Meio ambiente
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Por — São Paulo

O auge da temporada de fogo ainda não começou neste ano no Pantanal, mas o número de focos de incêndio (o segundo maior em 25 anos de dados de satélites para o período) coloca a região em alerta. Autoridades locais suspenderam autorização para queimadas controladas e pedem ajuda até das Forças Armadas, mas ambientalistas dizem que as medidas em execução talvez sejam insuficientes.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos de calor detectados no bioma até o dia 10 de junho se multiplicaram por mais de dez, saltando de 133, durante o mesmo recorte do ano passado, para 1.388 em 2024, o equivalente a quase 1000%. A última vez que o Pantanal teve um início de temporada seca tão incendiário foi no ano que acabou sendo o pior de sua história, em 2020.

— Essa alta está em grande parte associada às condições meteorológicas decorrentes do efeito do El Niño — afirma Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas do Inpe. — O segundo semestre do ano passado teve um período muito grande em que a quantidade total de chuva foi abaixo da esperada, e, no início deste ano, o estresse da vegetação favoreceu a ocorrência e propagação do fogo.

As previsões de tempo regionais hoje estão até piores do que as de 2020.

— Nós estamos agora com grau de seca maior que o daquele ano, e uma resolução da Agência Nacional de Águas já decretou calamidade hídrica no Pantanal — diz o secretário de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck. — Como os rios não subiram o quanto deveriam na estação certa, nós temos um mapa mostrando um acúmulo de biomassa seca na região que atua como se fosse pólvora.

Ignição humana

Esse material é combustível para o fogo, porém, não entra em ignição sozinho.

— Um pouco do fogo se inicia por causa natural, como raios, mas a literatura fala que isso ocorre muito pouco, só em torno de 5% dos casos — diz Morelli.

Como o principal fator de ignição hoje é o uso de queimadas para limpar áreas de pasto e lavoura, o governador do estado emitiu um decreto na terça-feira suspendendo a autorização para uso controlado do fogo.

Agora são permitidas só queimadas “prescritas”, que servem na verdade para abrir vazios na vegetação para impedir o avanço de incêndios em grande escala. O período dominado por ações de prevenção, porém, já se encerrou, e os sul-mato-grossenses já operam mais em modo reativo de combate aos incêndios.

Verruck afirma que, a despeito da previsão, o estado terá mais condições de frear a tendência do que tinha em 2020. Bombeiros ganharam 13 postos avançados na mata e se revezam em equipes quinzenais nas frentes de fogo. O governo anunciou neste ano investimentos na área, ampliando equipes e adquirindo equipamento, com destaque para um terceiro avião adaptado para debelar fogo.

Verruck afirma que um programa de parceria assinado entre estados e União, além disso, aumenta a capacidade do estado de lidar com a crise.

— Eu preciso do governo federal que ele disponibilize, por exemplo, as Forças Armadas, com helicópteros. A gente precisa de apoio físico para fazer deslocamento das equipes, porque eu só tenho um helicóptero de pequeno porte — diz.

Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a União vai tentar antecipar medidas previstas de ação coordenada e que aumentou o número de brigadistas no Pantanal atuando dentro do programa Prevfogo.

Apesar dos anúncios feitos, ambientalistas dizem que a promessa de coordenar esforços entre esferas de governos ainda não se materializou por completo.

— O que a gente vê de mais urgente a ser feito é a instalação de uma sala de situação integrada entre os poderes, porque o fogo não respeita divisa de município e de estado, nem a fronteira entre países — afirma o biólogo Gustavo Figueroa, diretor de comunicação da ONG SOS Pantanal. — Não adianta esperar o fogo sair do controle para fazer isso.

Incêndio ‘importado’

O governo do Mato Grosso do Sul confirma que, de fato, já há frentes de fogo “importadas” da Bolívia e do Paraguai, países com pouco recurso para combater incêndios. Mas o fenômeno ocorre em duas mãos: uma frente de fogo iniciada no Brasil começa a entrar agora na Bolívia.

O município que mais preocupa o governo no momento é justamente Corumbá (MS), na fronteira, onde a secretaria de saúde já está atendendo pessoas por problemas respiratórios em função da fumaça. Verruck diz que a cidade corre risco de desabastecimento de água, e está sendo preparada uma bomba extra de captação de água para ser tratada, porque o volume de rios está baixo.

O governo estuda também facilitar licenças para pecuaristas abrirem poços para dar de beber ao gado. As outras duas atividades econômicas mais importantes do estado também estão sendo impactadas: a mineração, por não conseguir trafegar com barcas de carga, e o turismo, já com perspectiva de perder público nesta temporada.

Verruck diz que a coordenação entre diferentes entes está sendo feita e que os esforços serão maximizados.

— Nós estamos, inclusive, atuando em coordenação com a SOS Pantanal e o Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), que têm brigadas próprias, para não ter repetição de esforços — afirma.

A porção do Pantanal mais afetada em Mato Grosso, norte do bioma, está a cerca de 20 km da estrada transpantaneira, a MT-060, na região de Poconé , que tem muitas pousadas. O governo ali normalmente proíbe queimadas rurais de julho a outubro, e neste ano estendeu a proibição até dezembro.

A ONG Instituto Centro de Vida (ICV), presente na área, reconhece que o estado ampliou a fiscalização e está aplicando mais multas, mas diz que o empenho ainda não é suficiente.

— Cerca de 90% dos focos estão ocorrendo em imóveis agropecuários, e só 7% ou 8% desses focos em Mato Grosso são em propriedades que tiveram autorização para queimada — afirma Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência do ICV.

Ele diz também ter a percepção de que os acordos entre estados e União demoram a produzir resultado:

— O ritmo de implementação das medidas preventivas e das politicas públicas que deveriam atenuar esse cenário está bastante aquém da urgência que estamos vivenciando.

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