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Por , Em The New York Times

O argentino Lionel Messi apertou um botão e uma garrafa de champanhe se chocou contra a proa do Icon of the Seas na terça-feira, 23 de janeiro, numa cerimónia em que, claro, uma bola esteve presente e a grande estrela do futebol batizou o maior navio de cruzeiro do mundo em seu porto de origem: Miami. A chegada do navio de 250.800 toneladas, da Royal Caribbean, chamou a atenção do mundo. Parecia uma alta celebridade pisando no tapete vermelho. Muitos ficaram maravilhados com suas características de ponta, como o maior parque aquático no mar. Por outro lado, críticos afirmaram que o gigantesco navio tem potencial para causar danos ao meio ambiente.

O Icon of the Seas está registrado nas Bahamas. O cruzeiro inaugural, com passageiros pagantes, partiu em 27 de janeiro. A capacidade para transportar cerca de oito mil pessoas, em 20 andares e nos seus 365 metros de comprimento, faz dele uma pequena cidade. Está dividido em oito "bairros" repletos de comodidades que incluem uma cachoeira de 17 metros, seis toboáguas e mais de 40 restaurantes, bares e locais de entretenimento.

De acordo com a Royal Caribbean, o navio estabelece um novo padrão de sustentabilidade utilizando tecnologias de eficiência energética. Esse novo parâmetro foi concebido para minimizar as emissões de carbono e, com isso, se aproximar do objetivo da empresa: chegar a 2035 com um navio que não emita gases de efeito estufa na atmosfera.

— Vivemos de acordo com uma única filosofia: proporcionar as melhores férias com responsabilidade. Para fazer isso, construímos com base nos princípios fundamentais de sustentabilidade do nosso planeta e de nossas comunidades — disse Nick Rose, vice-presidente de gestão ambiental do Grupo Royal Caribbean.

Durante décadas, a indústria de cruzeiros foi criticada pelo impacto negativo que causava no ambiente. Um estudo de 2021, publicado no "Boletim de Poluição Marinha", concluiu que, apesar dos avanços técnicos, os cruzeiros continuam a ser uma importante fonte de poluição do ar, da água e da terra, afetando habitats frágeis e a saúde humana.

Embora os grupos ambientalistas tenham saudado algumas das características do Icon of the Seas — como seu avançado sistema de tratamento de água —, alguns dizem que a construção de navios enormes contraria os objetivos de sustentabilidade e preservação em longo prazo, responsabilidade que toda a indústria de cruzeiros compartilha.

— Os navios estão ficando cada vez maiores e esse é um caminho errado para o setor. Se estivessem realmente pensando na sustentabilidade e não nos resultados financeiros, não estariam construindo um navio de cruzeiro com capacidade para quase dez mil pessoas — disse Marcie Keever, diretora do Programa Oceanos e Embarcações da organização ambientalista Friends of the Earth.

Messi batiza Icon of the Seas — Foto: Reprodução/Facebook
Messi batiza Icon of the Seas — Foto: Reprodução/Facebook

Com mais de cinco marcas diferentes, a Royal Caribbean possui uma frota de 65 navios de cruzeiro de diversos tamanhos. O Icon of the Seas foi construído para atender à crescente demanda e oferecer experiências que seus consumidores buscam. A empresa afirmou que todos os seus navios seguem os mesmos princípios de sustentabilidade, o que inclui a eficiência energética e a gestão avançada de resíduos e de água.

Vamos ver alguns dos principais recursos que a Royal Caribbean colocou no Icon of the Seas. Será que ele é realmente sustentável?

Transição para fontes alternativas de energia

O Icon of the Seas é o primeiro navio da Royal Caribbean movido a gás natural liquefeito (GNL), que a indústria de cruzeiros considera uma alternativa mais limpa do que o óleo combustível pesado comumente usado. "O GNL, atualmente, é o combustível fóssil produzido em escala que apresenta o melhor desempenho na redução das emissões atmosféricas", afirmou a Cruise Lines International Association, grupo comercial do segmento, em seu Relatório de Tecnologias e Práticas Ambientais, publicado em 2023, no qual cita a análise feita pela Sea-LNG, coligação industrial que promove os benefícios do uso do GNL como combustível marítimo.

