Política

Em pronunciamento na TV, Bolsonaro diz que protestos são legítimos, mas devem ser repensados

Presidente afirmou que casos do coronavírus devem aumentar, mas não é motivo de 'qualquer pânico'
Bolsonaro faz pronunciamento em cadeia de rádio e TV para falar sobre coronavírus Foto: Reprodução
Bolsonaro faz pronunciamento em cadeia de rádio e TV para falar sobre coronavírus Foto: Reprodução

BRASÍLIA — No mesmo dia em que o coronavírus chegou ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro dedicou a maior parte do pronunciamento em rede nacional de televisão e rádio na noite desta quinta-feira — o segundo em menos de uma semana — para falar das manifestações que estavam marcadas para o próximo domingo. O presidente afirmou que, pela necessidade de se evitar riscos à saúde das pessoas, os atos não devem acontecer. Ele os considerou “espontâneos e legítimos” e, em seguida, manifestou apoio às motivações para a convocação deles, que incluem críticas ao Congresso.

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Pouco antes, em transmissão ao vivo por suas redes sociais, Bolsonaro já havia sugerido um adiamento dos atos , acrescentando que, mesmo com a suspensão das manifestações, “já foi dado um tremendo recado para o Parlamento”. Nas últimas semanas, o presidente vinha contestando a avaliação de que as críticas ao Parlamento estavam entre as motivações dos protestos, embora este fosse um dos motes anunciados pelos organizadores.

Depois de semanas de atritos com o Congresso em relação ao Orçamento impositivo, sobre o qual ainda não há um acordo entre governo e Parlamento, Bolsonaro deu um tom político à sua fala em cadeia nacional. O presidente retomou algumas linhas de seu discurso político, afirmando que “o Brasil mudou” e que o povo “exige zelo do dinheiro público”. Ele avaliou que as manifestações demonstram uma amadurecimento da democracia “presidencialista” do Brasil, em uma referência ao embate recente com o Legislativo em torno do Orçamento. Apoiadores do governo acusam congressistas de quererem estabelecer um “parlamentarismo branco” por retirar do governo a prioridade de indicar a ordem de execução das emendas.

— Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem aos interesses da nação, balizados pela lei e pela ordem, demonstram o amadurecimento da nossa democracia presidencialista e são expressões evidentes da nossa liberdade — disse Bolsonaro.

Nas últimas semanas, a cúpula do Congresso se incomodou com a postura do Planalto em torno das negociações sobre o Orçamento. Primeiro, houve um acordo para que os vetos presidenciais fossem mantidos, o que aconteceu na semana passada. Em troca, o governo enviou projetos de lei que garantiriam ao Congresso controle de R$ 19 bilhões em emendas, mas depois Bolsonaro passou a criticar o acordo.

Ao falar sobre as precauções contra o coronavírus, Bolsonaro ressaltou que a recomendação é evitar “grandes concentrações populares". Nesta quinta-feira, foi confirmado que o secretário de Comunicação da Presidência da República, Fabio Wajngarten, está com o novo coronavírus. Bolsonaro passou a ser monitorado e foi submetido a um exame para detectar a doença.

— Queremos um povo atuante e zeloso com a coisa pública, mas jamais podemos colocar em risco a saúde de nossa gente. O momento é de união, serenidade e bom senso.

O presidente disse também que as motivações das manifestações seguem “inabaláveis”:

— Não podemos esquecer, no entanto, que o Brasil mudou. O povo está atento e exige de nós respeito à Constituição e zelo pelo dinheiro público. Por isso, as motivações da vontade popular continuam vivas e inabaláveis.

Bolsonaro tentou distanciar-se da organização do evento, dizendo que o movimento não era “seu”, mas que tinha que tomar uma posição por ser presidente.

— Como presidente da República, eu tenho que tomar uma posição. Se bem que o movimento não é meu. Uma das sugestões: suspender, adiar.

Atos adiados

Os protestos ganharam impulso após o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, ser gravado reclamando da “chantagem” do Congresso. Porém, a repercussão negativa após o próprio Bolsonaro compartilhar, por um aplicativo de celular, uma mensagem de convocação às manifestações o teria influenciado a tentar mudar o viés dos atos.

Nesta quinta, na transmissão, após falar do “recado” dado ao Congresso, Bolsonaro disser ser contra ataques às instituições:

— De minha parte, ninguém pode atacar o Parlamento, o Executivo ou o Judiciário. Se tem pessoas que não estão de acordo com aquilo com o que você acha, tudo bem. Com o tempo, o povo vai depurando. O presidente não tá bem? Troca. 2022 está aí. Com o legislativo é a mesma coisa.

Pouco após a transmissão, lideranças de alguns dos principais movimentos que organizavam os atos anunciaram o cancelamento. Um dos coordenadores do Nas Ruas, Marcos Bellizia disse em nota que “o momento agora é de união e responsabilidade”. O Avança Brasil informou que a manifestação foi transferida “para nova data a ser comunicada brevemente”.