Política Coronavírus

Medo do número de mortes pelo coronavírus supera questões econômicas nos debates das redes sociais, aponta estudo

Nova pesquisa da  Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP), da FGV, também mostra maior adesão de políticos da direito ao discurso de oposição ao presidente Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada Foto: Jorge William/Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada Foto: Jorge William/Agência O Globo

RIO — O receio de um grande aumento no número de mortes no país em caso de interrupção do isolamento social mobilizou mais internautas em debates nas redes sociais do que o impacto do coronavírus na economia, segundo nova pesquisa divulgada pela  Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP), da FGV. O levantamento também apontou aumento do número de internautas alinhados ao posicionamento de direta nas críricas ao presidente Jair Bolsonaro.

Dentre as postagens analisadas no Twitter, 3,8 milhões eram sobre o receio pelo número de mortos e infectados no país, enquanto as menções sobre o impacto na economia somaram  2,1 milhões de publicações.

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A partir da última quinta-feira, com as manifestações do presidente contra o isolamento social, os pesquisadores observaram um tom mais político na discussão, diferente do que ocorria nas outras ocasiões. Atores políticos mais à direita voltaram a ter destaque nos debates nas redes e se uniram à oposição tradicional do presidente, mobilizada pela esquerda. Desde então, a atuação pró-Bolsonaro ocupou apenas 10% do debate, enquanto a oposição reuniu o dobro de interações.

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A mudança de tom do presidente em seu último pronunciamento nesta terça-feira trouxe um pouco mais de espaço para os apoiadores do presidente, mas insuficiente para a recuperação do protagonismo desse grupo no debate, segundo Marco Aurelio Ruediger, diretor de Análise de Políticas Públicas da FGV.

— O pronunciamento de ontem (terça-feira) foi um pouco menos polarizado e confrontador. Não mudou o campo de apoio, que continua encurralado, mas deu um pouco mais de espaço. As pessoas não enxergam esse momento como uma situação que tem que ser tensionada ideologicamente. Se trata de sobrevivência. Quando ele faz um discurso menos polarizado, ele ganha um pouco mais de espaço, porque é o que as pessoas querem — disse.

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O pesquisador ainda aponta que a falta de apoio ao presidente nas redes se dá a partir de uma compreensão da população de uma "falha na gestão pública". O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem um desempenho bem avaliado pelo seu viés técnico e científico, não é suficiente para melhorar a avaliação do governo por fazer um "eco coerente".

— O Mandetta ele faz um eco com a questão coerente e racional. Não há um destaque, porque ele não faz um contraponto com o que os especialistas e governadores falam. O papel dele é muito importante, ele reafirma o científico, que é o caminho certo. É técnico dentro de um governo ideológico. O Bolsonaro polariza.

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A pesquisa ainda destacou os principais termos usados no campo da oposição e de apoio ao presidente Bolsonaro. Na oposição, destacam-se os termos "fique em casa" e "paga logo Bolsonaro", em referência ao auxílio de R$600 aos trabalhadores informais , aprovado pela Câmara e pelo Senado e sancionado pelo presidente nesta quarta-feira. No campo de apoio, o termo de destaque é "Bolsonaro tem razão".