Mas os analistas ambientais estão preocupados com os problemas decorrentes do uso do GNL em longo prazo. Eles dizem que, apesar de emitir cerca de 25% menos dióxido de carbono do que os combustíveis navais convencionais, o GNL é majoritariamente metano, gás poderoso que retém mais calor na atmosfera ao longo do tempo que o dióxido de carbono.

A Organização Marítima Internacional, organismo da ONU que regula o transporte marítimo global, fez em 2020 um estudo que avaliou gases capazes de gerar o efeito estufa. A utilização de GNL como combustível marítimo cresceu 30% entre 2012 e 2018, resultando em um aumento de 150% nas emissões de metano dos navios.

Para Bryan Comer, diretor do programa marítimo do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês), as emissões de metano cresceram mais rapidamente do que o uso de GNL porque os navios estão trocando as turbinas a vapor por motores de combustão interna e usando dois combustíveis:

— São mais eficientes em aproveitamento de combustível, mas emitem grandes quantidades de metano não queimado na atmosfera, por causa do "deslizamento de metano".

O deslizamento ocorre quando o GNL não é totalmente queimado pelo motor e provoca emissões de metano. Ele apontou para um dado da investigação do ICCT que prevê que o uso do GNL triplicará no período de 2019 a 2030, e que as emissões de metano também crescerão.

— Mesmo que os navios usassem 100% de biocombustíveis renováveis de GNL ou e-combustíveis (combustíveis sintéticos feitos a partir de hidrogênio e dióxido de carbono), as emissões de metano ainda duplicariam entre 2019 e 2030 por causa do deslizamento de metano — acrescentou Comer.

A Royal Caribbean afirma que o GNL era o combustível alternativo mais viável disponível quando foram tomadas decisões sobre como construir o Icon of the Seas, há mais de dez anos.

— Alguns vão dizer que o GNL não é um combustível de longo prazo. Concordamos com isso e o consideramos transitório. Mas nosso navio foi construído para se tornar adaptável às futuras fontes de combustível — disse Rose.

A empresa se prepara para pôr no mar, no próximo ano, o Celebrity Xcel, com capacidade para 3.248 passageiros. Esse navio será equipado com um motor tricombustível projetado para receber metanol, o que agradaria a grupos ambientalistas que consideram o metanol um dos combustíveis mais promissores para alcançar a neutralidade de emissão de carbono na navegação.

Capacidades de energia em terra

Quando os navios de cruzeiro estão atracados nos portos, seus motores e geradores a diesel funcionam frequentemente com combustível, emitindo dióxido de carbono nas áreas próximas povoadas. O Icon of the Seas foi construído para operar por eletricidade quando estiver aportado, alternativa de geração de energia mais limpa que a do combustível. Espera-se que ele seja um dos primeiros navios de cruzeiro a se conectar à rede elétrica local no Porto de Miami. Basta que as instalações de energia em terra estejam ajustadas e fiquem disponíveis já na primavera do Hemisfério Norte.

Pelo menos três navios podem ser conectados com segurança e simultaneamente ao porto em qualquer dia, incluindo o Icon of the Seas, disse um porta-voz do Porto de Miami.

— Quando se trata de sustentabilidade, não existe solução mágica e queremos aproveitar todas as alternativas possíveis. Se pudermos atracar em um porto que tenha capacidade de fornecimento de energia limpa, vamos conectar os navios para não usarmos combustível — declarou Rose.

O problema é que a maioria dos portos não fornece eletricidade. Segundo a Cruise Lines International Association, apenas 2% dos atracadouros do mundo oferecem energia para navios de cruzeiro. A Royal Caribbean afirma que está trabalhando com portos e com outras empresas do setor para ampliar seu uso.

