Política

Atlas da Violência: denúncias de homicídios contra população LGBTI crescem 127%

Levantamento utilizou dados obtidos pelo Disque 100; violência contra mulher e negros também avança
Bandeira do arco-íris é exibida na Parada do Orgulho LGBTI, no Rio Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Bandeira do arco-íris é exibida na Parada do Orgulho LGBTI, no Rio Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO - A nova edição do Atlas da Violência , divulgada nesta quarta-feira, abordou pela primeira vez a violência contra a população LGBTI - sigla que abarca lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, pessoas trans e intersex. O estudo apresentou denúncias registradas no Disque 100 - que analisa violações de direitos humanos contra a população LGBTI, crianças, idosos e outros grupos -, apontando que o número de homicídios mais que dobrou entre 2016 e 2017.

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Produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e assinado por 13 pesquisadores, o Atlas da Violência foi elaborado com registros oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS) relativas a 2017. No caso da violência contra a população LGBTI, os pesquisadores recorreram a registros do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) , do Ministério da Saúde, e também a dados do Disque 100 , ligado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por serem bases em que as notificações de violência também fazem classificação da vítima por orientação sexual .

Através do Disque 100, o número de denúncias de homicídio contra a população LGBTI chegou a 193 casos em 2017 , representando um aumento de 127% em relação a 2016, quando houve 85 registros. No mesmo período, o número de denúncias por lesão corporal também aumentou: passou de 275 casos em 2016 para 423 registros no ano seguinte, um crescimento de 53%.

Denúncias de homicídios de população LGBTI
193
85
35
28
26
19
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Fonte: Disque 100 e Atlas da Violência 2019
Denúncias de
homicídios de
população LGBTI
193
85
35
28
26
19
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Fonte: Disque 100 e Atlas da Violência 2019

São Paulo lidera denúncias

De maneira geral, o número de denúncias de violência contra a população LGBTI teve um ápice em 2012, com 3.031 registros através do Disque 100. Em 2017, o número de denúncias chegou a 1.720, apresentando queda de 8% em relação a 2016. Os pesquisadores alertam que os dados do Disque 100, por serem obtidos através de denúncias, podem refletir subnotificações em algumas áreas e até mesmo uma maior difusão do canal em determinados momentos.

De acordo com os dados do Disque 100, São Paulo é o estado com mais casos de denúncias de violência contra população LGBTI: foram 260 casos em 2017. O Rio aparece em segundo lugar, com 181 denúncias naquele ano.

Em relação às denúncias de homicídios de populações LGBTI, São Paulo segue na dianteira, com 21 casos, e o Ceará aparece na segunda colocação, com 20 registros em 2017. O Rio aparece com 14 denúncias de homicídios, atrás ainda de Minas Gerais (19) e Bahia (14).

Violência contra mulheres e negros

A edição do Atlas da Violência também apresenta aumentos nos dados de violência contra mulheres e negros. Segundo o estudo, houve 4.936 homicídios femininos em 2017, ano que registrou uma média de 13 assassinatos de mulheres por dia . O índice representa um crescimento de 30,7% em relação aos dados de 2007.

Homicídios de mulheres
4.936
4.836
4.729
4.645
4.477
3.778
2007
2010
2012
2014
2016
2017
Fonte: Atlas da Violência 2019
Homicídios
de mulheres
4.936
4.836
4.477
4.729
4.645
3.778
2007
2010
2012
2014
2016
2017
Fonte: Atlas da Violência 2019

O estudo ressalta ainda um crescimento de 29,8% na taxa de homicídios de mulheres ocorridos dentro de residências, e com uso de arma de fogo. Segundo o levantamento, 39,2% dos homicídios cometidos contra mulheres ocorreram dentro de casa - contra 15,9% em relação aos homens. Os números, segundo o relatório, apresentam indícios de aumento do crime de feminicídio - tipificado em 2015, e que se refere a homicídios que envolvam "violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher".

"Naturalmente, ainda que o número real de feminicídios não seja igual ao número de mulheres mortas dentro das residências (mesmo porque vários casos de feminicídio ocorrem fora da residência), tal proxy [referência] pode servir para evidenciar a evolução nas taxas de feminicídio no país".

Ainda de acordo com o Atlas da Violência, para cada quatro vítimas de homicídios em 2017, três eram pessoas negras . A taxa de homicídios de negros cresceu 33,1% em uma década, cerca de dez vezes mais do que a taxa de homicídios de não negros.

TAXA DE HOMICÍDIOS DE NEGROS
Taxa por 100 mil habitantes
taxa de homicídios de negros
taxa de homicídios geral
43,1
40,2
36,8
35,7
32,4
31,6
30,3
28,6
27,8
25,5
2007
2010
2013
2016
2017
Fonte: Atlas da Violência 2019
TAXA DE HOMICÍDIOS
DE NEGROS
Taxa por 100 mil habitantes
taxa de homicídios de negros
taxa de homicídios geral
43,1
40,2
36,8
35,7
32,4
31,6
30,3
28,6
27,8
25,5
2007
2010
2013
2016
2017
Fonte: Atlas da Violência 2019

"Em resumo, constatamos em mais uma edição do Atlas da Violência a continuidade do processo de profunda desigualdade racial no país, ainda que reconheçamos que esse processo se manifesta de formas distintas, caracterizando cenários estaduais e regionais muito diversos sobre o mesmo fenômeno", diz o relatório.