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O melhor dos cruzeiros por Grécia, Turquia e Itália

Como aproveitar paradas em Monemvasia, Cefalônia, Éfeso e Sicília

Myrtos, uma das mais bonitas praias em Cefalônia
Foto: O GLOBO / Flávio Freire
Myrtos, uma das mais bonitas praias em Cefalônia Foto: O GLOBO / Flávio Freire

ATENAS - Para o turista que visita a Grécia num dos navios que circulam pelos mares Mediterrâneo e Egeu e incluem a vila de Monemvasia na rota, uma das maiores surpresas é quando se avista a paisagem de cartão-postal deste trecho do Peloponeso. De frente, a visão é a de um imenso rochedo protegido por uma muralha, da qual é possível se aproximar por um estrada asfaltada morro acima, com vista para o invejável azul das águas do Mar Egeu.

A pé, o caminho cansa, e até faz desistir quem não imagina que a paisagem só tende a ficar surpreendentemente mais bacana. No alto, depois de atravessar um pórtico no meio do muro de pedra, surge ali, de repente, a pequena Monemvasia, vilarejo transformado em ilha depois que um terremoto no ano de 375 o separou da costa sul da Grécia. O acesso é feito por uma espécie de barragem de 200 metros. Cuidado ao atravessar o dique a pé, porque os motoristas gregos gostam de velocidade.

Diferentemente da conhecida arquitetura desenhada toda em branco de ilhas como Mykonos e Santorini, a pequena Monemvasia parece não ter feito questão nenhuma de uma outra demão de tinta. Ficou no barro mesmo, num conjunto amarronzado que ganha ainda mais charme com as vielas de chão de pedras e muitas árvores floridas bem cuidadas por moradores e comerciantes.

Sentar num dos cafés para tomar um chá gelado batido e abrir um livro — ou mesmo tentar entender seja lá o que for no jornal em alfabeto grego — pode se transformar numa dessas experiências que dão vontade de se apaixonar perdidamente por ali mesmo e nunca mais voltar. Se rolar uma paixão — ou não — vale a visita à pequena igreja Agia Sophia, mesmo que ainda esteja em reforma. É ali que o visitante tem uma chance de entender como é mais fácil observar feliz da vida uma crise econômica quando, para os moradores, basta descer uns degraus e chegar à pequena faixa de areia branca para um mergulho no meio da tarde. Em águas ultratransparentes, diga-se.

Monemvasia foi uma das escalas de um cruzeiro feito no final da temporada passada a bordo do Rivieira, da Oceania, que incluiu ainda outras paradas na Grécia, na Turquia e na Itália. A temporada de cruzeiros pelo Mediterrâneo acaba de recomeçar e vai até novembro. Muitos navios das grandes companhias de navegação já estão pela região.

Myrtos, bonita e difícil

Com um pouco de paciência e perseverança, descobre-se que ali está o Lago Melissani. Ao chegar, no entanto, sua frustração pode aumentar. No lado de fora, há um pequeno estacionamento (cheio de táxis e turistas) colado a uma pequena lanchonete. Mas cadê o lago?

— Passe a bilheteria, desça pelas escadas e você nunca mais vai esquecer esse lugar — diz alguém diz que acabava de voltar.

A entrada custa € 7, pagos na bilheteria que dá acesso à uma espécie de rampa subterrânea, de onde é possível observar pequenos barquinhos chegando e saindo com turistas. O cenário é incrível.

O lago é cercado por rochedos de 40 metros, tem água transparente e uma névoa que faz o

Pequena e aconchegante, Monemvasia tem uma atmosfera encantadora, com poucos turistas, muitos moradores e um pôr do sol de perder o fôlego. O comércio é pequeno, com lojas de artesanatos, restaurantes e mercearias com os mais variados tipos de azeite. Uma loura esguia atende simpaticamente uma turista interessada em comprar a miniatura de um carrossel com caixa de música para a filha de 3 anos. Diante de tantos brinquedos, é convencida quando ouve que aquele som vai fazer a filha lembrar da infância.

