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Pirenópolis atrai turistas com cachoeiras, casarões e culinária típica

Passear pela cidade goiana é fazer uma viagem de volta ao início do século XVIII
A Igreja Nossa Senhora do Rosário foi erguida entre os anos de 1728 e 1732 por escravos. Foto: Divulgação/David Rego Jr
A Igreja Nossa Senhora do Rosário foi erguida entre os anos de 1728 e 1732 por escravos. Foto: Divulgação/David Rego Jr

PIRENÓPOLIS - Passear pelo centro histórico de Pirenópolis, em Goiás, é como fazer uma viagem de volta ao início do século XVIII. É passar em frente às portas das casas construídas ao estilo colonial e encontrar as famílias num bate-papo animado enquanto o jantar é preparado. É, vez por outra, ver o cavalo montado como meio de transporte, e os jovens se encontrando na pracinha. É observar, antes de tudo, uma gente orgulhosa da cidade que preserva sua História desde 1727, mas que também olha para o futuro de forma sustentável, ao investir fortemente no ecoturismo e ao divulgar intensamente as festas culturais e religiosas.

Naquele centro histórico, o que tem de mais novo são as pedras das ruas. Na década de 1950, os grandes blocos, similares aos de Paraty, foram substituídos pela Pedra de Pirenópolis (quartzito), extraída em abundância na pedreira que emprega grande parte dos 24 mil habitantes. Diferentemente dos paralelepípedos, estas são colocadas em pé, com a área de maior superfície enterrada na areia, sem escoras de cimento ou asfalto. As únicas pedras “deitadas” no chão são as das calçadas e as que formam as faixas de pedestres, que por lá, não precisam ser pintadas.

A Pirenópolis turística de hoje começou a ser formatada na década de 1970, quando Brasília iniciava sua ocupação e a cidade goiana se transformou no refúgio de quem chegava à capital federal. Era gente do todo tipo — de diplomatas a hippies — a moldar a culinária e as artes. Hoje, os brasilienses gostam tanto de Pirenópolis que ultrapassam 60% dos 500 mil turistas que a visitam a cada ano.

Como fica no Cerrado, o clima de Piri, para os íntimos, se divide em duas estações. A seca, de abril a outubro, apresenta temperatura mais elevada e ar mais seco. A vegetação também é ressecada, mas fica florida nesse período, pois as plantas buscam água em grandes profundidades. As águas estão mais baixas, o que facilita o banho nos rios e nas cachoeiras, porém, estão bem frias. O período de chuva vai de novembro a março. O clima é mais agradável, a vegetação fica verde, o ar mais respirável e sobem nível e temperatura das águas.

A cidade é pequena. O centro histórico pode ser visitado a pé, mas os trajetos para cachoeiras demandam carro. Em três dias é possível conhecer e se divertir em Piri. Como os deslocamentos são longos, a companhia de um guia é indicada.

É no Centro que estão localizadas as principais atrações históricas e culturais da cidade, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, construída entre 1728 e 1732, no auge da exploração do ouro, e restaurada em 2002. A Igreja do Bonfim, de 1754, é outro destaque. Com estilo colonial português, tem pinturas internas feitas por Inácio Pereira Leal. O teatro e o cinema Pirineus se impõem pela arquitetura. O primeiro, de 1899, tem um estilo eclético com elementos do colonial e do neoclássico. O segundo, de 1929 em estilo neoclássico, teve a fachada alterada para art déco.

No calendário de eventos, a festa mais famosa é a Folia do Divino, que começa 40 dias depois da Páscoa. Em nove dias, cavaleiros percorrem fazendas e a área urbana celebrando a descida do Espírito Santo. Depois, são mais três dias de cavalhadas, que simulam a batalha entre mouros e cristãos disputada no século VIII. É nesse contexto que aparece o mascarado, representando o escravo alforriado que queria entrar na folia.

— A gente sai mascarado, muda a voz e aproveita para beber e pedir dinheiro para as pessoas — afirma o guia turístico Wellington Arruda.

Bar e hotel em casarões tombados

A culinária oferece pratos regionais. Em todo lugar tem pastel de gueroba (guariroba ou palmito-amargoso), mas só a barraca da Elizângela Garcia, na praça central, oferece pastéis de jaca (R$ 4), bem apreciados pelos muitos veganos da cidade.

Há opções mais variadas, como o restaurante Venda do Bento, com diversos cortes de carnes e o risoto do Cerrado, que inclui pequi, guariroba, frango e linguiça. A casa fica numa fazenda e é integrada a um museu dedicado às cavalhadas e à roça. Pratos para dois custam R$ 150, em média.

Na Rua do Lazer, funcionam cafeterias e bares modernos em casarões tombados, que animam a noite com shows e festas. Ali perto também é possível comprar peças de artesanato local. Há muitas peças com mascarados e pedras de quartzito.

Os casarões tombados abrigam também hotéis. Um deles é o Pouso do Sô Vigário, que fica num antigo salão paroquial datado de 1850, e que já teve, entre seus hóspedes, até um ex-ministro, que costumava despachar dali nos fins de semana. A restauração foi feita pelo diplomata Elin Dutra, que já recuperou outras oito propriedades históricas.

