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Por Aline Ribeiro


O empresário Thiago Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira em imagem de arquivo — Foto: Reprodução / Instagram
O empresário Thiago Brennand Tavares da Silva Fernandes Vieira em imagem de arquivo — Foto: Reprodução / Instagram

Um homem de sobrenome notável, pai exemplar, bem-sucedido, culto e sedutor. Era assim que o empresário Thiago Brennand, denunciado quatro vezes por pelo menos doze crimes e com dois mandados de prisão, apresentava-se para suas vítimas, revelam relatos inéditos, feitos ao GLOBO, de três mulheres que foram à polícia para denunciar injúrias e ameaças.

O comportamento criminoso de Brennand veio à tona depois que uma reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, expôs um vídeo do empresário agredindo a atriz e empresária Helena Gomes numa academia de luxo de São Paulo. Desde então, pelo menos dez vítimas procuraram o Ministério Público para acusá-lo de estupro. Brennand está agora em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, enquanto não sai sua extradição para o Brasil

Para a psicóloga Daniela Pedroso, com 25 anos de experiência no atendimento a vítimas de crimes sexuais, esse mecanismo de ação de Brennand é típico de um “predador sexual”. Segundo ela, homens se aproximam das vítimas costumam enfatizar que elas são únicas e especiais. Para atraí-las, mostram o mundo fantástico em que vivem.

— Eles usam da sedução e da lisonja para se aproximar. Depois, vêm as diversas formas de crimes. São sapos travestidos de príncipes encantados — atesta Daniela.

A publicitária Lucia*, de 50 anos, do interior de S P, conta que conheceu Brennand em outubro de 2019, no aplicativo de relacionamentos Inner Circle. Seu nome de perfil era Thiago Fernandes Vieira, mas logo na primeira conversa ele disse se chamar Thiago Fernandes Vieira Brennand Tavares da Silva — o sobrenome Brennand é de uma família influente de Pernambuco. Quando tinha chance, falava do filho e demostrava ser um “paizão”. Uma noite, enquanto conversavam por vídeo, Brennand pediu uma foto sensual. Não correspondido, começaram os xingamentos: “sua vaca, filha da puta, vadia, sabe quando uma mulher fala ‘não’ para mim? Nunca”.

— Foi uma coisa horrorosa. Ele me ligou mais de 50 vezes. Me obrigou a apagar todas as conversas e a mostrar a tela. Ele xinga por vídeo para não haver provas contra ele — diz a vítima.

Daniela explica que o predador sexual “tem baixa tolerância à frustração”, é regido por “comportamentos instintivos” e desconhece a expressão do “não é não!”.

Assédio em lugares públicos

Outro comportamento recorrente de Brennand, segundo os relatos, é o de assediar as mulheres publicamente, em locais onde se sente confortável. O empresário costumava levar as vítimas aos mesmos restaurantes, onde era conhecido dos garçons. E ao mesmo hotel, do qual alugou um andar inteiro por mais de um ano, segundo um ex-funcionário. Na academia onde agrediu Helena Gomes, sua fama já era notória, segundo uma frequentadora e vítima.

A empresária Ana*, de 28 anos, diz que foi abordada por Brennand numa noite de maio deste ano, enquanto treinava. Ele chegou cordial, sugerindo algumas correções de exercícios. Ela falou sobre seu ramo de atuação, colocou-se à disposição dele e passou o número do telefone, para eventuais trocas profissionais. Ao chegar em casa, recebeu uma mensagem perguntando se estava comprometida. Ao responder que sim, ouviu xingamentos.

— Na semana seguinte, ele aparecia sempre onde eu estava. Fiquei com medo. Me colocaram num grupo de WhatsApp de meninas que ele já tinha assediado. A academia tinha 110% de ciência do que acontecia e não fez nada — conta ela.

Quase todas as vezes em que foi formalmente acusado de um crime, com um boletim de ocorrência na polícia, Brennand entrou com outra queixa na condição de vítima. A psicóloga Daniela diz que é um padrão de agressores, o de “atacar para não ser atacado”.

A advogada Paula*, de 44 anos, sofreu tal retaliação. Em março, sem nunca ter ouvido falar dele, recebeu um telefonema de Brennand dizendo que iria quitar a dívida de um amigo, credor de uma cliente sua. A mulher informou que, por uma questão ética, não poderia falar diretamente com a parte contrária. Brennand disparou agressões. Mandou um áudio longo, que ela considerou uma ameaça: “para uma mulher como você, e sendo eu no lugar do M... [o amigo devedor], aí você iria aprender a força que tem essas suas atitudes”.

— Semanas depois que fiz o BO, recebi uma ligação dos advogados dele dizendo que queriam fazer um acordo para eu não representar. Mas eu teria de reconhecer que havia caluniado ele — conta ela, que não o processou, mas teve um BO aberto em seu nome por calúnia. — O tom da voz dele é amedrontador. Ele é misógino, tem ódio de mulher.

Desqualifica a palavra das vítimas

Como típicos abusadores, Brennand desqualifica a palavra das vítimas, como mostra o caso da empresária Maria*, de 37 anos, que vive nos Estados Unidos e o acusou de estupro. O episódio ocorreu no condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, em agosto do ano passado. A mulher afirma ter sido mantida em cárcere privado, estuprada, agredida física e moralmente e ter tido o corpo tatuado com as iniciais do empresário (TFV), acrônimo usado pelo empresário para marcar objetos. Além disso, teve vídeos de relações sexuais vazados pelo empresário, que teria mandado até para a filha adolescente dela.

À polícia, Brennand afirmou que a mulher já havia contado a ele que fora abusada por um ex-namorado e por outro homem, relato que diz ter achado “estranho”. Entretanto, como estava apaixonado, rendeu-se aos pedidos dela para encontrá-lo no Brasil. Alegou que, durante os dias em que passaram juntos, descobriu que ela jamais acabou seu relacionamento e que, por isso, terminou tudo.

“Ela, desesperada e até mesmo desequilibrada, implorou para que isso não acontecesse”, disse em documento ao qual O GLOBO teve acesso. O processo chegou a ser arquivado a pedido do Ministério Público de Porto Feliz, depois que a polícia apontou “denunciação caluniosa motivada por interesses financeiros” por parte da vítima. O caso foi reaberto depois que o “Fantástico” revelou o histórico de Brennand.

— Isso é a cultura do estupro. São homens educados ouvindo que podem tudo. — conclui a psicóloga Daniela.

*Os nomes das vítimas foram trocados por medo de retaliação

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