sandra Hazelip em frente à Fontana di Trevi, em Roma — Foto: Elanor Hamby via The New York Times
As amigas Eleanor Hamby e Sandra Hazelip em frente à Fontana di Trevi, em Roma — Foto: Elanor Hamby via The New York Times

Como vocês planejaram uma viagem de 80 dias ao redor do mundo?

Eleanor: Bom, nosso ponto de partida foi o livro do Júlio Verne.

Sandra: Nossa intenção era visitar tantas cidades quanto Phileas Fogg. Também queríamos muito passar pelos sete continentes, coisa que o personagem não fez, e ver o maior número possível de maravilhas do mundo natural.

Eleanor: No fim das contas, acabamos passando por 18 países e vimos oito maravilhas. Sandy fez um documento no Word para cada dia da viagem. Começávamos sempre pela acomodação, pensando na cidade em que queríamos ficar, porque, como se sabe, localização é tudo. Mas só precisávamos mesmo de um lugar limpo, porque nem passávamos muito tempo no hotel. Por isso procurávamos o melhor preço. Adoramos descobrir hoteizinhos ajeitados, como aquele em que ficamos no Cairo, com diária de US$ 13,50. Não era um lugar muito frequentado por turistas, porque ficava em um beco, mas a vista que tínhamos da cobertura era simplesmente sensacional. Nós duas temos muito orgulho de seguir a máxima custo-benefício.

Sandra: Muita gente fala que não tem dinheiro para viajar, mas vai e compra um carro. Pois prefiro ficar 80 dias rodando pelo mundo.

Eleanor: Se tinha uma atração extraordinária ou algo que queríamos muito fazer, tipo mergulhar com snorkel na Grande Barreira de Corais, pedíamos ao hotel que sugerisse uma agência e fazíamos a reserva com antecedência, mas o resto foi na base da recomendação do pessoal local.

Como vocês se adaptam aos problemas e às inconveniências de última hora?

Eleanor: Encarando a situação de forma positiva. Não tem essa de ficar choramingando, sem saber o que fazer; nada disso. Enfrentamos o problema sabendo que sempre há uma solução. É só manter a cabeça aberta e um sorriso no rosto que ela aparece rapidinho.

Viajar sempre foi importante para vocês?

Eleanor: Fui criada em uma fazenda no Oklahoma, em uma área totalmente rural, e praticamente não viajava, mas estava sempre lendo sobre gente como Amelia Earhart ou os livros de Pearl S. Buck. Eu me interessava muito por mulheres exploradoras. Eu me casei aos 18, e, depois que eu e meu marido nos formamos, fomos na base do mochilão para a Cidade do México. Foi aí que começou, porque percebemos que não era preciso ser rico para viajar, que poderíamos aproveitar mesmo assim.

Sandra: Eu e meu marido viajávamos basicamente só para visitar a família no Kentucky ou ver os avós. Nossa primeira aventura de verdade, com os filhos já crescidos, foi um cruzeiro pelo Caribe. Muito divertido, mas para ele também foi mais como umas férias mesmo.

Eleanor: Sandy e eu não somos muito chegadas a viagem de navio; gostamos de conhecer o pessoal do lugar, não outros turistas.

Sandra: Assim que meu marido adoeceu, decidi que começaria a levar nossos netos em excursões durante o verão. Logo depois que ele morreu, fiquei sabendo da Missão Médica na Zâmbia; decidi ir para lá e levar um dos meninos. Foi assim que Ellie e eu nos conhecemos. De lá para cá, não paramos mais.

Do que vocês mais gostam nessas expedições juntas?

Eleanor: Sandy abraça todo mundo – e não é só aquela versão casual, é abraço de verdade – e está sempre sorrindo. Gosto muito disso nela. Nunca fui muito de contato físico; minha família pode confirmar. Não é meu estilo. Mas Sandy me ensinou a ser mais aberta aos outros. Tem sido muito bonito ver como as pessoas de tantos lugares diferentes precisam desse abraço.

Sandra: Ellie me ensinou que é muito importante estar no lugar certo quando o sol nasce e quando se põe, para poder fotografar com a luz certa. E é muito divertida.

Eleanor: Tivemos muita sorte de nos conhecermos, de cruzarmos o caminho uma da outra naquele momento. Perder o companheiro é muito difícil, mas ao mesmo tempo é maravilhoso ter um(a) amigo(a) que tenha passado pela mesma coisa e sabe o que fazer nessa situação. Uma amizade sólida é essencial durante o processo do luto.

Como vocês reagem aos familiares preocupados quando embarcam nessas viagens longas ou dizem algo do tipo: "Vó, tem certeza de que quer se aventurar na Lapônia ou em Bali sozinha"?

Sandra: Ainda lhe dou olé, rapaz. Com prótese nos joelhos e tudo.

Eleanor: Sempre dizemos que não saímos de férias, mas sim para aventuras. Nunca perdemos um dia; ou estamos fazendo alguma coisa ou voando de um lugar para o outro. É por isso que pouca gente aguenta nosso ritmo. Meus filhos preferem relaxar na praia, se hospedar em hotéis caros.

Sandra: Isso aí não é aventura.

Que conselhos vocês dariam para quem quer investir nesse tipo de iniciativa?

Sandra: Deixe os mimos de lado. Saia da zona de conforto. Faça planos e viva.

Eleanor: Idade é só um número mesmo. Se você acha que quer tentar fazer alguma coisa, não tenha medo de se arriscar. Vá lá e faça. Você só vai se arrepender se não for.

O que vocês aprenderam viajando dessa maneira?

Eleanor: A confiar nas pessoas; de modo geral, são todas boas. É só tomar a iniciativa e sorrir. É verdade, um sorriso gera carinho, simpatia. Abre portas. Derruba barreiras. Faz a pessoa querer ajudar se você estiver com um problema. Garanto que sua viagem vai ser muito mais prazerosa e você vai conhecer muito mais gente se sorrir mais.

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