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Por Pâmela Dias e Taís Codeco*

Foi quase uma década de esforço árduo, driblando as dificuldades da família, para Willian Alves, de 33 anos, ser aprovado no curso de Medicina da Uerj. Filho da empregada doméstica Eunice e do pedreiro João, ele “virou doutor” em dezembro do ano passado. A festa de formatura, após seis anos de graduação, deveria ser só de alegrias, neste fim de semana, contabilizando glórias. Mas William, que lidera a comissão da festa de outros 82 alunos, está calculando prejuízos. Todos “dançaram”, mas não foi no baile de sábado, cancelado após uma notícia amarga.

A quatro dias da festa, eles descobriram que os artistas do show e os fornecedores não tinham sido pagos. A arrecadação, mês a mês, desde o início do curso, visava gastos de R$ 1,3 milhão.

— Tem gente que é o primeiro da família a entrar na faculdade, as pessoas pagaram pelo evento com extrema dificuldade. Metade da turma é de baixa renda, cotista — desabafa o formando, que entrou por cota.

Segundo Willian, a Brave Brazil Eventos, responsável pela celebração, alegou que teve os bens bloqueados pela Justiça do Paraná. Foi quando souberam que a empresa tinha deixado a ver navios uma turma de medicina, da faculdade Unicesumar, em Maringá. Agora, as duas turmas a acusam de estelionato.

— Chegaram a pedir para adiar a data da formatura, mas isso é algo impensável. Há parentes de outros estados e até de outros países que estão no Rio — diz William, que agora tenta, sem muitas esperanças, uma vaquinha para garantir um desfecho à altura do tanto de energia e dinheiro investidos por todos.

Ao checar se os pagamentos estavam sendo feitos, ele constatou que, além do tradicional baile, a organizadora deixou de pagar despesas de um culto na Catedral do Rio, na última quinta-feira, e de uma cerimônia de colação de grau, na sexta. Nada disso aconteceu.

Sem comida

O caso ocorreu na esteira de outro semelhante que mobilizou estudantes de todo país como se assistissem a capítulos de uma novela. A estudante de medicina Alicia Dudy Muller, da USP, assumiu à polícia ter desviado quase R$ 1 milhão do dinheiro que deveria ter sido destinado à formatura de sua turma. Ela usou os recursos para jogar na Lotofácil. Descobriu-se depois que a jovem, investigada por apropriação indébita e estelionato, já era investigada por um golpe de mais de R$ 190 mil em uma lotérica na Vila Mariana, em São Paulo. Agora, a turma da USP busca de doações e chegou a tentar, até a ajuda da cantora Anitta, para um final feliz da história.

Especialistas em golpes financeiros explicam que as chances de recuperar o dinheiro desviado são maiores quando a parte acusada é uma empresa. Quando se trata de alunos, o sonho pode virar pesadelo real.

A turma de Medicina do Paraná lesada pela mesma empresa de eventos denunciada por alunos da Uerj perdeu R$ 3 milhões investidos. Somente 12 horas antes da festa, no último sábado, os estudantes foram informados de que suas melhores roupas separadas para o grande dia, parentes e amigos convidados e um caminhão de expectativas não tinham para onde ir. A notícia chegou por meio de uma nota. De acordo com os alunos, a Brave afirmou que a comissão devia R$ 530 mil, o que eles negam. Procurada, a empresa não quis se manifestar.

Isabela Zucoli, de 24 anos, uma das presidentes da comissão de alunos de Maringá, foi à delegacia. Ela conta que, na quinta-feira, durante o jantar, um dos eventos contratados, não foi servida nem a metade da comida combinada. As mesas não estavam montadas no salão, e os alunos tiveram que pedir tira-gostos por delivery. No dia seguinte, quando aconteceria a colação de grau, o salão estava desmontado e sujo. A revolta foi tão grande que a Polícia Militar foi acionada para conter uma confusão.

— O sentimento era de que estávamos num funeral. Não é sobre dinheiro, é sobre sonhos — diz ela.

