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'O homem precisa mudar', diz ator que vive bailarino rejeitado pelo pai na novela 'O Sétimo Guardião'

Para Eduardo Speroni, 'quem diz que a causa feminista está chata é quem tem os maiores privilégios'
Speroni: homem é criado sob ótica machista e reproduz esses comportamentos Foto: Thiago Freitas
Speroni: homem é criado sob ótica machista e reproduz esses comportamentos Foto: Thiago Freitas

RIO - Na novela "O Sétimo Guardião", ele é o jovem sonhador Bebeto. Seu sonho: tornar-se bailarino profissional. O problema: o pai não aceita sua escolha. O personagem que enfrenta o preconceito do próprio pai é interpretado pelo ator Eduardo Speroni — ele também um defensor de que o homem, "criado sob uma ótica machista", precisa mudar.

Em debate realizado neste sábado pelo Colégio e Curso de A a Z, em parceria com a plataforma de gênero e diversidade Celina, do GLOBO, o ator conversou sobre feminismo e a participação masculina na transformação do que chamou de ótica machista.

Também participaram do encontro, com o tema Feminismos & Novas Masculinidades , a jornalista e colunista do GLOBO Flávia Oliveira, a economista e presidente nacional do movimento Livres, Elena Landau, o psicanalista e escritor Sócrates Nolasco e a estudante Juliana Andrade Lessa, integrante do coletivo feminista negro Agbara.

Ao comentar a importância do feminismo e da participação masculina na luta por igualdade de gênero, Speroni afirmou:

— É claro que as mulheres são protagonistas, mas o homem precisa mudar. Ele é criado sob uma ótica machista e acaba reproduzindo esses comportamentos. E, geralmente, quem diz que a causa feminista está chata é quem tem os maiores privilégios.

Speroni, de 26 anos, diz ter crescido tendo sua sexualidade questionada, ainda que de forma velada, por parentes próximos e distantes, por não se enquadrar em alguns padrões masculinos estabelecidos pela sociedade.

— Nunca gostei de futebol, de esportes no geral. E nunca fiz academia. Não preciso ficar marombado, puxar ferro. Quando comecei a fazer teatro, as insinuações aumentaram — contou.

"Ser um homem feminino"

O ator ponderou que teve apoio da família ao fazer sua escolha profissional, apesar da preocupação dos pais com relação aos riscos de não conseguir conquistar a independência financeira com a carreira de ator. Ele também voltou a defender publicamente a quebra de padrões de gênero, como tem feito desde que a novela estreou e seu personagem, que sonha em ser dançarino, passou a sofrer preconceito do pai (interpretado por Marcelo Serrado), que considera a dança uma atividade "feminina".

— Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino — cantarolou, em referência à canção Masculino e Feminino, de Pepeu Gomes.

E seguiu:

— Todos nós somos femininos e masculinos. Imagine como eu poderia ser ator se tivesse reprimido sentimentos que são tidos como femininos? Preciso ter a capacidade de me emocionar — indagou o jovem, ressaltando que, como seu personagem, também gosta da dança.

Ele disse ainda que está feliz pelo tratamento que a novela tem dado ao tema e que acredita que a arte tem o poder de transformar culturalmente a sociedade:

— A novela chega a 70 milhões de pessoas, onde nem a água chega, muitas vezes.

Speroni reiterou sua defesa de que as mulheres têm de ser protagonistas dos movimentos feministas, mas que os homens também têm de se engajar. Ele relembrou um episódio machista vivido em família:

— Eu estudei no Colégio São Vicente, e quando chegou o ano de fazermos uma viagem com a turma para Porto Seguro, na Bahia, meu pai liberou meu irmão e eu para ir. Isso causou uma revolta muito grande das minhas duas irmãs, nove, dez anos mais velhas, pois elas tinham tido essa mesma oportunidade e meu pai não as autorizou a viajar. No meu caso, lembro dele me ajudando a fazer minha mala.