Dados do Censo Escolar mostram que o número de psicólogos em colégios do país teve um aumento tímido em 2023, mesmo após o ano anterior mostrar a necessidade destes profissionais para lidarem com problemas como a volta às aulas pós-pandemia e ataques a escolas. As informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) também apontam que a presença de profissionais de segurança — medida comumente defendida por autoridades após casos de violência em ambientes educacionais — avançou pouco no período.
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O aumento de escolas com a presença desses dois tipos de profissionais foi de apenas três pontos percentuais na rede pública. Os psicólogos passaram a ser encontrados em 12% das escolas. Os profissionais de segurança, em 22%.
Os dados do Censo Escolar divulgados neste ano mostram que a rede pública de Santa Catarina (escolas estaduais e municipais em conjunto) foi a que mais conseguiu contratar psicólogos. O número de colégios com esse profissional no estado mais do que dobrou — passou de 13%, em 2022, para 30% em 2023 — e assumiu a liderança no país. Alagoas também conseguiu ter um crescimento expressivo, de 10% para 25% das instituições públicas educacionais.
Especialistas apontam que não há uma única solução que resolva o problema da violência em ambientes educacionais. Entre 2002 e 2023, o país foi palco de 164 ataques. Desses, 14% ocorreram nos últimos dois anos: sete em 2022 e 16 em 2023. No ano passado, um grupo de trabalho criado pelo Ministério da Educação com pesquisadores da educação apresentou um relatório para o enfrentamento desse problema. Ele traz soluções que vão desde o monitoramento da radicalização on-line até medidas de gestão democrática e convivência.
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Um dos eixos de combate é justamente “Proteção, assistência, e ações psicossociais”. Nele, os especialistas recomendam, entre sete tópicos, implementar a lei de 2019 que prevê a atuação de profissionais da Psicologia na escola para “a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, atuando na mediação das relações sociais”.
Essa necessidade vai ao encontro de uma demanda que surgiu depois da crise sanitária causada pela Covid-19, que fechou escolas durante um longo período de tempo. Especialistas chegaram, inclusive, a discutir uma possível pandemia de saúde mental.
Marilda Facci, presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, afirma que a função desse profissional dentro de um colégio não é fornecer atendimento psicoterapêutico aos alunos ou professores. Ele está ali para trabalhar no dia a dia da comunidade escolar, observando os problemas de aprendizagem das crianças e trabalhando junto dos professores para encontrar soluções.
— É importante o psicólogo estar na escola acompanhando o cotidiano para pensar estratégias que vão resolvendo os obstáculos que aparecem entre aprender e ensinar e nas relações que acontecem na escola — afirma a professora sênior do Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá.
Por isso, afirma a especialista, é importante que esse profissional esteja na escola. Muitas redes utilizam psicólogos de unidades de saúde para o atendimento dos alunos. Mas, diz Facci, esses são dois trabalhos completamente diferentes.
— Os projetos de atendimento psicológico não vão resolver as dificuldades de ensino e aprendizado. É um apoio, é necessário, mas não faz sentido numa turma de 30 alunos, dez estarem fazendo psicoterapia. As dificuldades estão na escola, no processo de escolarização, e é lá que isso precisa ser resolvido — afirma.
De acordo com ela, o psicólogo na escola pode observar e identificar os estudantes em sofrimento — aqueles que sofrem e os que praticam bullying, por exemplo — e orientar os profissionais da educação a trabalhar as relações sociais para a construção de um ambiente saudável.
— A violência é combatida quando a escola trabalha com relações sociais de respeito, com a defesa de que todo mundo tem direito de aprender, com diversidade. Isso tudo acaba interferindo nos atos de violência na escola — frisa.
Proteção de patrimônio
A atuação de seguranças e guardas nas escolas não é apontada por especialistas como uma medida crucial para evitar ataques, apesar de ser amplamente mencionada por autoridades após casos de repercussão nacional. Esses profissionais, no entanto, podem ser importantes em alguns contextos, como, por exemplo, proteger o patrimônio da escola.
No país, o perfil desses agentes é muito variado. Enquanto algumas escolas têm empresas de proteção terceirizadas, outras destinam um funcionário para a função de vigia. No ano passado, cresceu um movimento de defesa de segurança armada, o que é criticado por especialistas em violência escolar. Essas contratações, se aconteceram, só serão registradas pelo Censo Escolar na próxima edição dessa base de dados, em 2025.
De acordo com o Censo Escolar, estados do Centro-Oeste lideram a proporção de colégios com guardas e seguranças patrimoniais. No Distrito Federal, estão presentes em 79% das unidades. O ranking segue com Tocantins (62%), o único representante de outra região no top 5, que ainda tem Mato Grosso do Sul (55%), Mato Grosso (54%) e Goiás (48%).