Em seguida, a empresa Euphoria assumiu uma força-tarefa para garantir uma formatura do dia para a noite: um baile para metade dos formandos. Para quem pôde pagar mais R$ 400.

Os estudantes não só rebatem a existência de um débito como garantem que havia um excedente de R$ 121 mil para gastos extras. As desventuras em série ocorreram, dizem eles, mesmo depois de terem verificado a autenticidade do CNPJ e se informado sobre outros eventos realizados pela Brave antes de contratá-la, em 2019.

Por nota, a empresa, que não falou sobre o caso da Uerj, afirmou ter acionado seu corpo jurídico e que, “o mais breve possível”, reunirá todo o material digital (vídeos, fotos etc.) para as autoridades policiais e judiciais.

“Extratos borrados”

Para evitar golpes, o advogado Paulo Akiyama, especialista em direito do consumidor, orienta os formandos a não fazerem nada na base da confiança e a optarem por formalizar contratos. Ele destaca que uma comissão de formatura deve ter mais de uma pessoa responsável por conferir o andamento da arrecadação do dinheiro e dos repasses para a empresa da festa.

— A primeira coisa que a comissão deve fazer é nomear um presidente, um secretário e um conselheiro. Precisa ser acordado que nenhum tipo de movimentação pode ser feita sem o consentimento dos demais — ensina.

A turma 121ª do curso de Farmácia na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, não seguiu os cuidados e, em julho do ano passado, viu ir por água abaixo a formatura. A única aluna que cuidava do dinheiro teria ficado com os R$ 15 mil arrecadados desde 2019. Os colegas foram à polícia, mas não quiseram identificá-la.

— Ela alegava que algumas pessoas não estavam pagando e que por isso ficamos sem dinheiro. Ela mostrou extratos borrados ou cortados, o que nos leva a ter mais certeza de que ela agiu de má-fé — relata uma das alunas, que preferiu não se identificar.

Em 2022, como a história ganhou repercussão no Sul, a suspeita deu entrevista ao jornal Diário, em que admitiu ter gastado os valores, mas que seu plano era devolver a quantia. “Por um erro meu, e erro deles também, nunca foi cobrado um extrato, eles simplesmente confiaram. Mas acho que, se fosse pedido (o extrato) desde o começo, eu não teria feito isso”, falou. Mas não ficou por isso mesmo. O infortúnio virou uma denúncia de apropriação indébita na Polícia Civil do RS, que, procurada, informou que o caso está sendo investigado a partir da quebra de sigilo bancário da suspeita. Os estudantes abriram uma vaquinha para que a festa seja realizada em julho deste ano.

Em nota, a UFSM informou que “desde 2018, as cerimônias de formaturas são custeadas pela universidade. As iniciativas para arrecadação de fundos para outros gastos são feitas por conta dos próprios alunos, sem envolvimento da instituição”.

O advogado empresarial David Nigri explica que a universidade não tem nenhuma responsabilidade sobre a devolução da verba ou sobre a permanência do suspeito na faculdade:

— A universidade não tem responsabilidade sobre os acordos e contratos que os estudantes assinam com terceiros.

 Estudantes de Medicina da UERJ se formam após golpe milionário — Foto: Arquivo pessoal
Estudantes de Medicina da UERJ se formam após golpe milionário — Foto: Arquivo pessoal

Principais dicas para não cair em golpe

  • Ler atentamente o contrato

Quando os formandos assinam um contrato com uma empresa responsável pelas festividades, todos devem estar cientes das cláusulas.

  • Prestação de contas mensal

É bom ter prestação de contas mensal da empresa ou presidente da comissão de formatura.

  • Reuniões com a comissão

Reuniões periódicas ajudam a deixar todos em dia com contas.

  • Mais de um responsável

O recomendado é que haja um presidente, um secretário e um conselheiro na comissão e que, para movimentação financeira, os três estejam de acordo.

* Estagiária sob supervisão de Carla Rocha

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