Com o aluguel de uma vespa, o turista consegue ir além de Monenvasia, e atravessa parte da cidade, com acesso a praias sem onda, água morna e uma faixa de areia — quer dizer, de pedras — que atrai famílias e um ou outro casal. Se faltar tempo para um dos restaurantes à beira-mar, a opção de encarar um churrasquinho grego não é de se arrepender. Por € 2 , o sanduíche vem recheado de creme de queijo e batata. Vale para almoço e jantar, já para se despedir com sabor genuinamente grego.

Também fora dos mapas turísticos mais convencionais, outra região na Grécia onde se pode passear de moto alugada tem um charme especial. É Argostoli, na ilha de Cefalônia. No centro da cidade, por € 100, taxistas levam turistas para algumas das principais atrações. Basta uma pechinchada para conseguir alugar uma vespa de 250 cilindradas por € 20 — mas, avisamos, tem que se arriscar a entender um caminho cheio de placas com indicações em grego. Quarenta minutos de estrada depois (entre se perder e se achar) é possível chegar a Melissani, um pequeno balneário aparentemente sem apelo turístico. A pergunta inevitável é por que todo mundo diz que uma ida até lá é imperdível.

turista se imaginar num cenário de filme de Steven Spielberg. Se o silêncio for quebrado por uma americana de meia-idade que, no mesmo barco, decide soltar a voz afinada numa espécie de opereta, aí sim você pode olhar para os lados para se certificar se não há mesmo nenhum diretor hollywoodiano por ali.

Não muito longe, vale conhecer a caverna de Sami, com acesso por uma escadaria que parece conduzir o turista ao centro da Terra. O ingresso custa apenas € 5. A iluminação artificial tira um pouco da autenticidade do lugar, mas vale o passeio para chegar ao centro da caverna, que é repleto de estalactites e estalagmites, palavras associadas justamente ao termo grego stalassein , que significa pingar.

Aos que estão no meio da caverna só pensando em uma praia paradisíaca, a dica é correr para Myrtos, uma das mais bonitas da Grécia, segundo a revista americana “Condé Nast Traveler” — já os gregos dizem que é a praia mais bonita do mundo. O acesso à Myrtos, rodeada por grandes penhascos, é possível de carro ou moto, numa estradinha cheia de curvas morro abaixo.

Com ondas fracas, a praia é daquelas nas quais dá para ver o pé mesmo com água no altura do peito. Mas o mar só fica realmente confortável depois que você nadar alguns metros e se afastar da costa, quando o fundo deixa de ser de pedra.

Vale quebrar a arrebentação para boiar com vista para os rochedos. Aos que se arriscaram chegar até Myrtos de moto ou em carro alugado, a melhor dica é deixar a praia pelo menos uma hora antes do anoitecer. A estrada de volta ao porto, de mão dupla, não é das mais tranquilas de circular para quem não conhece o caminho.

História e pássaros em Éfeso

Na Turquia, atracamos em Kusadasi, no litoral sul, na região da Anatólia. Fora o pequeno comércio de ambulantes e uma prainha perto da área central do município, o programa é visitar as ruínas de Éfeso, a 20 quilômetros dali.

Em Éfeso, foi construído em 550 a.C. o Templo de Ártemis, uma das sete maravilhas do mundo antigo, destruído por uma multidão, junto com muitos outros edifícios, no século V. Reconstruída pelo imperador Constantino I, a cidade sofreu novo impacto com um terremoto 200 anos depois, que a destruiu parcialmente. Em meio a antigas residências e prédios públicos, surge a estrutura da antiga biblioteca de Celso, um dos lugares mais bacanas — e onde se concentram os turistas para tirar fotos. Atualmente, apenas 15% da cidade foram escavados, segundo contam os guias de turismo do local.

