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Por Arthur Leal

A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu a primeira parte do inquérito sobre a morte de dez pessoas da mesma família, que revela detalhes que só reforçam a crueldade empenhada pelos cinco suspeitos presos pelo crime – além de um adolescente de 17 anos –, que tinham como principal ambição um terreno de posse de Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos, na região de Itapoã, avaliado em cerca de R$ 2 milhões. A área sequer era de propriedade de Marcos, e vinha sendo contestada na Justiça pela proprietária. Por crimes como homicídio qualificado, ocultação e destruição de cadáver, extorsão seguida de morte, entre outros, pelos quais os suspeitos serão indiciados, as penas podem chegar de 190 a 340 anos de prisão para cada um, segundo os policiais.

– Que outros policiais nesta delegacia não tenham uma outra investigação tão dolorosa quanto essa – disse o delegado Ricardo Viana, titular da 6ªDP, durante a coletiva de imprensa convocada nesta sexta-feira, no auditório da sede da Polícia Civil do DF.

As minúcias do caso chocam até os policiais envolvidos no caso, e que conseguiram concluir parte importante da investigação em pouco mais de dez dias. Marcos Antônio, o patriarca, por exemplo, foi baleado em casa, quando tentou reagir à rendição dos criminosos – que eram pessoas de sua confiança e que conviviam em sua casa. A intenção dos bandidos era levá-lo ao cativeiro, assim como feito com o restante dos parentes, mas ali a situação saía do controle pela primeira vez. Com base no depoimento de um suspeitos, que o esquartejou antes de enterrá-lo, a polícia investiga se ele ainda estaria vivo enquanto tinha os membros cortados: "ouvia a respiração ofegante", teria dito.

– A morte do Marcos teria sido de forma precipitada. Houve uma reação por parte dele e o suspeito atirou. Ali foi o primeiro percalço. A gente não sabe qual seria o fim, mas a intenção era levá-lo ao cativeiro. Aliás, se a opção deles fosse colocar todo mundo na fossa, nós teríamos muito mais trabalho até chegar lá, porque todos iriam ter sumido – explicou Viana.

O "núcleo" da associação criminosa, como chamam os investigadores, ou seja, os idealizadores e executores do plano, são Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos e Gideon Batista de Menezes, de 55. A polícia afirma que Marcos Antônio conheceu pelo menos um deles, Gideon, na cadeia. A vítima já havia sido presa por crimes como roubo, furto e associação criminosa.

– Gideon e Horácio moravam com Marcos na chácara, que em especulação informal valeria R$ 2 milhões. Eles almejavam tê-la para eles, para posterior comercialização. O plano era o seguinte: ceifando a vida de toda a família, teriam a posse do bem, fariam a venda e aufeririam o dinheiro. Também visualizaram que, no período de planejamento do crime (que durou 3 meses), a Cláudia (ex-mulher de Marcos) comercializou, em dezembro, uma casa, onde ganhou com essa venda R$ 200 mil. A investigação apurou que R$ 79 mil foram passados em dinheiro vivo a ela, que estava em companhia de Marcos no momento do negócio. Além disso, havia ainda o dinheiro que as vítimas tinham em sua conta corrente. Daí, o caderno achado no cativeiro onde eram obrigadas a entregar suas contas, senhas e cartões – explica o investigador.

Também fazem parte da quadrilha Fabrício Silva Canhedo, de 34 anos, que vigiava as vítimas no cativeiro, Carlomam dos Santos Nogueira, vulgo Carlinhos, de 26 anos, que, assim como Horácio e Gideon, cumpriu um papel de pistoleiro na trama, e um sexto homem, preso por último, e que também teria participado dos assassinatos, Carlos Henrique Alves da Silva, 25 anos, conhecido como Galego.

– Para a investigação, essas pessoas, desde o início, já visavam extirpar a família toda – acrescentou.