Convertendo resíduos em energia a bordo

O programa de 30 anos "Save the Waves" ajuda a manter o lixo longe dos aterros e do oceano. Para expandi-lo, a Royal Caribbean construiu o que diz ser um sistema de gestão de resíduos pioneiro a bordo do Icon of the Seas, com capacidade para converter resíduos em energia.

A tecnologia de pirólise assistida por micro-ondas, conhecida como MAP (microwave-assisted pyrolysis), transforma alimentos, resíduos biológicos e resíduos de papelão em pequenas pelotas, que são aquecidas para produzir um gás que é convertido em energia de vapor. A Royal Caribbean afirma que esse gás pode ser usado para abastecer o parque aquático do navio. O sistema também produz biocarvão, que pode ser utilizado como fertilizante. A empresa anunciou que compreenderá melhor o potencial de produção do sistema quando o navio estiver em plena operação nos próximos meses. Até agora são necessários cerca de 25 quilowatts de eletricidade para operar o sistema com uma saída de 200 quilowatts.

— Não vai ser necessária muita energia para operar o sistema. Mas também não se produzirá muita energia para o navio — disse Comer.

Tratamento avançado de água

A empresa revelou que o Icon of the Seas está equipado com um avançado sistema de purificação projetado para tratar todas as águas residuais a bordo, desde banheiros e chuveiros até cozinhas. Mais de 93% da água doce será produzida dentro do navio, mediante um sistema de osmose reversa que remove contaminantes da água.

Para Keever, a Royal Caribbean merece crédito pela implantação dos sistemas de tratamento:

— Está sendo instalada a melhor e mais cara tecnologia de tratamento de esgoto em navios. A importância disso é crucial, porque se trata da maior empresa de cruzeiros mostrando para o resto do segmento que pode fazer isso e pagar por isso, e que esse é um exemplo a seguir.

Células de combustível

Na série de vídeos promocionais que fez em 2023, chamada "Making an Icon" ("Construindo um ícone"), a Royal Caribbean declarou que o Icon of the Seas seria seu "primeiro navio a possuir tecnologia de célula de combustível", usada para alimentar partes do navio, como ar-condicionado e elevadores. Mas isso não vai acontecer ainda.

As células de combustível combinam hidrogênio e oxigênio para produzir eletricidade sem combustão e seu subproduto é a água. Isso significa que não emitem tantos gases de efeito estufa como os combustíveis fósseis tradicionais. Embora o Icon of the Seas seja construído para acomodar células de combustível, as baterias ainda não foram instaladas. Em razão do tamanho e do escopo do projeto, os fabricantes encontraram problemas com fornecedores externos. Foi o que informou a Bloom Energy, que trabalha com a Royal Caribbean e fornece as células de combustível.

Agora, a Bloom Energy se diz focada na resolução de problemas nos sistemas de combustível maiores, que estão sendo planejados para outro navio, o Utopia of the Seas, da mesma Royal Caribbean. A nova embarcação terá capacidade para 5.668 passageiros, e está programada para entrar em serviço no próximo ano. De acordo com Suminder Singh, vice-presidente naval da Bloom Energy, daqui a cinco anos haverá uma oportunidade de equipar o Icon of the Seas com as células, quando está programada uma parada do navio em doca seca. A Royal Caribbean afirma que pode não demorar tanto assim. A decisão dependerá do sucesso da tecnologia empregada no Utopia.

Para Bryan Comer, as células de combustível são uma ótima opção, mas têm emissões semelhantes às dos combustíveis convencionais, à base de petróleo, se forem fabricadas em terra usando para isso gás natural:

— Precisamos de hidrogênio produzido a partir de eletricidade renovável para utilizá-lo na produção de células de combustível. Só então teremos emissão zero de gases de efeito estufa no ciclo de vida.

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