Política Coronavírus

Após Ministério da Saúde orientar isolamento, Bolsonaro faz tour por Brasília: 'Defendo que todo mundo trabalhe

Atitude do presidente ocorre menos de 24 horas após ministro defender o distanciamento social para evitar um colapso do sistema de saúde por conta do coronavírus
Bolsonaro durante tour pelo Distrito Federal neste domingo Foto: Bruno Góes
Bolsonaro durante tour pelo Distrito Federal neste domingo Foto: Bruno Góes

BRASÍLIA — O presidente da República, Jair Bolsonaro , saiu do Palácio da Alvorada na manhã deste domingo para fazer um tour "aleatório" pelo Distrito Federal, como ele mesmo definiu,parando em vários pontos para cumprimentar apoiadores, em locais com concentração de pessoas. A atitude do presidente ocorre menos de 24 horas após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , defender o distanciamento social neste momento para evitar um colapso do sistema de saúde em decorrência da epidemia do novo coronavírus .

Leia: Coronavírus: aliados de Bolsonaro defendem diálogo para conter crise

Nas interações sociais, Bolsonaro defendeu que somente idosos e doentes deixem de sair às ruas por conta do coronavírus, disse que as medidas de restrição foram tomadas pelos governadores, e falou que "a cloroquina está dando certo em tudo que é lugar", ao se referir a pesquisas sobre uso do medicamente para tratar covid-19. Ontem, Mandetta foi cuidadoso ao falar que a substância não é "panaceia" e está em fase inicial de estudo.

O presidente Jair Bolsonaro desrespeitou orientações de isolamento social como medida de prevenção ao coronavírus e saiu às ruas no domingo, 29 de março de 2020. Ele publicou nas redes sociais vídeos cumprimentando e interagindo com populares pelas ruas de Ceilândia e Taguatinga, no Distrito Federal.
O presidente Jair Bolsonaro desrespeitou orientações de isolamento social como medida de prevenção ao coronavírus e saiu às ruas no domingo, 29 de março de 2020. Ele publicou nas redes sociais vídeos cumprimentando e interagindo com populares pelas ruas de Ceilândia e Taguatinga, no Distrito Federal.

A um vendedor de churrasquinho, em Ceilândia, cidade do Distrito Federal a cerca de 25 km de Brasília, Bolsonaro afirmou que defende que todos trabalhem, com exceção dos idosos. Ele deu a declaração ao ouvir do homem que após duas semanas em casa, a comida estava acabando. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), foi o primeiro a decretar medidas de isolamento.

Análise: Tour de Bolsonaro humilha Mandetta e confunde população sobre precauções contra coronavírus

— Cada governador decidiu o que fazer no seu estado. Às vezes, o remédio demais vira veneno — disse, completando:

— Eu defendo que você trabalhe, todo mudo trabalhe. Lógico, quem é de idade fica em casa.

Leia mais: Governadores, prefeitos e partidos se organizam contra discurso de Bolsonaro

O interlocutor, então, disse ao presidente que tentará se preservar para não contrair o coronavírus, mas garantindo o sustento da família com saídas para trabalhar ao menos uma vez na semana. Ele afirmou que "a morte está aí mas seja o que Deus quiser". Ao que Bolsonaro respondeu: "vai morrer, não".

— A cloroquina está dando certo em tudo que é lugar — afirmou Bolsonaro, citando um "estudo francês" que diz ter recebido há pouco.

Na porta de um supermercado, também em Ceilândia, Bolsonaro perguntou a pessoas que se aglomeravam ao redor dele o que elas achavam da regra de ficar em casa. Em meio a gritos de "mito" e pedidos para foto, ele levantou a questão:

— Na ideia de vocês, o povo tem que trabalhar ou não? — perguntou Bolsonaro.

As pessoas responderam positivamente:

— Tem que trabalhar sim, rapaz. O Brasil tem que andar, não pode parar, não — respondeu um dos populares.

Leia mais: Proposta do Ministério da Saúde prevê isolamento de três meses para idosos e abertura de bares com metade da lotação

Em rápida entrevista à imprensa, enquanto visitava um açougue, Bolsonaro disse que não ia "desautorizar quem quer que seja" ao ser questionado sobre sua defesa pelo isolamento vertical, que abrange apenas idosos e pessoas com comorbidades, ao contrário de uma restrição mais ampla como defendida pelo ministro Mandetta.

—- Eu não vou desautorizar quem quer que seja. Estou achando que esse isolamento horizontal, se continuar assim, lá na frente, com a brutal quantidade de desempregados que vem pela frente, teremos um problema seríssimo que vai  levar anos para ser resolvido. Essas pessoas humildes que perdem emprego não conseguem mais — disse o presidente.

Compartilhe por WhatsApp: clique aqui e acesse um guia completo sobre  o coronavírus

Ao ser perguntado se a própria atitude de circular pela cidade não era descumprimento das orientações do Ministério da Saúde, Bolsonaro questionou o repórter se ele seguia. O jornalista disse que está trabalhando porque a imprensa é "serviço essencial". A inclusão do setor nessa categoria foi feita por ato do próprio governo federal. O presidente, então, respondeu:

— Eu também estou trabalhando, vendo  povo, perguntando sobre essa questão de demissões, o que eles acham de trabalhar ou não, se estão com medo do vírus ou não. Não marquei a minha vinda aqui, estou parando de forma aleatória, colhendo sentimentos por parte da população. Logicamente não tenho conversado com muita gente, mas o desemprego aqui tem apavorado as pessoas, pessoas humildes, de Ceilândia, Taguatinga. E essas pessoas não têm mais o que comer em casa.

Ele voltou a falar que recebeu um "estudo de uma entidade francesa via um hospital de renomado no Brasil", sobre o uso da cloroquina para tratar pacientes de covid-19, em que 78 infectados foram curados, em um grupo de 80 pessoas. Bolsonaro não deu, no entanto, mais detalhes sobre a origem dos dados.