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Uma fala em uma audiência do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8), no Pará, gerou revolta nas redes sociais e entre juristas na tarde de terça-feira. Uma advogada grávida, Suzane Odane Teixeira, teve pedido de adiamento de audiência negado em sessão presencial da 4ª Turma do tribunal. Minutos antes, Georgenor de Sousa Franco Filho, presidente do colegiado, afirmou que "gravidez não é doença" e que a advogada poderia ter enviado um substituto à audiência. A informação foi noticiada inicialmente pelo site Migalhas.

Após a repercussão, comissão e coordenadoria de defesa e representação de mulheres advogadas da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) divulgaram nota de repúdio e se reuniram com a presidência do tribunal. Já o desembargador divulgou nota pedindo desculpas pelas falas. Veja as íntegras no fim da reportagem.

Atualização (11/10): Já na quarta-feira, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anunciou que instaurou reclamação disciplinar e vai apurar a postura do desembargador após representação formal de quatro conselheiros. O caso será analisado pelo plenário e o magistrado tem 15 dias para apresentar sua defesa.

"A advogada esteve comigo na semana passada informando que talvez hoje tivesse seu bebê. Pela informação da doutora Marcia, ela teve. Ela me disse o seguinte: dependendo do resultado, eu poderia relatar o processo", diz a desembargadora Sulamir Palmeira Monassa de Almeida, que posteriormente é requisitada pelo presidente a dar uma resposta objetiva sobre o pedido. "Eu defiro o pedido", diz ela. Na sequência, é questionada sobre a decisão. "Excelência, ela pediu sustentação oral", completa Monassa de Almeida.

Franco Filho então faz a observação que gerou revolta: "Já dizia Magalhães Barata, que foi governador do Pará. Gravidez não é doença, adquire-se por gosto". Nos momentos seguintes, a desembargadora argumenta:

Monassa de Almeida: Excelência, não é doença, mas é um direito...

Franco Filho: Mas ela não é parte do processo, é apenas advogada.

Monassa de Almeida: Ela tinha pedido sustentação oral.

Franco Filho: Mandava um substituto, é a coisa mais simples que tem. São mais de 10 mil advogados em Belém e acho que todos têm as mesmas qualidades e qualificações que a doutora Suzane Teixeira. Mas a senhora vota... aliás, eu nem voto nesse processo, portanto tudo o que eu falar aqui, esqueçam o que eu falei. Vossas excelências que decidam.

Após o diálogo, a mesa conclui que a decisão é favorável e dá prosseguimento ao julgamento. Um dos desembargadores ressalta, inclusive, que a advogada poderia estar em cirurgia de parto. Assista ao momento:

'Gravidez não é doença', diz desembargador em audiência no Pará

'Gravidez não é doença', diz desembargador em audiência no Pará

OAB-PA repudia falas e estuda processo

As falas geraram revolta e a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA), por meio de comissão e coordenadoria de defesa e representação de mulheres advogadas, divulgou nota repudiando o episódio. No comunicado, a ordem explicou que a advogada em questão deu à luz no último dia 6 e se encontra hospitalizada.

"A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, por meio do Sistema Estadual de Defesa das Prerrogativas (SEDP), juntamente com a Coordenadoria de Defesa da Mulher Advogada (CDMA) e a Comissão das Mulheres e Advogadas (CMA), repudia veementemente a grave violação de prerrogativas em função de gênero contra uma advogada puérpera durante julgamento realizado nesta terça-feira (10/10/2023), na Sessão Presencial da 4ª Turma do TRT 8ª Região.

A advogada puérpera, cujo bebê nasceu no último dia 06/10/2023 e encontra-se hospitalizado, requereu o adiamento do julgamento de processo que tramita sob sua condução e responsabilidade através de petição protocolada antes da realização da sessão e informou em reunião presencial com a relatora do processo que seu parto estava previsto para ocorrer no mesmo dia da referida sessão de julgamento, tendo inclusive ocorrido de forma antecipada". LEIA A NOTA COMPLETA AQUI.

Na mesma tarde, uma comitiva da ordem se reuniu com Marcus Augusto Losada Maia, presidente do TRT-8, para cobrar providências sobre o caso. A Comissão das Mulheres e Advogadas (CMA) e a Coordenadoria de Defesa da Mulher Advogada (CDMA) afirmaram que estudam "medidas administrativas cabíveis, inclusive eventual instauração de processo". Leia mais aqui.

TRT-8 lamenta o ocorrido

Também em nota, o TRT-8, que abrange os estados do Pará e do Amapá, lamentou o ocorrido e reiterou o "respeito pela advocacia e por suas prerrogativas, em especial da mulher advogada" e afirmou que "tem como valores a promoção da equidade de gênero e a valorização da diversidade, com o planejamento e execução de diversas ações que buscam a construção dessa realidade, alinhado com as políticas judiciárias estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça e Conselho Superior da Justiça do Trabalho".

A nota do TRT-8 — Foto: Reprodução
A nota do TRT-8 — Foto: Reprodução

Desembargador pede desculpas

Em nota, o desembargador Georgenor de Sousa Franco Filho pediu desculpas à advogada Suzane Odane Teixeira e a outras mulheres advogadas. No texto, o magistrado reconheceu que a manifestação foi "profundamente indelicada e infeliz" e afirmou que é "imprescidível" reconhecer erros. Veja a nota completa:

Na data de hoje, 10 de outubro, fui surpreendido, após o final da Sessão da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, a qual presido, com a repercussão na imprensa e redes sociais sobre intervenção minha em processo que foi a julgamento, cuja advogada havia pedido adiamento em razão de seu estado gravídico. Tratava-se do AP 0000288-68.2023.5.08.0009, de relatoria da Desembargadora Sulamir Palmeira Monassa de Almeida, patrocinado pela Dra. Suzane Odane Teixeira Guimarães.

Revendo novamente a filmagem, verifiquei que minha manifestação foi profundamente indelicada e infeliz, e gostaria de oferecer minhas mais sinceras desculpas não somente à Dra. Suzane Odane Teixeira Guimarães, mas a todas as Sras. Advogadas que tenham se sentido ofendidas com minhas palavras.

Prosseguiu-se o julgamento que seria (como foi) favorável à ilustre advogada.

Limitei-me a partir de então a proclamar o resultado do julgamento, favorável aos interesses patrocinados pela D.Advogada.

Em mais de quarenta anos de magistratura e com a dedicação de outros mais de quarenta anos também ao magistério superior, impossível não cometer erros, mas imprescindível reconhecê-los para podermos seguir a eterna estrada do aprendizado.

Até mesmo em respeito às mulheres de minha vida (minha falecida mãe, minha mulher, minha filha, minha nora e minha neta), lamento profunda e sinceramente pelo ocorrido e reitero meu respeito a todas as mulheres profissionais que não medem esforços a cumprir com a difícil missão de observarem suas jornadas múltiplas.

Quem me conhece minimamente sabe que sou fervoroso e permanente defensor da mulher e seus direitos.

Reitero-me firmemente minhas desculpas a Dra. Suzane Odane Teixeira Guimarães.

Cumprimento a todos os leitores deste pedido de desculpas.

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