Dono de paisagens e sabores apaixonantes, o Alentejo reúne tanto experiências de enoturismo com a tradição que encanta admiradores fiéis quanto vinícolas que abraçaram a modernidade. Elas apresentam vinhos com maior leveza, frescor e menor teor alcoólico, além de adotar práticas como implantação de vinhedos orgânicos e proteção de animais e bosques nativos. A programação inclui visitas a vinhedos, à adega e à cave, assim como degustações com rótulos premiados ou harmonizadas com queijos, embutidos e até nozes; tour de jipe para ver o pôr do sol ou observar a fauna; passeios no olival e refeições em restaurante estrelado ou repleto de obras de arte.
Há 10 anos, a comissão vitivinícola da região criou um programa focado em sustentabilidade, que reúne 638 produtores. Vinte deles ganharam um selo por seguirem critérios mais rígidos, como a premiada Herdade do Esporão. Tem todos os seus vinhedos, olivais e hortas orgânicos, que podem ser visitados, com provas de vinhos e azeites, além de almoço harmonizado no restaurante Herdade do Esporão.
A casa comandada pelo chef Carlos Teixeira tem uma estrela Michelin e uma estrela verde no mesmo guia. O menu degustação pode ser com cinco ou sete tempos. Outra opção é o almoço no wine bar. Há passeio de bicicleta e três trilhas para serem exploradas com mapa. Não são mais aceitos grupos grandes na vinícola nem nos restaurantes. Antes da pandemia, eram 25 mil visitantes por ano, número que passou para 12 mil, nessa nova proposta.
A natureza é rainha
Com uma área imensa de 800 hectares, que abrigam vinhedo, pomar, floresta, além de plantação de oliveiras e nogueiras, a Tapada de Coelheiros propõe um mergulho na natureza. São passeios de jipe ou a pé para conhecer a propriedade, além de degustações de vinhos que podem ser acompanhadas de nozes colhidas na herdade. Com facilidade, podem-se encontrar ovelhas, veados, gamos, patos e coelhos pelo tour. A herdade pertence ao brasileiro Alberto Weisser, que buscou criar uma marca premium e investe em agricultura regenerativa, com a recuperação do solo.
Conheça vinícolas do Alentejo, a maior região produtora de vinhos de Portugal
A Herdade dos Grous possui hospedagem para quem prefere uma imersão completa na propriedade de 1.100 hectares, que atua em produção de vinho e azeites, criação de suínos, ovinos e bovinos de raças portuguesas além de cavalos, turismo rural e enoturismo. São feitas visitas guiadas pelas vinhas ou à adega, com degustações, além de piqueniques, workshop de drinques com vinho e passeios a cavalo. Possui ainda um bar de vinhos e restaurante com gastronomia regional, com harmonização com os rótulos feitos ali.
Na Herdade do Rocim, a pedida é a visita aos vinhedos orgânicos, à adega e à vinha pedagógica da herdade, uma das que mantêm a milenar produção de vinhos de talha (ânfora) ao mesmo tempo que produz vinhos inovadores em instalações modernas. As provas de vinhos incluem diferentes linhas da marca, das básicas às premium, incluindo rótulos que o grupo produz em outras regiões do país, como Douro e Lisboa. Possui também wine bar, almoço e jantar com comida regional (com reserva) e a experiência de ser enólogo por um dia.
Vinho + gastronomia + arte
Na Howard’s Folly, a proposta é conhecer uma adega moderna em um prédio que é patrimônio histórico de Estremoz. Pequenos tanques de inox dividem espaço com grafites e esculturas. Além da degustação dos vinhos premium com a assinatura do premiado enólogo australiano David Baverstock, o espaço tem um restaurante com obras de arte e decoração instagramável. A vinícola patrocina artes visuais e apoia uma fundação que ajuda crianças carentes em vários países, com aulas de arte como terapia e reabilitação. Muitos dos rótulos dos vinhos são feitos por vencedores de concursos ou reproduzem obras de artistas famosos. Outras experiências na Howard’s Folly são o workshop de enologia que ensina a avaliar vinhos para a criação de um blend e uma prova de vinhos de grandes produtores do Alentejo.
Com vinhos pontuados e elogiados pela crítica especializada, a Tiago Cabaço, batizada com o nome do jovem enólogo, considerado um nome promissor do Alentejo, tem como foco degustações, com diferentes perfis de vinhos, e visita à moderna adega.
Em 350 hectares divididos entre vinhedos, olivais, mata e pomar, a Herdade da Lisboa abriga instalações novas e funcionais, com foco em economia de energia elétrica. O visitante pode fazer degustações de vinhos com perfil mais contemporâneo, elaborados com uvas portuguesas e internacionais. O guia é sempre um enólogo, com visita à adega e ao vinhedo. Há experiência com prova de azeite também.
O mapa dos ícones
Na Adega Cartuxa, que produz o ícone Pêra-Manca tinto, um dos vinhos mais caros e famosos de Portugal. As opções vão da visita simples àquelas com degustações. Pode-se diversificar a prova com adição de mais rótulos, além de enchidos, queijos e compotas da região. Durante a vindima, pode-se participar da colheita na Quinta de Valbom, com direito à pisa a pé e degustação. Os rótulos da Cartuxa têm como autor o enólogo Pedro Baptista, que tem uma coleção de prêmios. O Pêra-Manca tinto não está incluído nas provas, e o visitante pode comprar apenas uma garrafa dele.
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Na emblemática Herdade do Mouchão, que produz outro ícone português batizado com o nome da vinícola, em posse da mesma família há mais de 150 anos. O programa inclui conhecer os vinhedos e a adega e provar os vinhos, num mergulho na história do Alentejo. É conhecido por levar ao país as primeiras mudas da uva francesa tinta Alicante Bouschet, que se adaptou com perfeição na região. A adega tem grossas paredes de adobe caiadas. O sistema antigo de fermentação ainda é usado, em lagares com pisa a pé, para todos os tintos, que estão entre os mais longevos do país. Os famosos tonéis de 5.000 litros são feitos com carvalho e castanheiro portugueses e tampos de mogno e macacaúba da Amazônia.
Aventura na adega
Na João Portugal Ramos, não faltam opções de enogastronomia e diversão. Há desde as degustações com provas de quatro vinhos, e visita ao vinhedo e à cave, até aventura na adega para descobrir uma garrafa secreta, piqueniques no vinhedo, almoço harmonizado com pratos da cozinha alentejana, pisa de uvas em lagar de mármore, aula de culinária, criação do próprio vinho e participar da vindima.
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Tudo pela tradição
A Ravasqueira tem degustações de vinhos e um museu com mais de 30 carruagens. A Ervideira, já com a quarta geração de produtores, tem como destaque os vinhos brancos e suas provas, que atraem 30 mil visitantes por ano, um terço deles brasileiros. Na Comenda Grande, destaque para o cenário histórico alentejano, com construções pintadas de branco e azul.
Cláudia Meneses viajou a convite da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).