O imponente Templo de Ártemis, antigo anfiteatro, era onde o povo assistia a apresentações de música e de teatro. Ao fim do passeio, os ônibus aguardam os turistas numa feirinha onde se vende desde bichinhos de pelúcia, pôsteres e luminárias a relógios genuinamente falsos, como diz o cartaz em néon.

Depois de aula da História ao ar livre, a visita ao museu local com algumas réplicas e quase nada que valha mais atenção do que já foi visto nas ruínas da cidade é dispensável. Ao passar pelos postes de iluminação repare nos enormes ninhos de pássaros. Com sorte, é possível observar os filhotes tentando os primeiros voos.

Cerveja na laje para descansar na Sicília

Quatro turistas orientais dão risadinhas discretas, sem esconder a ansiedade, enquanto se abaixam no barco de madeira com o qual o grupo vai atravessar a entrada da Gruta Azul, na ilha italiana de Capri. A fila de barcos é enorme. Tem preferência quem chega por mar em pequenos veleiros contratados por excursões.

Quem chega por terra pode amargar até uma hora na fila à espera da vez. Numa bilheteria flutuante, italianos cobram os passageiros, que ainda são “charmosamente assediados” pelos barqueiros para o pagamento de uma gorjetinha.

Lá dentro, é o reflexo da luz do sol que dá o contorno cinematográfico ao local, com um azul que chega dar a impressão de ter sido provocado por um refletor de piscina. Em alto e bom som, os barqueiros italianos arriscam músicas de acordo com a procedência do visitante, o que pode reduzir bastante a atmosfera romântica da gruta. São menos de dez minutos no local. Dali, a dica é seguir para a praia do Farol, onde escadas de piscina grudadas em pedras ajudam o banhista a se lançar numa piscina de água natural. São poucos os turistas por ali. Se houver, são italianos.

Para desbravar Capri usando e abusando do charme italiano existem duas boas opções. Uma é alugar a boa e velha motorino , como chamam as vespas. A outra é alugar um carro conversível branco, com taxista servindo de motorista e guia. O aluguel da moto sai por € 45 por dia. Já o táxi, custa € 80 por três ou quatro horas. Também é possível explorar o local em transporte público: o funicular leva da marina ao centro da cidade. Mas se a visita a Capri tiver que ser rápida, o negócio é não perder tempo. O sobe e desce pela ilha até Anacapri resulta em vistas espetaculares, como a da Marina Grande, de onde os barcos partem para os passeios às grutas.

Já na Sicília, a escala foi no Porto de Messina, onde uma das melhores pedidas é uma visita a Taormina. Entre centenas de lojas com lembrancinhas inspiradas nos Al Capones da vida, o melhor a se fazer na cidade é se perder por suas ruas estreitas, com acesso por escadarias íngremes, até chegar a algumas residências.

Na área central, a atração principal é o Teatro Grego, uma enorme arena de onde o turista avista dezenas de barcos cortando o Mediterrâneo. Para fugir do frenético vaivém de turistas no centro, a dica é pegar um táxi até Castelmola, município vizinho mais ao alto da montanha. Com pouco mais de mil habitantes, a cidade parece não fazer questão de ganhar com o turismo. À tarde, logo depois do almoço, os comerciantes baixam as portas para uma soneca, e só voltam ao batente no finzinho da tarde.

Do alto, avistam-se outras cidades da Sicília, como Gaggi, Letojanni, Mongiuffi Melia, além de Taormina. Desprendido de qualquer tipo de pudor, vale entrar no Bar Turrisi, todo (todo mesmo) decorado com referências fálicas, das mesas aos espelhos, passando pelo cardápio e até o corrimão. Com um menu variado de cervejas, é só escolher uma delas, subir as escadas até a laje do restaurante e deixar o tempo passar. Lentamente.

Flávio Freire viajou a convite da Oceania Cruises/FirStar Representações