Machucados nos punhos, hematomas nas costas, panturrilhas, joelhos e glúteos, essas são algumas das consequências da tortura à qual o policial militar Danilo Martins Pereira teria sido submetido durante o curso de formação do Patrulhamento Tático Móvel do Batalhão de Choque (BPChoque), na segunda-feira passada, 22 de abril.
A O GLOBO, Danilo contou detalhes da agressão que teria durado oito horas, resultando em uma internação de seis dias no hospital. Segundo ele, ainda no primeiro dia do curso, durante a apresentação dos candidatos ao BPChoque, o tenente Marco Teixeira teria dito que Danilo não iria se formar.
— Ele disse que se eu não desistisse ele ia me desligar por lesão ou insuficiência técnica. A punição começou comigo em pé por mais de uma hora, depois fui obrigado a segurar o fuzil cruzado no peito por quase 40 minutos, depois uma tora de madeira, depois o tenente jogou gás lacrimogêneo no meu rosto — contou.
A tortura teria acontecido no próprio batalhão, à luz do dia, na presença dos outros policiais.
— Tive que correr com o tronco sobre a minha cabeça enquanto levava pauladas. Depois ele me colocou na frente da sala de aula e mandou eu fazer flexão de punho cerrado em cima da brita. Foi aí que começaram as pauladas na cabeça e chutes no estômago.
Depois das flexões, Danilo teria sido levado para um canto onde foi socado no estômago e espancado.
— Nessa hora eu caí, e recebi a paulada na minha lombar. A todo tempo o tenente pedia para eu assinar minha desistência. Depois dessa agressão, ele me obrigou a carregar um sino de aço de cerca de 50kg, um paralelepípedo, de uns 60kg, e então um cilindro ainda mais pesado. Foi nessa hora que lesionei a lombar, e eles me agrediram mais um pouco e pedi a folha para assinar.
De acordo com o policial, após a assinatura o tenente coordenador do curso teria comemorado com um grito e agiu como se nada tivesse acontecido.
Segundo Danilo, durante toda a tortura, das 8h30 até 16h30, ele foi obrigado a cantar uma música humilhante: “Eu sou fanfarrão, eu gosto de atenção, sou coach do fracasso, me faço de palhaço, envergonho minha família, envergonho minha unidade, eu sou carente e ninguém gosta de mim.”
Imagens revelam marcas de suposta tortura sofrida por PM em curso de formação no DF
Prisão dos Policiais Militares
O Ministério Público do Distrito Federal pediu a prisão temporária de 14 policiais militares acusados de praticarem tortura contra o soldado durante o curso de formação. A prisão foi efetuada pela 3ª Promotoria de Justiça Militar e a Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal. A denúncia foi feita pelo soldado Danilo.
Além das prisões, também foram realizados 15 mandados de busca e apreensão de celulares dos militares supostamente envolvidos e suspensão do curso até o encerramento das investigações. Também foram determinados o afastamento do comandante do BPChoque até o encerramento das apurações e o acesso ao prontuário médico da suposta vítima para elaboração do laudo de exame de corpo de delito.
Danilo estava na PM há quatro anos, quando decidiu tentar uma vaga no patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal.
De acordo com o Jornal Nacional, no fim desta segunda-feira (29) a PM divulgou mais uma nota afirmando que não admite desvios de conduta e apura os fatos de maneira criteriosa e imparcial. A defesa de 13 PMs presos nesta segunda disse que eles foram surpreendidos com a operação e que vai apresentar as versões de cada um pra que a Justiça possa aplicar o direito da melhor forma.
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