SÃO PAULO E BRASÍLIA - Alvo de análise da Procuradoria-Geral da República ( PGR ), o ato com pauta antidemocrática realizado neste domingo em Brasília foi convocado através de chamadas apócrifas, sem convocação pública prévia por membros da base do governo Jair Bolsonaro . Aliados do presidente se engajaram na divulgação da manifestação assim que os primeiros vídeos e imagens apareceram nas redes sociais, ainda na manhã de domingo. À tarde, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, celebrou o ato durante transmissão ao vivo nas redes sociais.
Bolsonaro: Da rampa do Planalto, presidente adere a protesto contra Moro, Congresso e STF
Mensagens compartilhadas por apoiadores do presidente nas redes sociais, nos últimos dias, evitaram identificar os organizadores do ato deste domingo. No último mês, o Supremo Tribunal Federal ( STF ) autorizou a investigação por possíveis crimes na organização de manifestações antidemocráticas no dia 19 de abril. A investigação em curso mira, num primeiro momento, deputados da base bolsonarista . O próprio presidente participou da manifestação, mas não é alvo inicial do inquérito.
O chefe do Ministério Público Federal, Augusto Aras , afirmou, em nota, que deve se reunir nesta segunda-feira com procuradores de sua equipe para analisar se durante a manifestação deste domingo os participantes voltaram a defender atos antidemocráticos, como ocorrido no último dia 19. Naquele ato, manifestantes defenderam uma intervenção militar. Se os procuradores entenderem que a manifestação deste domingo teve as mesmas características, ela poderá ser incluída no inquérito aberto no STF.
Os procuradores também vão debater o fato de o presidente Bolsonaro não ter usado máscara quando desceu a rampa do Palácio do Planalto para cumprimentar os manifestantes. No Distrito Federal, o uso da proteção é obrigatório.
Eduardo Bolsonaro: 'Brasil vai ser salvo pela tia do Zap'
Como nas últimas manifestações, o ato de ontem teve ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal e ao Congresso. A novidade foram os insultos ao ex-ministro Sergio Moro. Antigo ídolo dos apoiadores de Bolsonaro, o ex-juiz da Lava-Jato virou alvo da fúria dos bolsonaristas desde que deixou o comando do Ministério da Justiça, no dia 24 de abril. Em sua despedida, Moro acusou o presidente Bolsonaro de querer interferir politicamente na Polícia Federal.
Bolsonaro tratou o protesto de ontem como um movimento “espontâneo”.
— (É uma) Manifestação espontânea, pela liberdade, pela governabilidade, pela democracia. Isso nunca aconteceu em governo nenhum — afirmou o presidente, ao deixar o Palácio do Planalto.
Em sua transmissão ao vivo, o deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que o ato deste domingo em Brasília significaria que a popularidade de seu pai "em nada foi abalada pela saída do Moro". Eduardo também agradeceu às pessoas que convocaram a manifestação através de aplicativos e redes sociais, identificando-as genericamente como "a tia do Zap".
– O Brasil vai ser salvo é pela "tia do Zap" (WhatsApp) mesmo. Por aquela pessoa que está lá até de noite, repassando (mensagens pró-Bolsonaro) no WhatsApp. Ou postando coisa alí, desmascarando o Sergio Moro – afirmou.
Os deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF) e José Medeiros (Podemos-MT), por exemplo, além de blogueiros bolsonaristas como Allan dos Santos e Leandro Ruschel, passaram o dia compartilhando fotos, vídeos e relatos da manifestação.
O grupo conservador NasRuas , fundado por Zambelli e que hoje tem como porta-voz o empresário Tomé Abduch, envolveu-se no ato, mas manteve suas lideranças longe. Grupos menores, como Direita Minas e Movimento Brasil Conservador (MBC), também ajudaram na repercussão.
O grupo Acampamento Com Bolsonaro, ex-Acampamento Lava-Jato, reuniu-se no sábado em frente à sede da PF em Curitiba para protestar contra o depoimento de Sergio Moro. Seus integrantes gravaram um vídeo dizendo que fariam ontem uma carreata.