Esfaqueados e jogados em cisterna

Cláudia Regina Marques de Oliveira, de 55 anos, Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19, e Thiago Gabriel Belchior de Oliveira, de 30 anos, foram sequestrados desde a chácara e levados até a casa abandonada onde foram mortos e jogados em uma cisterna. A brutalidade dos criminosos foi tamanha em relação a essas três vítimas, que o delegado Ricardo Viana se negou a dar detalhes de como foram mortas e, também, de como os cadáveres foram encontrados. Revelou apenas que todos foram esfaqueados, um de cada vez, o que reforça a violência. Thiago teria sido o último.

– Eu, como cidadão de Brasília, espero que, da próxima vez que a gente se reúna, possamos falar de situações bem diferentes desta. Que não experimentemos de novo a sensação de ter uma chacina com dez pessoas mortas da mesma família e de forma tão cruel. Essas pessoas foram mortas de maneiras diferentes e com uma crueldade extrema – desabafa Viana.

Local abandonado onde vítimas foram mortas e três corpos foram ocultados em cisterna — Foto: Divulgação /PCDF
Local abandonado onde vítimas foram mortas e três corpos foram ocultados em cisterna — Foto: Divulgação /PCDF

O delegado revela que o momento mais difícil para os investigadores foi justamente quando chegaram aos corpos de Ana Beatriz, Cláudia e Thiago.

– Tínhamos esperança de encontrá-los com vida, e quando chegamos naquele local e que os policiais começaram a cavar o fosso, depois os bombeiros, eu não gostaria de mencionar o que eles fizeram exatamente com essas pessoas, ou como foram encontrados. Mas em decomposição. Ali, a gente viu a crueldade à qual essas pessoas estavam munidas. Foi algo jamais visto no âmbito dessa Polícia Judiciária – acrescentou. – Chocou a todos nós policiais. Foi um momento muito difícil nas nossas vidas e na nossa carreira também.

Delegado e equipe da 6ªDP foram homenageados por celeridade na resolução do caso — Foto: Arquivo pessoal
Delegado e equipe da 6ªDP foram homenageados por celeridade na resolução do caso — Foto: Arquivo pessoal

Nomes revelados acidentalmente

Os parentes que foram mantidos reféns tinham contato apenas com Carlomam e Fabrício. Horácio e Gideon se comunicavam com os comparsas apenas do lado de fora do cativeiro. Até Marcos Antônio ser morto, Horácio fingia ser vítima ao lado dele. A polícia revela que, um momento de desespero entre as vítimas, foi justamente durante um desentendimento entre eles, quando perceberam que, por trás do crime, estavam pessoas de confiança e que frequentavam suas casas. Após ficar sabendo que os corpos de Renata Juliene Belchior, de 52 anos, e de Gabriela Belchior de Oliveira, de 25 anos – esposa e filha de Marcos Antônio, respectivamente – haviam sido encontrados carbonizados dentro do carro da família, Fabrício perdeu a paciência com Horácio e Gideon e acabou gritando, em alto e bom som, o nome dos dois. Para os investigadores, se eles ainda não estavam certos sobre matar toda a família, a partir dali eles tiveram certeza absoluta sobre o que fariam.

Crime chocou até policiais: dez pessoas da mesma família foram assassinadas — Foto: Editoria de Arte
Crime chocou até policiais: dez pessoas da mesma família foram assassinadas — Foto: Editoria de Arte

Viana revelou, também, que os laudos cadavéricos indicam que não havia fuligem nas vias respiratórias de Renata, Gabriela, Elizamar da Silva, de 39 anos, e seus três filhos pequenos, Rafael e Rafaela, de 6 anos, e Gabriel, de 7 – esposa e filhos de Thiago Gabriel, nora e netos de Marcos Antônio. Isso mostra que eles já estavam mortos quando tiveram os corpos queimados no interior dos veículos. A polícia acredita, com base nos depoimentos, que essas seis vítimas tenham sido asfixiadas.

