Direitos Humanos
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Por Arthur Leal — Rio de Janeiro

'Reconstrução'. Esse é o principal objetivo traçado por Desirrê Freitas, de 26 anos, neste fim de ano, segundo suas próprias palavras. De volta ao Brasil – e à família –, a jovem dá um relato exclusivo, onde, pela primeira vez, afirma ter sido vítima em solo americano de manipulação e privação de liberdade por parte de Katiuscia Torres Soares, de 34 anos. A falsa guru, conhecida como Kat Torres, está presa preventivamente desde o mês passado, quando foi deportada, e é investigada por tráfico de pessoas e exploração sexual supostamente cometidos nos EUA contra mulheres brasileiras. Desirrê conta que, durante os últimos meses em que foi dada como desaparecida por parentes e amigos, foi obrigada a mentir e afastá-los: uma farsa, de acordo com ela, arquitetada pela antiga mentora, que definia a si própria por trás das câmeras e das redes sociais como uma pessoa fria e calculista. Também pede desculpas publicamente por falsas acusações feitas na internet, sobretudo à top model Yasmin Brunet, que teriam sido igualmente orquestradas por Torres.

– Hoje, eu tenho plena consciência que fui vítima de Katiuscia Torres Soares. Ela utilizou da minha fé, espiritualidade, empatia e do sentimento de amizade que eu tinha por ela para fazer com que eu mudasse de país e efetuasse coisas que vão contra a minha essência – declara Desirrê. – Por meio de manipulação e abuso de fé, ela fez com que eu me afastasse das pessoas que eu mais amava, até que me vi completamente sozinha, sem escapatória e totalmente sob o domínio dela.

Desirrê acrescenta ainda que, ao contrário do que afirma Kat Torres, através de sua defesa, elas não são amigas.

– Apesar das declarações falaciosas de Katiuscia, de que seríamos três amigas (citando Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, que viveu situação idêntica e também já retornou ao Brasil), a mesma já me disse abertamente que para ela não existe amizade, que é fria e calculista, que usa e manipula pessoas para alcançar seus objetivos – acrescentou.

Após amigos e parentes começarem a divulgar notícias sobre seu desaparecimento, em meados de outubro, Desirrê apareceu em vídeos onde, agressivamente, ordenava que eles parassem de procurá-la. Dizia estar ali por vontade própria e reforçava que estava bem. Mas a intonação, as palavras escolhidas, e a própria personalidade bem diferente da já conhecida por eles, logo despertaram a suspeita de que talvez ela estivesse sendo coagida. Um grupo, chamado "searchingdesirrê" chegou a ser criado para tentar encontrá-la e resgatá-la e também foi vítima de ataques.

Vítima ou cúmplice?: Desirrê foi presa nos EUA e deverá ser deportada — Foto: Fraklin County Sheriff's Office
Vítima ou cúmplice?: Desirrê foi presa nos EUA e deverá ser deportada — Foto: Fraklin County Sheriff's Office

Com a grande repercussão do caso no Brasil, a modelo internacional Yasmin Brunet, comovida com o desespero das famílias de Desirrê e Letícia, tentou se movimentar para tentar ajudá-las de alguma forma. Foi quando, então, passou a ser ameaçada e acusada por Kat, Letícia e Desirrê por crimes que nunca cometera, de cárcere privado, tráfico de pessoas e exploração sexual. Crimes pelos quais Torres é hoje investigada e a jovem afirma: ela praticava.

– Gostaria de pedir desculpas e fazer uma retração pública às pessoas para quem disse inverdades na internet. Fiz isso cumprindo ordem de Katiuscia, nunca quis magoar ou manchar a honra de ninguém. Então, eu gostaria de pedir desculpas à Yasmin Brunet. Quando proferi aquelas palavras, foi novamente a mando de Katiuscia. Ela queria lançar uma cortina de fumaça acusando Yasmin Brunet de coisas que ela mesma realizava. Yasmin Brunet é uma personalidade pública que sempre admirei como modelo e agora como pessoa. Yasmin foi injustamente envolvida em uma confusão por preocupação altruísta e por querer nos ajudar – afirma.

Leticia e Desirré: famílias buscam a localização das duas — Foto: Reprodução
Leticia e Desirré: famílias buscam a localização das duas — Foto: Reprodução

Desirrê pede desculpas, também, por ter mentido durante um podcast da escritora e influenciadora digital Vanessa de Oliveira, quando disse categoricamente que não havia qualquer prática de tráfico de pessoas acontecendo na casa de Kat Torres, e que elas não eram vítimas.

– Gostaria de pedir desculpas também à Vanessa de Oliveira. A pedido de Katiuscia também solicitei a realização de uma live, após, Katiuscia decidiu que não iríamos mais participar da live que por ela foi solicitada, caracterizando total falta de respeito e prejudicando o trabalho de profissionais sérios.

O relato da jovem sobre manipulação e exploração de suas fragilidades vai de encontro com o de dezenas de outras mulheres ouvidas pelo Ministério Público Federal (MPF), que investiga o caso, e também é endossado por supostas vítimas ouvidas pela reportagem do GLOBO nos últimos meses. MPF e Polícia Federal investigam se Kat Torres criou uma espécie de seita para atrair brasileiras aos EUA e explorá-las de várias formas através desta cortina de fumaça.

Por fim, a jovem paulista agradece o apoio de quem esteve do lado dela durante os últimos meses e diz que o foco, agora, é em retomar a vida normal. Ela vivia fora do país há 9 anos. Na Alemanha, antes de ser aliciada por Katiuscia, ela trabalhava como consultora de imigração.

– Nesse próximo ano estarei focada na reconstrução da minha vida. Sempre fui uma mulher independente financeiramente e a reconstrução de minha carreira será minha prioridade, por isso peço encarecidamente a todos que respeitem a minha privacidade para que eu consiga me reconstruir e virar de vez essa página. Por último, gostaria de agradecer imensamente à todas as pessoas que se preocuparam comigo e ajudaram para que eu pudesse retornar ao Brasil em segurança.

Kat, Desirrê e Letícia, em última foto publicada antes de terem sido presas nos EUA — Foto: Reprodução
Kat, Desirrê e Letícia, em última foto publicada antes de terem sido presas nos EUA — Foto: Reprodução

A defesa de Kat Torres nega todas as acusações contra ela e, sobre as declarações dadas por Letícia e Desirrê esta semana, diz que só irá se manifestar quando tiver conhecimento nos autos.

Letícia Maia e Desirrê Freitas retornaram ao Brasil há pouco mais de uma semana, após terem assinado um termo de deportação voluntária. Elas haviam sido detidas pela polícia de imigração junto com Katiuscia no estado de Maine (EUA), que faz fronteira no Canadá. Letícia afirma que o acordo foi firmado depois que as autoridades americanas entenderam que ambas eram vítimas de exploração. O MPF investiga o caso. Na justiça brasileira, as três ainda respondem por um processo de calúnia, difamação e ameaça movido por Yasmin Brunet. A reportagem tentou contato com a defesa da modelo, mas não obteve retorno.

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