Brasil

Brasileira morre de fome e sede na travessia da fronteira entre México e EUA: 'uma das situações mais tristes que já vi', diz policial

Segundo o escritório do xerife do condado de Luna, a mulher tinha tentado entrar no país de forma ilegal
Lenilda dos Santos, de 49 anos, morreu após atravessar a fronteira do México com EUA Foto: Reprodução
Lenilda dos Santos, de 49 anos, morreu após atravessar a fronteira do México com EUA Foto: Reprodução

DEMING — O corpo de uma brasileira de 50 anos foi encontrado nesta quarta-feira por uma patrulha norte-americana numa área desértica ao Sul de Deming, uma cidade do Novo México, nos Estados Unidos. Segundo o escritório do xerife do condado de Luna, havia com ela um passaporte que a identificava como Lenilda dos Santos. Os investigadores disseram ao portal de notícias "Deming Headlight" que ela tinha tentado entrar no país de forma ilegal. Lenilda era técnica em enfermagem e vivia em Vale do Paraíso, em Rondônia. Lenilda, que havia se separado grupo que atravessava a fronteira com ela,  provavelmente morreu de sede e fome.

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De acordo com o escritório do xerife, a mulher havia ligado a seus parentes que vivem em Massachusetts, avisando que havia sido deixada para trás pelo grupo e, sem água e comida, estava com medo de morrer. Relatos à polícia indicam que Lenilda compartilhou sua localização com eles, mas a família demorou três dias para entrar em contato com a polícia. No entanto, parentes que moram no Brasil dizem que tentaram buscar ajuda imediatamente, entrando em contato com advogados e brasileiros nos EUA. Segundo eles, Lenilda teria sido abandonada pelos parceiros do trajeto ao passar mal devido ao calor do deserto.

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O capitão Michael Brown mostrou-se surpreso pelo que aconteceu.

— Esta é uma das situações mais tristes que já vi — disse o policial.

Lenilda dos Santos morreu de fome e sede na travessia da fronteira entre México e EUA: 'uma das situações mais tristes que já vi', diz policial.
Lenilda dos Santos morreu de fome e sede na travessia da fronteira entre México e EUA: 'uma das situações mais tristes que já vi', diz policial.

Uma das pessoas contatadas pela família de Lenilda foi o brasileiro Kleber Vilanova, morador de Ohio, cuja empresa atua na área de imigração. Ele disse que a mulher carregava um aparelho celular que ainda estava com um chip do Brasil e tinha pouco crédito. Foi assim que conseguiu enviar seu último pedido por socorro.

— Nesse telefone, ela conseguiu força suficiente para poder mandar a localização para um parente no Brasil. Ela enviou áudios, que são terríveis, falando que estava morrendo de sede, que não estava aguentando. A família começou a agir imediatamente — relatou Kleber, explicando ter sido procurado no último fim de semana.

O empresário contou que a polícia realizou várias buscas, sejam aéreas ou pelo solo, mas custou bastante a encontrá-la. Por ter convicção que Lenilda não havia conseguido escapar do deserto, Kleber afirmou ter reforçado seus pedidos à patrulha por novas operações de resgate.

— Ela começou a ficar desidratada, a passar muito mal e não conseguiria continuar. O que aconteceu foi que os supostos amigos dela, junto com o "coiote", simplesmente a abandonaram lá. Ela ficou  sozinha no meio do deserto e eles continuaram a caminhada.

A localização da brasileira foi difícil de ser descoberta, pois ela estava numa região ampla de deserto, com a residência mais próxima a 400 metros de distância. Além disso, ela vestia uma roupa camuflada para dificultar a visão da polícia. A escolha desse tipo de vestimenta é comum entre imigrantes ilegais.

— Isso é algo que vemos continuamente — contou Brown, lamentando a atuação dos traficantes de pessoas na região, por buscarem "maneiras de ganhar dinheiro às custas de vidas humanas".