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Por Pâmela Dias


'Aos 50 anos, divorciada, conheci a Fulvia', conta Maria Rita (à esq.), que está casada com companheira há 23 anos  Agência O Globo — Foto:
'Aos 50 anos, divorciada, conheci a Fulvia', conta Maria Rita (à esq.), que está casada com companheira há 23 anos Agência O Globo — Foto:

RIO - Nem cedo, nem tarde, mas no tempo de cada uma. Nunca, desde que o termo passou a ser usado nos anos 1980, o fenômeno das late-blooming lesbians (ou lésbicas tardias) despertou tanto debate sobre a sexualidade feminina. Cada vez mais se fortalece um entendimento de que não importa se a mulher se descobriu gay depois de anos de vida heteronormativa ou se ela continua a gostar de homens mas se entregou a uma história de amor como a atriz Maitê Proença, de 64 anos, que engatou romance com a cantora Adriana Calcanhotto. O fato é que as mulheres nunca foram tão livres.

E o conceito de lésbicas tardias tem ajudado muito nessas descobertas. Coordenadora do Grupo de Estudos em Lesbianidades da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a professora Joana Ziller explica que os relatos de mulheres que optaram por uma relação homoafetiva depois dos 30 se intensificam à medida da quebra dos preconceitos contra pessoas LGBTQIA+. Ziller pontua que não há uma explicação concreta para o fato de mulheres se sentirem atraídas por outras em idade mais madura. Cada caso é um caso. Mas, com maior aceitação de outras possibilidades de relacionamentos, essas experiências têm se tornado mais comuns.

— O termo late-blooming-lesbians chega a ser poético por representar uma mulher que floresce como lésbica após a juventude. Mas, como quase tudo relacionado à sexualidade humana, não há resposta para esse fenômeno. É muito importante se questionar: o desejo floresceu realmente depois dos 30 anos ou a heteronormatividade foi tamanha que impossibilitou de se pensar no assunto? — questiona Joana.

Na peça autobiográfica “O pior de mim”, em cartaz no Teatro Prudential, no Rio, a atriz Maitê Proença, de 64 anos, revisita episódios marcantes de sua vida. Lançado virtualmente em 2020, o espetáculo traz, entre outros temas, comentários da atriz sobre homens e machismo. Em entrevista à revista Quem, Maitê falou sobre o relacionamento que assumiu publicamente com Calcanhotto, no ano passado. Embora goste de homens, ela disse apenas que se encantou por Adriana, que por sua vez gosta de mulher. E foi tudo.

‘Me arrepiei toda’

Outros relacionamento florescem no rastro dessa liberdade. A psicóloga Maria Rita Lemos se descobriu lésbica aos 50 anos, após três décadas se relacionando com homens. Maria Rita, hoje com 74, conta que levava uma vida nos “moldes tradicionais”: casou-se cedo, gerou duas filhas e, após ficar viúva, conheceu um outro homem com quem teve mais um filho. À época, nem passava pela sua cabeça a possibilidade de se relacionar amorosamente com uma mulher. Mas isso mudou no dia 16 de outubro de 1998, quando, em um bate-papo virtual, ela conheceu a motorista de aplicativo Fulvia Margotti, de 60 anos.

— Eu me apaixonei pela foto de perfil dela. Ela estava de farda e segurando um cachorrinho. A Fulvia tinha tudo o que eu procurava, mas eu não sabia como seria nossa conexão física presencialmente, porque nunca tinha tido experiência com outra mulher. Quando nos vimos e ela encostou no meu braço no carro, me arrepiei toda — lembra Maria Rita, que gosta de contar em detalhes seu encontro para ajudar na desconstrução de sentimentos de culpa de outras mulheres.

Apesar de Fulvia ter sido sua primeira e única experiência homoafetiva, Maria Rita diz que em momento algum ficou apreensiva em relação à fluidez de sua orientação sexual:

— Minha esposa me satisfaz em todos os sentidos da vida. O companheirismo é total e a vida sexual melhorou. Não gosto de rótulos. Desde que nos conhecemos, não tive mais interesse por homens e nem por outra mulher — conta Maria Rita, casada com Fulvia há 24 anos.

O encontro com a própria sexualidade não foi tão tranquilo para a aposentada Willman Defacio, de 74 anos, que descobriu que gostava de mulheres aos 38. Na época, vencida pelo preconceito, a possibilidade de um namoro homoafetivo era nula. Mas, ao dar início a um processo de divórcio, se percebeu interessada por uma colega de trabalho. Naquele momento, realizou que não sentia paixão nas antigas relações porque gostava de mulheres. Este ano, ela completa 28 anos de casada com Angela Fontes:

— Eu sabia que não sentia prazer com o meu ex-marido, mas não entendia o motivo. Depois dessa experiência, só me relacionei com mulheres e hoje tenho a sorte de dividir a vida com a Angela — conta Willman , que não teve problemas em contar sobre sua descoberta para a família.

Amadurecimento afetivo

Por se descobrirem lésbicas após os 30, grande parte das late-bloomers já foi casada com homens e teve filhos. De acordo com a psicóloga Fabiana Esteca, que estuda gênero e sexualidade humana, toda essa descoberta requer autoconhecimento e independência para vencer barreiras sociais e, por isso, acontece em idade avançada. É como se fosse possível viver uma “segunda adolescência” com a maturidade.

— Depois dos 30 existe um amadurecimento afetivo sexual, uma apropriação do próprio corpo. Elas se permitem experimentar outros tipos de relacionamentos e se encontram. Existe também uma parcela que tem uma sexualidade fluida e vai sentir atrações diferentes ao longo da vida — explica Fabiana, observando que é importante que essas mulheres sejam acolhidas pela família e pelos amigos. — As late-bloomers constroem uma identidade social pautada na heterossexualidade. Ao se assumirem, muitas são lidas como farsantes, como se estivessem a todo esse tempo dentro do armário, o que não é a verdade. Esse questionamento faz elas duvidarem da própria sexualidade novamente e é o momento onde surgem conflitos internos.

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