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Descobridores do vírus da hepatite C ganham Nobel de Medicina de 2020

Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice conseguiram, respectivamente, identificar a doença, isolar o micróbio e relacioná-lo à enfermidade
Integrantes do Comitê Nobel apresentam os vencedores do prêmio de Medicina Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
Integrantes do Comitê Nobel apresentam os vencedores do prêmio de Medicina Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

SÃO PAULO — O prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2020 foi concedido nesta segunda-feira a Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice pela descoberta do vírus da hepatite C.

O trabalho que mais tarde levou ao isolamento do vírus começou com o americano Alter em 1972, que na época trabalhava nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês). O pesquisador trabalhou na triagem de pacientes para identificar vítimas do vírus da hepatite B, recém-descoberto.

Trabalhando com identificação de potenciais vítimas desse outro vírus em triagem num banco de sangue, ele demonstrou que uma parte considerável dos pacientes que adquiriam problemas no fígado após transfusões pareciam ser vítimas de um outro patógeno, desconhecido até então.

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Mais tarde, o britânico Houghton, que trabalhava na empresa farmacêutica Chiron, conseguiu clonar fragmentos do RNA do vírus da hepatite C a partir do sangue de um chimpanzé infectado. Combinando o material com anticorpos de pacientes humanos infectados, o pesquisador mostrou que a doença estava ligada a um retrovírus específico, em 1989.

Descoberta em três etapas
Como foi o trabalho de identificação do vírus da hepatite C como causador da doença
Quem ganhou o prêmio
Os descobridores do vírus da hepatite C, que provoca deterioração crônica do fígado e pode matar por cirrose e falência hepática, ou induzir surgimento de tumores
Como foi a descoberta?
Em 1972
Harvey Alter mostrou que algumas vítimas de hepatite que contraíram a doença por transfusão de sangue não possuiam nenhum patógeno ligado a esse tipo de enfermidade até então
Em 1989
Michael Houghton, conseguiu isolar o vírus. Ele mostrou que anticorpos humanos reconheciam um vírus clonado a partir
de amostras de sangue de um
chimpanzé infectado
Em 1997
Charles Rice provou num experimento que o vírus causava a doença. Usando fragmentos de RNA do patógeno ele conseguiu provocar a enfermidade no fígado em chimpanzés não infectados
Qual a importância
A partir da identificação do vírus, diagnósticos passaram identificar doentes de hepatite C e prevenir infecções por transfusão de sangue, além de possibilitar pesquisa para a criação de medicamentos. Não há vacina ainda
Descoberta em três etapas
Como foi o trabalho de identificação do vírus da hepatite C como causador da doença
Quem ganhou o prêmio
Os descobridores do vírus da hepatite C, que provoca deterioração crônica do fígado e pode matar por cirrose e falência hepática, ou induzir surgimento de tumores
Como foi a descoberta?
Em 1972
Harvey Alter mostrou que algumas vítimas de hepatite que contraíram a doença portransfusão de sangue não possuiam nenhum patógeno ligado a esse tipo de enfermidade até então
Em 1989
Michael Houghton, conseguiu isolar o vírus. Ele mostrou que anticorpos humanos reconheciam um vírus clonado a partir
de amostras de
sangue de um chimpanzé infectado
Em 1997
Charles Rice provou num experimento que o vírus causava a doença. Usando fragmentos de RNA do patógeno ele conseguiu provocar a enfermidade no fígado em chimpanzés não infectados
Qual a importância
A partir da identificação do vírus, diagnósticos passaram identificar doentes de hepatite C e prevenir infecções por transfusão de sangue, além de possibilitar pesquisa para a criação de medicamentos. Não há vacina ainda

Faltava ainda, porém, provar que era esse vírus que estava causando a doença. Em 1997, Rice, da Universidade Washington de St. Louis (EUA), conseguiu provocar a enfermidade em chimpanzés usando apenas um patógeno artificial reconstruído a partir do RNA do vírus da hepatite C, mostrando que ele era o culpado pela deterioração crônica do fígado dos pacientes a partir do qual fora isolado.

