Política

Mandetta contraria Bolsonaro e pede manutenção de restrições impostas pelos estados

Ministro da Saúde diz que medidas são necessárias no combate ao novo coronavírus
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , pediu nesta segunda-feira que sejam mantidas as recomendações feitas pelos estados para conter o avanço da epidemia do novo coronavírus , que já matou 159 pessoas e contaminou 4.579 no país . Os gestores locais têm imposto medidas para restringir a circulação de pessoas e de algumas atividades econômicas, na contramão do que quer o presidente Jair Bolsonaro .

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— Por enquanto mantenham as recomendações dos estados, porque nesse momento é a medida mais recomendável, porque temos muitas fragilidades ainda no sistema de saúde — disse Mandetta.

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Desde a entrevista coletiva de sábado, Mandetta vem dando declarações contrárias às de Bolsonaro. O Ministério da Saúde pede, por exemplo, para que as pessoas evitem ao máximo sair à rua, para diminuir o risco de contágio. Já Bolsonaro é favorável ao isolamento vertical, ou seja, apenas dos grupos de risco, como idosos e pessoas com outras doenças.

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Mandetta não citou o termo "isolamento vertical", mas indicou que ele não é capaz de funcionar. Segundo dados do Ministério da Saúde, 90% das mortes foram entre as pessoas com mais de 60 anos.

— É só pegar as pessoas com mais de 60 anos e cuidar? Como se essas pessoas estivessem dentro de uma cápsula. Essas pessoas moram com vocês, têm netos, têm filhos, trabalham, pegam ônibus, são ambulantes — disse Mandetta.

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O ministro voltou a defender a necessidade de distanciamento entre as pessoas como forma de combater o vírus.

— É preciso todo mundo entender que vamos ter um código de comportamento, de distanciamento entre pessoas, de respeito, de não aglomeração, de funcionar para que agente não tenha uma paralisia e morra de paralisia, mas também não tenha um frenesi que cause um megaproblema como nesses países — afirmou o ministro.

— A pasta continua técnica, continua científica, e trabalhando dentro do seu planejamento — comentou.

O ministro participou da primeira coletiva em novo formato. A partir de agora não haverá mais entrevista com integrantes da pasta na sede do ministério. As coletivas serão no Planalto, com a participação de outras pastas.

Última palavra de Bolsonaro

Mandetta destacou o exemplo dos Estados Unidos, em que o presidente Donald Trump teve que adiar o prazo para que medidas restritivas continuem valendo por lá. Mas destacou que, no Brasil, a última palavra será do presidente Bolsonaro, a partir de informações levantadas pelo Ministério da Saúde e outras pastas do governo.

— Quem fala que vai ser dia 1, dia 6, dia 7, dia 18, dia 19... Todos os países que se comprometeram com tempo bateram com a cara na porta. Ontem foi o Trump que teve que passar da Páscoa (12 de abril) para o dia 30 de abril, por que os Estados Unidos precisam até o dia 30 para se organizar — disse Mandetta.

O ministro apontou que, se demorar muito para parar as atividades, a medida não terá efeito, citando os casos da Itália e da Espanha.

— Parar quando está no lá ápice, aí a epidemia vai seguir seu curso, mesmo tendo parado até o final — disse o ministro.

Mandetta também deu conselhos na hora de pegar um táxi ou carro de aplicativo:

— Pode andar de táxi e Uber? Pode. Dá para andar no banco da frente? Não. Dá para andar três [passageiros] no carro? Não, tem que ser dois atrás.

Ele, que afirmou ser católico, também reconheceu que a Páscoa será uma época difícil, uma vez que a recomendação é evitar aglomerações, como missas e procissões. Ele citou o exemplo do papa Francisco, que está celebrando missas sem público.

— A Páscoa, semana santa, eu sou católico, eu sou católico mesmo, eu vou, eu rezo, eu gosto. As procissões, a missa de Páscoa, as aglomerações familiares, o almoço de Páscoa, o chocolate, o coelhinho, isso tudo vai mexer com as emoções de todos nós. E nós vamos ter que ser muito resilientes — disse Mandetta.

Ataque às estatísticas da China

Mandetta chamou de "super fake", ou seja, super falsas, as estatísticas da China sobre o novo coronavírus. Segundo o último boletim da Organizaçã Mundial da Saúde (OMS), o país asiático, onde a pandemia começou, teve 82.447 casos e 3.310 mortes. Para Mandetta, houve mais casos na China.

Também de acordo com a OMS, já houve mais casos nos Estados Unidos (122.653) e Itália (97.689). A Espanha, com 78.797, é outro país que caminha para ultrapassar a China. Itália e Espanha também já têm mais mortes: 10.781 e 6528 respectivamente. Os dados da OMS são informados pelos próprios países.

— Imagina a a China com 1,5 bilhão de pessoas, a China falar que teve só 80 mil casos? Super fake — disse Mandetta.

Desculpas à imprensa

O ministro ainda pediu desculpas por ter afirmado, no último sábado, que os meios de comunicação são “sórdidos” . Mandetta, que havia dito que os veículos de imprensa só querem notícias ruins, admitiu que errou:

— Aliás, aqui eu falei que o meio de comunicação outro dia...Ficaram bravos comigo, puxaram minha orelha lá na Globo, porque eu fiz um comentário sobre a cobertura, e eu peço desculpas. Eu acho que a gente, quando erra, a gente erra — disse.

No sábado, ele havia recomendado a população a desligar “um pouco” a televisão, porque ela é “às vezes ela é tóxica demais”. Mandetta afirmou que o quis dizer foi para as pessoas relaxarem com outras coisas que não as notícias sobre o coronavírus:

— Agora, sempre procurar todo mundo fazer o seu melhor. Levar a melhor informação. E, naquele momento, o que eu dizer era o seguinte: leia um livro, escuta uma música, procura conversar. Estamos na Quaresma, leia um pouco a Bíblia. Procure outras possibilidades — disse, acrescentando: — Tem que fazer esporte, tem que caminhar. Acho que é isso daí, é nesse sentido.