Educação
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Por — Rio

Samuel Alves, de 10 anos, fez o 2º ano do ensino fundamental em 2020, bem no ano da maior crise sanitária dos últimos cem anos. Mineiro de Ubá, acabou não conseguindo — como muitos da sua geração — se alfabetizar plenamente durante a pandemia de Covid-19 e chegou ao 5º ano, em 2023, com dificuldades.

— O professor do Samuel me informou que a leitura dele não era fluente, que faltava compreensão e que havia dificuldade de escrita — contou Aline Ferrer de Oliveira, professora de reforço do menino na Escola Municipal Mere Maria D’Aquino.

Dados de uma pesquisa inédita no Brasil mostram que a dificuldade encontrada por Samuel é compartilhada. O estudo descobriu que crianças bem alfabetizadas até o 2º ano do ensino fundamental têm 2,6 mais chances de atingirem um nível avançado de aprendizagem no 5º ano do ensino fundamental.

Em outras palavras, a probabilidade de um aluno alcançar o nível avançado de proficiência em Língua Portuguesa no 5º ano é de 55% se ele foi alfabetizado no tempo adequado e de apenas 21% se não foi. Em Matemática, essa diferença é, respectivamente, de 40% para o primeiro grupo de estudantes e 15% para o segundo.

O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes) da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Ceará, com apoio da Fundação Lemann e do Instituto Natura. Ele conseguiu analisar o desempenho dos mesmos alunos quando estavam no 2º ano e depois no 5º ano do fundamental. A base de dados utilizada é a da rede pública do Ceará, e os resultados foram projetados para nível nacional usando o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

— Obviamente a pandemia tornou essa situação dramática, calamitosa, mas também é verdade que a gente já vivia defasagens muito cedo na escola — explicou Daniela Caldeirinha, diretora de Alfabetização da Fundação Lemann.

Dados do Saeb apontam que, em 2019, 55% dos estudantes brasileiros de 2º ano atingiram o nível apontado pela pesquisa como adequado. Dois anos depois, esse percentual caiu para 35%. O patamar foi definido pelo Ministério da Educação, em maio, após consulta pública com diferentes especialistas.

Nesse patamar, as crianças, entre outras habilidades, leem “pequenos textos formados por períodos curtos e localizam informações na superfície textual”; “produzem inferências básicas, com base na articulação entre texto verbal e não verbal, como em tirinhas” e “escrevem, ainda com desvios ortográficos, textos que circulam na vida cotidiana para fins de uma comunicação simples: convidar, lembrar algo, por exemplo”.

— Quando um menino não consegue uma alfabetização adequada, isso compromete o raciocínio lógico, a capacidade de compressão do vocabulário, inclusive na fala — afirmou Roberta Loboda Biondi Nastari, pesquisadora responsável pelo Lepes.

A boa notícia, segundo as especialistas, é que dá para recuperar. Com bastante trabalho e investimento não há caso perdido. Alguns municípios, inclusive, estão trabalhando ativamente para recuperar a aprendizagem de crianças que não conseguiram alcançar o nível adequado. Cidades como Cariacica (ES), São Vicente (SP), Presidente Figueiredo (AM) e Moju (PA) adotaram uma gama de mecanismos, como a enturmação de alunos por nível de conhecimento (e não por idade); a priorização curricular de habilidades basilares; e até trabalhos de recuperação de aprendizagem com alta intensidade de aulas em período curto de tempo.

Foi num desses programas que Samuel conseguiu superar muitas dificuldades da pandemia. Além das aulas regulares, o menino passou a ser acompanhado pelo programa “Recomposição da Aprendizagem”, da prefeitura de Ubá. Em seis meses, a leitura e a fluência dele melhoraram, assim como a compreensão de texto e a escrita. Nessas aulas de reforço, a professora Aline acompanha a criança numa turminha com só mais dois estudantes. Assim, consegue observar as dificuldades e garantir a evolução do trio.

— O professor passa as dificuldades dos alunos e vou trabalhar em cima disso. Dou uma atividade relacionada a essa atividade e observo como eles resolvem. A partir disso, vou criando as estratégias e atividades para trabalhar as dificuldades desses alunos. Por isso o grupo precisa ser menor, para eu estar próxima deles. — conta a professora Aline. — E a parceria com a família é muito importante. Tivemos os melhores resultados com as famílias que abraçaram nosso projeto, e a mãe do Samuel foi muito importante porque nos apoio. O avanço dele foi muito visível.

Esforço conjunto

A estratégia também tem sido adotada em Caxias do Sul (RS). Cada escola tem pelo menos um professor dedicado a trabalhar de forma específica junto a estudantes com dificuldades na alfabetização.

— Esse quadro de professores que adicionamos chega na escola para olhar esses alunos com dificuldade, sobretudo na alfabetização. Além disso, implementamos uma plataforma de leitura para as crianças e estamos investindo muito na formação continuada dos docentes. No pós-pandemia, todo professor no primeiro ciclo do fundamental tem que ser alfabetizador para identificar o problema e intervir de forma adequada — afirmou Vagner Peruzzo, diretor pedagógico da prefeitura de Caxias do Sul.

De acordo com Caldeirinha, esse tipo de ação não pode demorar a ser aplicada, já que a escola muda na virada do 5º para o 6º ano — quando os alunos deixam de ter apenas um professor para ter disciplinas mais segmentadas, com profissionais diferentes para cada uma das aulas. Por conta dessa maior dificuldade de adaptação, é nesse momento, por exemplo, em que há um pico de reprovação e abandono no fundamental.

— É um problema quando essa alfabetização inadequada é empurrada mais para frente, porque no segundo ciclo do fundamental (do 6º ao 9º ano) toda a escola muda. Os professores especialistas têm menos formação para alfabetização do que os que fizeram pedagogia e atuam no primeiro ciclo (do 1º ao 5º ano) — explica a especialista.

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