Política Brasília

Bolsonaro deixa isolamento e vai para a rampa do Planalto cumprimentar manifestantes

Depois de desaconselhar atos por causa do risco do coronavírus, presidente interage com apoiadores e contraria recomendações
Bolsonaro cumprimentou manifestantes Foto: Reprodução Facebook
Bolsonaro cumprimentou manifestantes Foto: Reprodução Facebook

BRASÍLIA — Contrariando as recomendações médicas de isolamento devido ao contato com pessoas diagnosticadas com coronavírus , o presidente Jair Bolsonaro aproveitou a manifestação pró-governo deste domingo para fazer um palanque no Palácio do Planalto e puxar o ato para o local, onde ficou por quase duas horas cumprimentando manifestantes e tirando fotos.

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Bolsonaro também transmitiu ao vivo em suas redes sociais a participação na manifestação, que lhe causou desgaste político nas últimas semanas por ter sido convocada como um protesto contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal ( STF ). A tônica das faixas e das palavras de ordem na manifestação de fato eram críticas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e aos ministros do Supremo, além de uma defesa enfática do governo. Ao gravar o vídeo, Bolsonaro minimizou o tom dos protestos.

— Eles não estão lutando contra Poder nenhum. Estão lutando pelo Brasil, favorável ao que o Brasil realmente possa deslanchar — defendeu Bolsonaro.

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Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto durante os atos Foto: Reprodução Facebook
Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto durante os atos Foto: Reprodução Facebook

O presidente também afirmou que, apesar de ter sugerido às pessoas que não comparecessem aos atos por causa do risco do coronavírus, não teria como impedir os atos e indicou que considera estar "superdimensionado" o assunto do coronavírus.

— Eu quero ter o prazer de um dia estar com todos os chefes de Poderes juntos e o povo aplaudindo a gente. É só isso que eu quero. Não tem preço o que esse povo aqui tá fazendo no dia de hoje. Apesar de eu ter sugerido, não posso mandar, porque a manifestação não é minha, o adiamento, dado a esse vírus que, se eu falar que tá superdimensionado aqui, vai dar manchete — afirmou.

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O presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto Foto: Aguirre Talento / O Globo
O presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto Foto: Aguirre Talento / O Globo

Durante a semana, o presidente veiculou um vídeo em rede nacional pedindo que as pessoas não comparecessem às manifestações por causa do risco do coronavírus. Bolsonaro fez nesta semana o teste para saber se havia sido infectado durante sua viagem aos Estados Unidos, mas o resultado foi negativo, de acordo com o Palácio do Planalto. Porém, para seguir o protocolo de pessoas que retornaram de viagens internacionais, ele foi aconselhado a passar uma semana em isolamento.

A participação do presidente no ato em Brasília foi criticada pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Maia afirmou que Bolsonaro comete um “atentado à saúde pública” e que contraria as orientações do seu próprio governo. Já Alcolumbre classificou a atitude como "inconsequente".

Faixas no Congresso

A concentração da manifestação em Brasília teve início por volta das 9h em frente ao Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Faixas foram amarradas em frente ao Congresso com críticas aos parlamentares e ao Judiciário, pedindo que não atrapalhassem a gestão de Bolsonaro. Uma van da legenda Aliança pelo Brasil, que Bolsonaro tenta criar após ter deixado o PSL, levou mesas e fichas de apoio para colher assinaturas com os manifestantes. Uma mesa foi montada em frente ao Congresso, enquanto outra ficou ao lado do Ministério da Justiça. Um dos fundadores da legenda no Distrito Federal, o advogado Luís Felipe Belmonte, afirmou que a colheita era um "trabalho voluntário" das pessoas para reforçar as assinaturas necessárias à criação do partido.

Em frente ao Palácio do Planalto, manifestantes exibiam faixas com 'Fora Maia" Foto: Aguirre Talento / O Globo
Em frente ao Palácio do Planalto, manifestantes exibiam faixas com 'Fora Maia" Foto: Aguirre Talento / O Globo

Dois carros de som se revezaram com palavras de ordem favoráveis à gestão do presidente e puxaram uma carreata de apoiadores em torno da Esplanada dos Ministérios. Por volta do meio-dia, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada em seu carro oficial e passou pela Esplanada para ver a manifestação. Não chegou a deixar o carro, mas diminuiu a velocidade ao lado de um dos carros de som e foi saudado pelo locutor.

Seguido por carros de apoiadores, o presidente deu uma volta em Brasília e depois foi para o Palácio do Planalto, que fica a pouco menos de um quilômetro do Congresso, onde estavam os manifestantes. Quando souberam da presença do presidente, seus apoiadores saíram das imediações do Congresso e começaram a se dirigir ao Palácio do Planalto, levando suas faixas e palavras de apoio. Uma delas, que ficou bem em frente a Bolsonaro, dizia justamente "Fora Maia", em uma crítica ao presidente da Câmara.
Bolsonaro desceu a rampa do Palácio do Planalto e passou a interagir com os manifestantes. Cumprimentava-os, pegava seus celulares para tirar selfies e até manuseava objetos pessoais dos apoiadores, como bonés e bandeiras.

— Isso não tem preço. Nós, políticos, temos como mudar o destino do Brasil. Não é um movimento contra nada, é um movimento a favor do Brasil — disse para a câmera de seu celular, em uma pausa em meio aos manifestantes.

A Polícia Militar não divulgou uma estimativa de público. No início de sua transmissão, Bolsonaro cita que haveria 7 mil pessoas na manifestação. Após deixar o Planalto, o presidente voltou para o Palácio da Alvorada e parou rapidamente na porta para cumprimentar cerca de 20 pessoas que o aguardavam. Pediu ajuda a eles para "ficar e governar".

— Vocês me botaram aqui e agora têm que me ajudar a ficar e governar — afirmou.