![A Praça Santa Isabel, que ficou conhecida como nova Cracolândia, após a retirada dos usuários de drogas e antes, ainda tomada por barracas — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/BeH93d9RFAvqKxAKiGocQfQM3N8=/0x0:807x458/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/N/X/B4zfexRA6DJDhC5IYTsQ/cracolandia-antes-depois.jpg)
Começa a funcionar parcialmente nesta terça-feira (17) o serviço de atendimento de dependentes químicos da Cracolândia no estacionamento do 77º Distrito Policial, na alameda Glete, no centro de São Paulo. A unidade concentra a maior parte dos casos envolvendo drogas na Cracolândia. De acordo com a Polícia Civil, policiais não irão participar da abordagem.
Segundo o secretário Executivo de Projeto Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas, de início serão montadas quatro tendas no terreno com funcionamento 24 horas. A ideia é prestar atendimento tanto aos dependentes que se apresentarem voluntariamente em busca de ajuda quanto àqueles encaminhados à delegacia, envolvidos em alguma ocorrência.
- No começo, serão só essas quatro equipes dos Consultórios na rua. Nos próximos dias, vamos preparar o terreno para abrigar uma unidade mais robusta, talvez com espaço para um Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e acolhimento - afirmou Vargas.
Hoje, a Prefeitura disponibiliza 26 equipes dos chamados Consultórios na Rua, para atender dependentes químicos em diversas regiões da capital. Dez deles estão nas proximidades da Cracolândia. A intenção da secretaria é dobrar o número de tendas perto do fluxo. O secretário reforça que é a primeira vez que há uma coordenação conjunta entre o trabalho da polícia e da prefeitura para combater a Cracolândia.
Operação
Na última semana, a Polícia Civil de São Paulo deflagrou mais uma etapa da operação Caronte na praça Princesa Isabel, que visa combater o tráfico de drogas na Cracolândia e espalhar os dependentes químicos. Segundo a polícia, a dispersão dos usuários facilita a erradicação da venda da droga e a busca dos usuários por tratamento. Dos 36 mandados de prisão, quatro foram cumpridos. Outros 32 suspeitos continuam foragidos.
De acordo com o delegado seccional Roberto Monteiro, responsável pelos distritos da região central, a operação “expôs as entranhas da Cracolândia”, e desvendou a atuação, neste território, da facção paulista que atua dentro e fora dos presídios brasileiros.
- Comprovamos nos inquéritos policiais que a facção faturava entre R$ 100 e 200 milhões no antigo fluxo da praça Júlio Prestes, e continuou ganhando o mesmo na Princesa Isabel. Ali existia o aluguel do espaço público para o traficante - disse Monteiro.
A operação foi batizada de "Caronte" em referência ao barqueiro que, segundo a mitologia grega, conduz as almas do mundo dos vivos até o mundo dos mortos. Foram empregados cerca de 650 agentes, entre policiais civis, militares, guardas-civis, equipes da Saúde e da Assistência Social.
Depois da operação, usuários se dispersaram por vários pontos da cidade, chegando até a Barra Funda, na região Oeste. Depois de vagar pelo Centro e obrigar comerciantes de fecharem as portas, os dependentes voltaram a se fixar na rua Helvétia, perto da Avenida São João, que há anos abriga a maior concentração de usuários. O local havia sido liberado havia poucos dias, quando ocorrer a migração para a Princesa Isabel.
De acordo com Monteiro, são os traficantes que definem os novos locais em que usuários e dependentes irão se instalar.
- Os traficantes caminham e levam com eles os dependentes. É o traficante que dá ao usuário a viagem que ele necessita. O usuário vê no traficante a pessoa que o resgata do mundo real e o leva para o fantasioso, em outra dimensão - pontuou.
Investigação
O Ministério Público de São Paulo instaurou na última sexta-feira um inquérito civil para apurar as intervenções recentes da prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia.
Segundo o MP-SP, os promotores Reynaldo Mapelli, Arthur Pinto Filho, Luciana Bergamo e Marcus Vinicius vão avaliar o "fluxo utilizado pela municipalidade para a internação, voluntária ou não, de eventuais dependentes químicos". Ainda será averiguada a eventual escolha da internação como objetivo maior em cada abordagem de usuário, bem como os tratamentos dispensados nos locais de internação.
Também será objeto de investigação a execução do projeto Redenção e o acompanhamento, pelas equipes de assistência social, aos que foram eventualmente encaminhados às comunidades terapêuticas.