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Por Ivan Martínez-Vargas — São Sebastião

Diz o senso comum que as tragédias anunciadas são as mais dolorosas, essencialmente porque evitáveis. O desastre no Moro do Juramento, no bairro de Itatinga, em São Sebastião (SP), é um desses casos. Mais de 36 horas após os deslizamentos de terra provocados por fortes chuvas no local a partir das primeiras horas de domingo, dezenas de moradores tentavam retirar a lama de dentro de suas casas, a maioria delas condenada.

A cena encontrada pelo GLOBO no fim da tarde de segunda-feira era a de cerca de 30 moradores, enxadas à mão, pés descalços ou chinelos com barro até as canelas, decididos a salvar o que fosse possível. Na localidade de classe média baixa próxima ao centro do município, não se ouvia choro, nem lamentações. Os gritos eram de mobilização e o objetivo da força-tarefa informal a de tirar a lama dos imóveis que resistiram aos deslizamentos.

O que dava o tom local era a revolta com a Defesa Civil e a prefeitura de São Sebastião que, nas palavras dos moradores, "demora para fazer o atendimento" no local. Ao GLOBO, o capitão Caíque Amaral, da Defesa Civil, afirma que há uma força-tarefa de aproximadamente 100 pessoas atuando nas áreas atingidas pela chuva no Litoral Norte, mas que a prioridade no momento é auxiliar na localização e no resgate de soterrados.

— Nosso foco neste momento é salvar vidas — afirmou.

As autoridades, estaduais e municipais, confirmaram a morte de 40 pessoas na região por conta das chuvas.

No Morro do Juramento, as casas foram construídas numa encosta que há anos apresenta risco de erosões nos meses mais chuvosos. No site da prefeitura, é possível encontrar textos que tratam de danos causados às moradias no bairro por chuvas em outras datas, como, por exemplo, 2020.

Mapa dos bloqueios — Foto: Editoria de Arte
Mapa dos bloqueios — Foto: Editoria de Arte

Na Travessa Antonio Tenório dos Santos, onde ficavam as casas que sucumbiram às chuvas, quatro homens da Defesa Civil de Jacareí, cidade do vizinho Vale do Paraíba, operavam uma escavadeira para ajudar na remoção dos detritos, acompanhados por um funcionário da Defesa Civil local.

A casa do pintor André Luiz Aguiar de Araújo, de 34 anos, foi destruída pela chuva — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O GLOBO
A casa do pintor André Luiz Aguiar de Araújo, de 34 anos, foi destruída pela chuva — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O GLOBO

A rua, que tinha asfalto, eletricidade e saneamento básico, ficou irreconhecível com a lama. Em meio ao cheiro de esgoto, 11 homens da vizinhança trabalhavam na casa do pintor André Luiz Aguiar de Araújo, de 34 anos. Após horas de trabalho, conseguiram baixar a lama dos cômodos. O cenário, contudo, era desolador: todos os eletrodomésticos perdidos. Ele e a esposa conseguiram recuperar apenas bicicletas.

Janaína, irmã de Andre Luiz, diz que as fotos de família estão entre as poucas coisas que não foram destruídas pelas chuvas — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo
Janaína, irmã de Andre Luiz, diz que as fotos de família estão entre as poucas coisas que não foram destruídas pelas chuvas — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo

Janaína, sua irmã, só conseguiu salvar um porta-retratos de seus bens pessoais. Apesar de tudo, André se mostrava feliz por estar vivo.

— Já sei que não vou mais poder viver aqui, e nem quero. Só escapamos com vida porque nosso cachorro nos acordou com latidos na madrugada, já com a lama no pescoço — conta ele, que paga um aluguel de R$ 800 pela casa em que morava com mulher e três filhos.

Os deslizamentos não causaram nenhuma morte no bairro, diferentemente da região do Sahy, que concentra óbitos e permanece isolada.

Morador de uma via paralela à travessa, o pedreiro Pedro Ferreira da Silva diz que vai permanecer em sua casa, acessível somente a pé e passando por um lamaçal. Seu filho teve o carro arrastado pela lama e uma de suas filhas, que vive na rua mais afetada pela erosão, teve a casa soterrada.

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