Trilhas e cachoeiras que dão banho o ano todo

Cachoeira é a primeira palavra que vem à cabeça de quem busca o ecoturismo em Pirenópolis. A prefeitura tem 78 catalogadas, a maioria em áreas privadas. O grande número de quedas d’água se deve à Serra dos Pirineus, que circunda a cidade. A relação do nome com a cadeia de montanhas que fica entre a Espanha e a França foi feita pelos primeiros europeus que chegaram na região e, por notarem alguma semelhança, batizaram a cidade com o nome atual.

Por estarem em propriedades privadas, o custo médio de um mergulho fica em R$ 30. É o que acontece na Reserva do Abade, uma fazenda de 17 alqueires que fica a 17km (dez deles em estrada de terra) do Centro. Ela abriga quatro cachoeiras, interligadas por trilhas de pedras e, em alguns pontos, por degraus íngremes. Seguindo por uma caminhada de 50 metros sobre uma ponte pênsil a 24 metros de altura, a recompensa do outro lado é a Cachoeira do Cânion e uma piscina natural. As energias podem ser repostas no restaurante local, com bufê de comidas típicas, como linguiças, carne de panela, arroz com pequi, além de saladas.

O complexo das Cachoeiras do Dragão é outro atrativo que fica a 42km do Centro (14km em estrada de terra). São oito quedas d’água ao longo de uma trilha de 4,5km entre matas, veredas e campos rupestres. Na área, existe o mosteiro budista Eisho-Ji, administrado por monges. Lá não há refeições, e a entrada custa R$ 40.

Para quem gosta de altura, o lugar ideal é o Parque Estadual dos Pirineus. Na Vila dos Becos (20 km da cidade, sendo 18km de terra), é possível fazer trilha e uma leve escalada nas pedras que a cercam. Alpinistas de todo o Brasil procuram o lugar para praticar o boulder, modalidade de escalada que dispensa o uso de equipamentos de segurança. Para quem vai pela trilha, a recompensa é a vista panorâmica da região. É recomendado uso de tênis e roupa leve.

Cachoeira Foto: Divulgação/Sílvio Aquino
Cachoeira Foto: Divulgação/Sílvio Aquino

Outro ponto ideal para avistar o Cerrado é o Pico dos Pirineus, o segundo mais alto de Goiás, com 1.385m de altura. A escalada é dura e requer tempo e paciência, ou bom condicionamento físico. A maioria sobe o pico ao entardecer, para o pôr do sol. À noite, é possível avistar Brasília e outras cinco cidades vizinhas.

Tirolesa e rapel em meio a jatobás

Ainda falando em altura, o Santuário de Vida Silvestre Vagafogo também oferece aventuras da cidade em estrada não pavimentada. O arvorismo tem cinco trechos com níveis de dificuldade variados, de três a 17 metros de altura, mas que podem ser percorridos por inciantes. O percurso, com guias e equipamentos de segurança, continua por duas tirolesas em meio às árvores, um rapel que desce de um jatobá de 20 metros ou no balançar de um pêndulo em meio à floresta.

O local foi construído pelo ex-hippie Evandro Ayer, que no começo dos anos 1980 comprou uma fazenda pensando em transformá-la num empreendimento de ecoturismo. Hoje a Fazenda Vagafogo é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), administrada por ele, pelo filho Uyrá e a mulher, Catarina.

Uma das atrações preferidas da família é o passeio de contemplação em meio à mata de transição do Cerrado, onde é possível ouvir os sons dos animais, admirar um enorme jatobá e se banhar num riacho. Além de receber turistas, a família abre a propriedade, gratuitamente, para que crianças em idade escolar façam aulas de educação ambiental.

Ao fim do passeio, o turista pode optar por um brunch (R$ 48) preparado com produtos orgânicos, em sua maioria, da própria fazenda. Destacam-se combinações com frutas típicas da região, como baru, pequi e hibisco.

SERVIÇO

Pé di Café. Rua Aurora 21, Centro. Tel. (62) 3331-2183.

Venda do Bento. Rodovia GO 338, km 4. Telefone: (61) 99217-3703.

Pouso do Sô Vigário. Diárias a partir de R$ 280. Rua Nova 25, Centro. Telefone: (62) 3331-1206.

Pousada dos Pirineus Resort. Diárias a R$ 525. R. do Carmo 80, Chácara Mata do Sobrado. Tel. (62) 3331-7300.

Passeios

Reserva do Abade. Quatro cachoeiras e trilhas em caminhos de pedra. R$ 30 mais almoço opcional de R$ 35,90. Tel. (62) 98145-9597.

Santuário Vagafogo. Aventuras e contato com a natureza. Day Use completo R$ 205. vagafogo.com.br

Agência Pirenópolis. Passeios pelo Centro, cachoeiras e Parque dos Pirineus. agenciapirenopolis.com.br

Tilapa Tour. Passeios pelo Centro Histórico, cachoeiras e Parque dos Pirineus. tilapatur.com.br

Marco Stamm viajou a convite do Encontro Nacional de Editores, Colunistas e Blogueiros (Enecob)

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