Câmeras de segurança mostram carros envolvidos em chacina no Distrito Federal

Câmeras de segurança mostram carros envolvidos em chacina no Distrito Federal

'Chefe': suspeitos se fizeram passar por patriarca para atrair filho dele

Uma outra curiosidade do caso, revelada por Ricardo Viana, é em relação ao bilhete encontrado pelos investigadores no cativeiro usado pelos criminosos, onde eles atraíam Thiago, Elizamar e os filhos até a emboscada. Segundo o delegado, o bilhete nunca foi fisicamente entregue a Thiago. Na verdade, foi enviado por mensagem de texto, muito provavelmente a partir do telefone celular de Marcos Antônio. A mensagem começa chamando-o de "chefe". Essa era a forma como o patriarca chamava todos do seu convício.

Mortos para evitar 'herdeiros'; terra sequer pertencia a Marcos

A carta deixa clara a intenção dos criminosos de atrair Elizamar e os filhos ao local. Os investigadores acreditam que ela e as crianças de 6 e 7 anos foram assassinadas para não haver risco de alguém herdar a posse da chácara de Marcos Antônio.

– O bilhete não foi fisicamente entregue. O modo de agir deles era o seguinte: pouco se comunicavam ali. Gideon e Horácio se passavam por vitimas, enquanto todos estavam vendados. Aquele bilhete seria uma minuta de uma mensagem que foi passada para o Thiago. O vocativo "chefe" é uma maneira como o Marcos chamava as pessoas do seu convívio. A partir desse bilhete, escreveram uma mensagem, o Thiago foi até o local, eles o buscaram no inicio do condomínio, o colocaram na chácara, e de lá chegaram o Carlomam e o Galego, que o sequestraram.

Criminoso escreveu bilhete para atrair família inteira a cativeiro — Foto: Divulgação
Criminoso escreveu bilhete para atrair família inteira a cativeiro — Foto: Divulgação

Cronologia do crime

  • O inquérito apurou que, em 23 de outubro, os bandidos alugaram o cativeiro onde iriam manter as vítimas.
  • Em 28 de dezembro, o plano começou a ser executado na própria chácara, quando Marcos, sua esposa Renata Juliete Belchior, de 52 anos, e a filha deles, Gabriela Belchior de Oliveira, de 25, foram rendidos.
  • No mesmo dia, Gideon deu acesso a Carloman e a um adolescente, com a intenção de simular um roubo à chácara. Horácio estava no local e fingiu-se de vítima. No entanto, o Marcus reagiu, sendo atingido com um tiro na nuca por Carloman. Assustado, o adolescente pulou o muro durante a madrugada e fugiu do local. Depois disso, o grupo criminoso levou Renata, Gabriela e Marcos para o cativeiro, onde o corpo dele foi esquartejado.
  • Em 4 de janeiro, os criminosos levaram Cláudia e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, também para o cativeiro. Ela havia vendido uma casa no valor de R$ 200 mil que também virou objeto de cobiça por parte do grupo, que simulou, com o celular de Marcos, que Gideon, Horácio e Fabrício a ajudariam na mudança. Ao entrarem no local, foram rendidas e levadas para dois cômodos.
  • No dia 12, Thiago Gabriel Belchior, marido da cabeleireira Elizamar da Silva, recebeu um bilhete o atraindo com a mulher e os três filhos do casal até a chácara. De lá, os levaram até Cristalina, em Goiás, onde asfixiaram as vítimas e queimaram o carro dela.
  • Em 14 de janeiro, Renata e Gabriela foram mortas em Unaí, Minas Gerais, e tiveram o carro queimado por Horácio e Gideon. No dia seguinte, Thiago, Cláudia e Ana saíram do cativeiro com vida, mas acabaram sendo esfaqueados pelos criminosos e tiveram os corpos jogados e enterrados em uma cisterna em Planaltina, Região Administrativa do Distrito Federal.

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