Octilhão: um seguido de 27 zeros. Esse era um dos valores exorbitantes prometidos por pastores alvos da Operação Falso Profeta, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal nesta quarta-feira. De acordo com as autoridades, a organização formada por cerca de 200 integrantes enganou 50 mil pessoas, no Brasil e no exterior, a acreditar que seus investimentos iriam dar retornos estratosféricos se entregues nas mãos dos líderes religiosos.
Para se chegar ao octilhão deve-se primeiro passar pelos mais conhecidos milhão, bilhão, trilhão e quatrilhão. Em seguida, quintilhão, sextilhão e septilhão. O número tem três vezes mais zeros que o bilhão.
A fortuna prometida, assim, pertence a uma escala tão alta que está acima do Produto Interno Bruto Mundial, atualmente na casa dos trilhões, segundo o Banco Mundial. Para comparação, no caso do Brasil, o PIB em 2022 foi de R$ 9,9 trilhões. O dos EUA, o maior do planeta, é de US$ 25,46 trilhões.
Um octilhão não é apenas um valor superior a tudo produzido na Terra em um ano. O número também é maior que a quantidade estimada de estrelas no espaço, que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espacias, está na casa dos 10 sextilhões. "Para comparação, o número de estrelas no Universo pode ser maior do que o número de grãos de areia na Terra, ou da ordem do total de células existentes em todos os seres humanos do nosso planeta", diz o Inpe, em seu site oficial.
Isso, no entanto, não significa que o número não possa ser encontrado por aí, apesar de pertencer a uma escala de difícil compreensão. Há estimativas, por exemplo, que apontam existirem mais de um octilhão de átomos no corpo humano, segundo o Museu Americano de História Natural.
Entenda o caso
Os integrantes de uma quadrilha alvo da Operação Falso Profeta, deflagrada nesta quarta-feira pela Polícia Civil do Distrito Federal, convenciam as vítimas a investir por meio de conversas enganosas nas redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.) "abusando da fé alheia, da crença religiosa e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de 'Nesara Gesara'". Trata-se de uma suposta alteração na economia global em que seria possível ganhar muito, investindo pouco.
O esquema teria feito mais de 50 mil vítimas em quase todo o país. Segundo a polícia, a maioria delas era evangélica e era levada a investir economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias. Em troca, receberiam "retorno financeiro imediato", com "rentabilidade estratosférica".
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As investigações apontam que as vítimas, no Brasil e no exterior, foram induzidas a investir dinheiro com a promessa de receberem, de volta, no futuro, valores milionários. A polícia apurou, por exemplo, que os criminosos prometiam o retorno de "um octilhão de reais" se a pessoa fizesse apenas um depósito de apenas R$ 25. Outras vítimas foram levadas a crer que ganhariam "350 bilhões de centilhões de euros" se concluíssem um aporte de R$ 2 mil.
A investigação começou há um ano. Segundo a Polícia Civil do DF, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores. Os religiosos são acusados de induzir as vítimas ao erro — normalmente, fiéis que frequentam suas igrejas e que eram levados a acreditar que eram escolhidos por Deus para receber a "benção", isto é, quantias milionárias.
Empresas fantasmas e 'falsos bancos'
Os investigadores destacaram que o grupo mantinha empresas "fantasmas" e de fachada que simulavam ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital declarado. As vítimas eram enganadas que receberiam o dinheiro por meio dessas instituições.
Para dar uma aparência de legalidade à operações, o grupo fazia contratos falsos com as vítimas, nos quais prometiam a liberação de "quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento". O grupo afirmava que tais títulos estavam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
De acordo com a PCDF, o grupo movimentou mais de R$ 156 milhões nos últimos cinco anos e utilizou cerca de quarenta empresas "fantasmas" e de fachada e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas para forjar o esquema.
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Agentes da Polícia Civil do Distrito Federal cumpriram, na manhã desta quarta, dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão contra integrantes da organização, suspeita de praticar estelionato e outros crimes no DF e em quase todas as unidades da federação. De acordo com os investigadores, o golpe pode ser considerado um dos maiores já apurados no país.
As buscas foram feitas em endereços do DF e de quatro estados –Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. A Justiça também autorizou o bloqueio de valores, redes sociais e a proibição do uso de mídias digitais por parte dos suspeitos. Segundo o "Metrópoles", um dos alvos foi Osório José Lopes Júnior, apontado como líder do grupo e que é considerado foragido. Ele se apresenta nas redes sociais como pastor. Osório foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo e de Goiás, no ano passado.
Os suspeitos são acusados de formar uma "rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais (fraude eletrônica)". O objetivo dos golpistas, segundo a polícia, seria obter vantagem econômica às custas das vítimas.
Em dezembro, a polícia chegou a prender em Brasília um dos suspeitos de envolvimento no esquema. Na ocasião, ele usou um documento falso numa agência bancária para simular ter um crédito de cerca de R$ 17 bilhões. Preso em flagrante, Paulo Roberto Salomão foi descrito pelos investigadores como "o principal influenciador digital" da quadrilha. O grupo continuou a aplicar golpes mesmo após essa detenção.
"Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa", afirmou a PCDF, em nota.
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