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Thomas Perlmann, secretário-geral do comitê do Nobel, justificou a concessão do prêmio aos três pesquisadores dizendo que o vírus afeta milhões de pessoas. O trabalho dos três cientistas levou ao estabelecimento de testes diagnósticos que permitem a implementação de medidas preventivas e, mais recentemente, a terapias efetivas contra o vírus.

Cada um dos ganhadores do Nobel deste ano receberá uma parcela do prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,1 milhão, ou R$ 5,7 milhões), dividido em três partes iguais.

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Nenhum dos três pesquisadores permanece na instituição em que estava quando fez a descoberta premiada. Rice, de 68 anos, está hoje na Universidade Rockefeller, de Nova York. Houghton está na Universidade de Alberta, no Canadá. Alter, hoje com 85 anos, permaneceu no NIH até se aposentar.

O Nobel de Medicina deste ano excluiu da lista um quarto possível vencedor, Michael Sofia, um dos inventores do sofosbuvir, a droga mais eficaz para tratar a hepatite C hoje. Pelas regras da premiação, o Karolinska nunca reparte um prêmio entre mais de três pessoas. Sofia, que hoje dirige a empresa Arbutus Biopharma, recebeu em maio o Prêmio Cameron, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que frequentemente é um passo inicial para futuros vencedores do Nobel.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula em quase 70 milhões o número de infecções por hepatite C, que provoca 400.000 mortes por ano.

O anúncio do prêmio foi feito nesta manhã no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia), instituição que administra a premiação. A sequência dos Nobel de 2020 continua ao longo desta semana.

O prêmio de Física é concedido terça-feira (6), seguido do de Química no dia seguinte, depois Literatura e Paz. No fim de semana há uma pausa, e na próxima segunda-feira, 12 de outubro, serão anunciados os vencedores em Economia.

O ritual de anúncio dos prêmios teve algumas alterações neste ano, por causa da pandemia da Covid-19. O tradicional banquete realizado em dezembro para a entrega formal dos prêmios foi cancelado. As medalhas e diplomas serão enviados a cada um em sua casa e haverá um evento por videoconferência no lugar da cerimônia.

A sessão de anúncio dos ganhadores hoje em Estocolmo, porém, não teve tantas restrições. Integrantes do comitê do Nobel, funcionários e jornalistas se reuniram em uma sala fechada e não estavam usando máscaras, apesar de manterem distância uns dos outros.

Confira abaixo a lista dos últimos ganhadores do Prêmio Nobel na categoria Medicina e Fisiologia:

2019 : William Kaelin e Gregg Semenza (EUA) e Peter Ratcliffe (Reino Unido) por suas pesquisas sobre a adaptação das células ao aporte variável de oxigênio, o que permite lutar contra a anemia e o câncer.

2018 : James P. Allison (Estados Unidos) e Tasuku Honju (Japão) por suas pesquisas sobre a imunoterapia especialmente eficaz no tratamento de casos de câncer agressivos.

2017 : Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young (EUA) por suas descobertas sobre o relógio biológico interno que controla os ciclos de vigília-sono dos seres humanos.

2016 : Yoshinori Ohsumi (Japão) por suas pequisas sobre a autofagia, cruciais para entender como se renovam as células e a resposta do corpo à fome e às infecções.

2015 : William Campbell (de origem irlandesa), Satoshi Omura (Japão) e Tu Youyou (China) por terem desenvolvido tratamentos contra infecções parasitárias e malária.

2014 : John O'Keefe (Estados Unidos/Reino Unido) e May-Britt e Edvard Moser (Noruega) por suas pesquisas sobre o "GPS interno" do cérebro, que pode permitir avanços no conhecimento do Alzheimer.

2013 : James Rothman, Randy Schekman e Thomas Südhof (EUA), por seus trabalhos sobre os transportes intracelulares, que ajudam a conhecer de modo mais eficaz doenças como a diabetes.

2012 : Shinya Yamanaka (Japão) e John Gurdon (Reino Unido) por suas pesquisas sobre a reversibilidade das células-tronco, que permite criar todo tipo de tecido do corpo humano.

2011 : Bruce Beutler (EUA), Jules Hoffmann (França) e Ralph Steinman (Canadá), por seus estudos sobre o sistema imunológico que permite ao organismo humano se defender de infecções, favorecendo a vacinação e a luta contra doenças como o câncer.

(Com informações da AFP)