Política

Mesmo após pisar no pescoço de mulher, soldado da PM de SP voltou às ruas

Governo tucano alega que policial foi afastado, mas que após troca de batalhão ele foi liberado por "erro"
Policial pisou no pescoço da mulher em abordagem na Zona Sul de São Paulo Foto: Reprodução
Policial pisou no pescoço da mulher em abordagem na Zona Sul de São Paulo Foto: Reprodução

SÃO PAULO —  Mesmo após pisar no pescoço e arrastar uma comerciante negra de 51 anos numa abordagem, na zona sul da capital, no último dia 30 de maio, o soldado João Paulo Servato, 34, não foi afastado imediatamente.

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O soldado foi transferido de batalhão no último dia 18 de junho, quando voltou ao patrulhamento nas ruas. Antes disso, Servato chegou a ser afastado, mas por um erro, segundo o governo paulista, acabou retornando às ruas.""

O portal UOL revelou que o soldado foi afastado nesta terça-feira. Ou seja, o governo estadual só percebeu o que chamou de "erro" e voltou a afastar o policial após a reportagem do Fantástico deste domingo, que exibiu as imagens da agressão do policial contra a comerciante.

A informação difere do que foi dito pelo governador João Doria, que, logo após o programa da TV Globo, foi ao Twitter demonstrar sua indignação com o fato, dizendo que as cenas causavam repulsa e que os policiais já tinham sido afastados.

Em uma das cenas, o policial pode ser visto tirando um dos pés do chão e colocando todo o peso do corpo sob o pescoço da mulher, já rendida no asfalto. O PM também arrasta a vítima até o meio-fio. O caso gerou comoção e revolta.

Ainda assim, até esta quarta-feira, o soldado era investigado por eventual abuso de autoridade .

A comerciante diz temer por sua segurança e de sua família após denunciar o caso, mas quer justiça.

— Não me sinto segura. Eu tenho filhos e netos, como vai ser minha vida daqui pra frente? Será que esse policial não vai aparecer no meu bairro um dia? Mas, ao mesmo tempo, eu me julgo corajosa. Alguém tinha que fazer alguma coisa — afirmou nesta terça-feira à revista ÉPOCA.

Em nota, a Secretaria da Segurança de São Paulo informa que o soldado citado na reportagem está fora do serviço operacional.

"Inicialmente, ele foi afastado no 50° BPM/M, onde aconteceu o fato. No dia 18 de junho foi transferido para o 12° BPM/M, por uma movimentação que já estava em curso antes dos fatos. Por um erro de processo, quando chegou ao 12° Batalhão, foi para o serviço operacional. Contudo, constatado o equívoco, foi novamente afastado, situação que permanece até hoje", informa a nota sem esclarecer a data do primeiro e do último afastamento do soldado.

O caso

A mulher possui um bar na região de Parelheiros, zona sul de São Paulo, e foi abordada por policiais às 13h do sábado, 30 de maio, após denúncias de que um carro com som alto estaria em frente ao comércio, incomodando a vizinhança. As imagens mostram os policiais rendendo um homem e apontando arma para outro, além das agressões à comerciante. Segundo ela, as agressões contra ela começaram após tentar defender o dono do carro, que era rendido pela polícia.

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Os PMs envolvidos no caso afirmam que foram atacados por uma barra de ferro durante a abordagem e registraram boletim de ocorrência por desacato, desobediência, resistência e lesão corporal.

A comerciante de 51 anos ficou presa na 101º DP  de São Paulo durante um dia após a abordagem, com a perna fraturada e lesões no rosto e corpo, e afirma que não foi ouvida pela delegada responsável. Agora responde às quatro denúncias dos oficiais em outro inquérito.