Política

Comandantes das Forças Armadas entregam os cargos

Saída de militares ocorre após Bolsonaro trocar o general Fernando Azevedo e Silva por Braga Netto no Ministério da Defesa
Comandantes Edson Pujol (Exército), Antonio Carlos Bermudez (Aeronáutica) e Ilques Barbosa Junior (Marinha) Foto: Reprodução
Comandantes Edson Pujol (Exército), Antonio Carlos Bermudez (Aeronáutica) e Ilques Barbosa Junior (Marinha) Foto: Reprodução

BRASÍLIA — O Ministério da Defesa anunciou nesta terça-feira a troca dos três comandantes das Forças Armadas.  O anúncio da substituição foi costurado pelo novo chefe da pasta, ministro Walter Braga Netto, e o seu antecessor, Fernando Azevedo e Silva, na tentativa de contornar o mal-estar para o Palácio do Planalto diante de uma possível renúncia coletiva do general Edson Pujol, do Exército, o almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior, da Marinha, e o tenente-brigadeiro do ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, da Aeronáutica.

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Na segunda-feira, os três comandantes decidiram entregar os cargos após serem surpreendidos pela demissão sumária do ministro da Defesa. A troca no comando da Defesa reflete o desejo do presidente Jair Bolsonaro de maior alinhamento político das Forças Armadas.  Com a repercussão, Braga Netto e Azevedo agiram para ter um desfecho menos traumático para crise.

Em vez de um pedido de demissão entendido como uma resistência a Bolsonaro, interlocutores da Defesa alegaram que os cargos foram pedidos pelo novo ministro.  A saída simultânea durante um governo dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica não tem precedentes.

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"O Ministério da Defesa (MD) informa que os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão substituídos. A decisão foi comunicada em reunião realizada nesta terça-feira (30), com presença do  Ministro da Defesa nomeado, Braga Netto, do ex-ministro, Fernando Azevedo, e dos Comandantes das Forças", diz trecho da nota divulgada pelo Ministério da Defesa.

Segundo fontes do Alto Comando do Exército, a pressão exercida sobre as Forças Armadas era para que os comandantes demonstrassem mais fidelidade ao governo Bolsonaro e suas ações, e não por uma ruptura institucional. A tensão entre militares e o governo cresceu com o episódio. A avaliação é de que a atitude de Braga Netto irá determinar se a crise irá aumentar ou não de temperatura a partir de agora.

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Militares que integram o governo têm se esforçado para minimizar a repercussão e tentam dar um ar de normalidade à troca.  Afirmam ainda que, independentemente de quais sejam os novos comandantes das Forças, eles atuarão para preservar Exército, Marinha e Aeronáutica como instituição de estado, blindando da influência política.

Para o comando do Exército o mais cotado é o general Marco Antônio Freire Gomes, atual Comandante Militar do Nordeste e ex-secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional no governo de Michel Temer.  Entre militares ele é considerado moderado. O Alto Comando se reúne para indicar a Bolsonaro para indicar o substituto do general Pujol.

Na segunda-feira, Bolsonaro promoveu seis mudanças no seu ministério, entre elas a saída do general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, pasta à qual as Forças Armadas estão vinculadas. Para seu lugar, o presidente deslocou Braga Netto.

A demissão de Azevedo foi interpretada por integrantes das Forças Armadas como uma tentativa de Jair Bolsonaro enquadrar os militares. Surpreendidos, os comandantes das três forças fizeram uma reunião na tarde de ontem.

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Após ser demitido em uma conversa de cerca de cinco minutos, Azevedo divulgou nota dizendo que saiu “na certeza da missão cumprida”, sem explicar o motivo da demissão, mas ressaltando que preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”. O tom do texto, segundo militares, expôs a pressão que o ministro vinha sofrendo de Bolsonaro. O presidente já vinha demostrando uma insatisfação com o Ministério da Defesa, pois quer das Forças Armadas um maior alinhamento ao governo.

A maior cobrança mirava Pujol, comandante do Exército, que sempre tentou se distanciar dos vínculos com o governo. Em novembro do ano passado, com aumento das críticas ao então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ele disse que “militares não querem fazer parte da política”, delimitando que o Exército é uma instituição de Estado e não de governo.

A tensão foi aumentando até que Bolsonaro pediu que Pujol saísse. Azevedo e Silva atuou como escudo e não quis fazer a troca. O estopim para a demissão do ministro foi uma entrevista concedida ontem pelo general Paulo Sérgio, chefe do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, ao jornal “Correio Braziliense” na qual ele disse que o Exército já se preparava para a terceira onda da pandemia da Covid-19. Bolsonaro pediu punição ao militar, mas Pujol resistiu e teve o aval do ministro.