Antônio Gois
PUBLICIDADE
Antônio Gois

Um espaço para debater educação

Informações da coluna

Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

Por

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 09/09/2024 - 04:30

Desafios da Conectividade nas Escolas Brasileiras.

Escolas desconectadas enfrentam desafios na oferta de tecnologia para melhorar aprendizagem. A correlação entre recursos tecnológicos e resultados acadêmicos é incerta, podendo refletir desigualdades. A implementação eficaz requer estratégias pedagógicas. Apesar de investimentos, a promessa de conexão total ainda não foi cumprida no Brasil. A conectividade pode impactar positivamente o ensino, mas exige infraestrutura adequada em todas as escolas.

A disponibilidade de recursos tecnológicos nas escolas (mensurados pela oferta de internet para ensino e aprendizagem e de ao menos um equipamento de acesso para cada grupo de 10 alunos) está associada a melhores resultados de aprendizagem. A conclusão é de um levantamento que será divulgado nesta semana pelo Cieb (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), realizado a partir do Censo Escolar e dos resultados, recém-divulgados, do Sistema de Avaliação da Educação Básica.

Pelos dados, não é possível afirmar que esses recursos tecnológicos são a causa de um melhor desempenho acadêmico. A correlação identificada, porém, pode demonstrar tanto algum impacto na aprendizagem quanto uma distribuição injusta desses recursos, com maior concentração naquelas de melhor resultado, que tendem a ser também as que atendem estudantes de maior nível socioeconômico.

Sobre a hipótese de a tecnologia ter impacto na melhoria da aprendizagem, a literatura acadêmica mostra que a simples oferta de equipamentos não garante sucesso, mas, quando associado a uma boa estratégia pedagógica, os resultados são promissores. Sobre a desigualdade, não resta dúvida de que temos um sério problema. Um estudo do Núcleo de Estudos Raciais do Insper e da Fundação Telefônica Vivo mostra, por exemplo, que escolas com maior proporção de alunos negros apresentam pior infraestrutura tecnológica.

Pode haver algum debate sobre a forma como a tecnologia deva ser utilizada nas escolas, mas há pouca discordância em relação à necessidade de, em pleno século XXI, assegurarmos que todos os estabelecimentos de ensino contem com uma conexão adequada. No entanto, reportagem de Karolini Bandeira, no GLOBO, mostrou em julho que 48% dos 138 mil estabelecimentos públicos de ensino do país sequer monitoravam a qualidade da conexão. Apenas 19% entre aquelas que conseguiam mensurar reportavam ter qualidade boa ou ótima. Se essa proporção for calculada considerando o total de 138 mil estabelecimentos (incluindo, portanto, os que não monitoravam a qualidade), são só 10%.

No dia 26 deste mês, completaremos um ano da promessa feita pelo presidente Lula, no lançamento do Plano Nacional de Escolas Conectadas, de garantir que 100% das escolas públicas tenham internet de qualidade até o fim de seu mandato. Desde então, porém, avançamos pouco. E, nesse caso, o problema não parece ser falta de dinheiro, pois só de recursos arrecadados com o leilão do 5G há garantia de R$ 3,1 bilhões para conectar escolas, além de verbas do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) e de programas federais.

Logo após o anúncio de Lula, o governo executou um programa piloto em 177 escolas. Neste ano foram anunciados chamamentos públicos para as fases 2 e 3, para atendimento a mais 5.107. Recentemente, o governo anunciou mais uma fase, prevendo a implementação de conectividade em mais 20 mil escolas, mas ainda sem cronograma detalhado dos estabelecimentos a serem contemplados. Ou seja, para cumprir a meta de garantia de conexão adequada em 138 mil estabelecimentos, será preciso acelerar muito mais a partir do ano que vem.

A grande contribuição que a conectividade pode dar à aprendizagem depende de seu uso pedagógico. Mas, para isso, é preciso antes garantir a infraestrutura adequada em todas as escolas.

Mais recente Próxima As desigualdades no ensino de tempo integral