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Política

Alinhado com Bolsonaro, Valdemar Costa Neto reassume o PL

Ex-deputado retornou à presidência do partido, que comandou à distância mesmo quando cumpriu pena no mensalão
O ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL), em foto de 2018: com discrição, dirigente partidário se aproximou de Bolsonaro Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL), em foto de 2018: com discrição, dirigente partidário se aproximou de Bolsonaro Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA - Longe dos holofotes, mas perto do poder, Valdemar Costa Neto reassumiu, sem alarde, a presidência do PL e vem liderando a aproximação do partido com o presidente Jair Bolsonaro — a sigla emplacou nomes na presidência do Banco do Nordeste e na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O objetivo de impulsionar o crescimento da legenda já começou a ser cumprido: de dois senadores eleitos em 2018, hoje são quatro, com a filiação de Romário (RJ) na semana passada; na Câmara, os 33 deputados viraram 42, o que garante o posto de maior bancada do Centrão, à frente do PP, do presidente da Casa, Arthur Lira (AL).

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A discrição, tônica do comportamento desde que foi condenado a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, também é acompanhada pela habilidade em antever os movimentos políticos — hoje com Bolsonaro, Valdemar foi aliado do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Recentemente, contrariando parte da bancada na Câmara, que preferia apoiar o nome indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comandava a Casa à época, Valdemar determinou o apoio da legenda à candidatura de Lira, o preferido do Palácio do Planalto.

O parlamentar alagoano se sagrou vitorioso, e o PL foi recompensado com a primeira vice-presidência da Câmara. O escolhido por Vadelmar para representar o partido foi Marcelo Ramos (PL-AM), um dos que antes era ligado a Maia.

— Uma característica reconhecida por todos em Brasília é que o Valdemar cumpre acordos, o que é raridade hoje em dia. Todos que vão para o PL sabem exatamente o que vai lhes acontecer — disse Ramos.

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Presidente estadual do PL no Rio, o deputado federal Altineu Côrtes diz que Valdemar tem “visão privilegiada” e “vai até o fim” nos posicionamentos. Junto ao presidente do partido, Côrtes articulou a filiação de dois senadores do Rio este ano: Carlos Portinho deixou o PSD; Romário, o Podemos. Ao primeiro, Valdemar prometeu a liderança do partido no Senado, posto que um parlamentar do estado não ocupava na Casa desde 2013, quando Francisco Dornelles liderava a bancada do PP. Já ao ex-jogador, insatisfeito no antigo partido por divergências na eleição para a presidência do Senado, foi prometida a legenda para tentar se reeleger.

Sigla indicou vice de Lula

Se conduzido por Valdemar o PL é hoje um dos principais partidos de sustentação a Bolsonaro, no passado chegou a indicar, por duas vezes, o vice na chapa de Lula, José Alencar, em 2002 e 2006. Responsável à época pela composição com o PT, Valdemar convidou Bolsonaro a se filiar ao PL este ano — o presidente, que deve definir o destino até o fim do mês, tem outras alternativas à disposição e ainda não definiu para onde vai migrar.

Altineu Côrtes avalia que não há contradição no apoio a duas figuras tão antagônicas como Lula e Bolsonaro. E, apesar dos espaços conquistados nas administrações petistas e no atual governo, nega que o partido faça alianças à esquerda ou à direita em busca de cargos:

— Não acho que seja uma questão de conveniência política. Cada momento é diferente. Quando o partido caminhou com Lula, o governo naquele momento foi um bom governo. Depois veio, infelizmente, o governo Dilma, em que as coisas se perderam. E, no momento atual, acho que precisamos de responsabilidade para ajudar nos projetos e reformas importantes para o país — disse.

Mesmo no período em que cumpriu a pena pelo mensalão, Valdemar manteve o controle do PL — o retorno formal à presidência foi concretizado no fim do ano passado. Marcelo Ramos ressalta que não há “nenhuma restrição judicial” pesando contra o dirigente, já que, em 2016, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu o indulto após o cumprimento de um quarto da pena.

— Quem é democrático não pode achar que quem já cumpriu sua pena está condenado pela vida inteira. Ele voltou a presidir o partido por um pedido nosso, da esmagadora maioria dos filiados — pondera o parlamentar.

Cedo para 2022

Apesar do apoio de momento a Bolsonaro — caminho também adotado pelo PTB, de Roberto Jefferson, outro condenado no mensalão, mas cujo comportamento histriônico é o oposto do de Valdemar —, é cedo para dizer se o PL vai endossar o projeto de reeleição no ano que vem. Tudo dependerá da popularidade do atual ocupante do Palácio do Planalto.

— O Centrão até vai no enterro e chora, mas não entra junto na cova — disse um experiente político da sigla.