A ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, foi encontrada morta, aos 32 anos, na última terça-feira, na casa de sua família, em Manaus. Ela fazia parte de uma seita, criada junto à mãe e ao irmão, que consistia no uso compulsório de drogas alucinógenas, como a ketamina. Ao GLOBO, o delegado Cícero Túlio, responsável pelo caso, afirmou que a morte por overdose é a principal hipótese da investigação.
— O laudo preliminar aponta morte por depressão respiratória, que é justamente um dos efeitos da drog — afirmou o delegado, que citou ainda o diagnóstico apontado no laudo do ator de Friends, Matthew Perry, que morreu pelo uso da cetamina.
As motivações por trás da morte de Djidja ainda não foram esclarecidas, no entanto, de acordo com o delegado, o uso excessivo de drogas pode ter sido a causa e é a principal suspeita da linha investigativa. A afirmação confirma o que outro delegado responsável pelo caso, Daniel Antony da Delegacia de Homicídios, havia relatado.
— A morte tem peculiaridades, principalmente pela possibilidade de uso de fármacos psicotrópicos. Há a possibilidade de ter havido um abuso que levou ao óbito dela (...) Não trabalhamos ainda com a hipótese de homicídio. Para que eu possa dizer que teve uma morte violenta e um homicídio, preciso de elementos de autoria. É o que estamos levantando — explica o delegado Daniel Antony, da Delegacia de Homicídios.
Djidja já era investigada
As investigações tiveram início a cerca de 40 dias, e a droga era obtida de forma irregular em uma clínica veterinária. Vítimas relataram aos policiais terem sido dopadas e mantidas em cárcere privado. A morte da mulher foi o estopim para o início das operações contra a organização, segundo disse o delegado Cícero Túlio, durante uma coletiva de imprensa, nesta sexta-feira.
A amazonense se apresentou pelo Boi Garantido entre os anos de 2015 e 2020, no Festival de Parintins. Após se aposentar das apresentações, passou a trabalhar à frente de uma rede de salões de beleza ao lado da mãe e do irmão no Amazonas.
Seita
Batizada de "Pai, Mãe, Vida", a seita criada pela mãe de Djidja, Cleusimar, e o irmão, Ademar, tinha forte cunho religioso. De acordo com a polícia, os três acreditavam ser, respectivamente, Maria Madalena, Maria e Jesus Cristo.
— Eles utilizavam (a droga) para entrar nessa espécie de transe, para, segundo eles mesmos relataram, transcenderem para outra dimensão — explica o delegado Cícero Túlio. — Diversas pessoas já foram ouvidas no decurso da investigação. Duas pessoas relataram fatos criminosos que levam a crer na possibilidade prática de estupro de vulnerável. Inclusive, com a possibilidade de ter acontecido um aborto com uma dessas garotas.
Família presa por tráfico de drogas
A mãe e o filho foram presos na última quinta-feira, sob um mandado de prisão preventiva por tráfico de drogas e envolvimento com o tráfico. Ademar também foi alvo de um mandado pelo crime de estupro. Os mandados de prisão também foram expedidos contra três funcionários da rede de salões Belle Femme.
A audiência de custódia, realizada nesta sexta-feira, comprovou a legalidade da prisão preventiva de Cleusimar e Ademar. De acordo com seu advogado, Vilson Benayon, a mãe e o irmão da ex-sinhazinha não foram ouvidos, já que não estavam em condições de dar depoimento no momento da prisão, muito alterados pelo uso de drogas. Segundo ele, grande parte do faturamento dos salões era direcionado para alimentar o vício.
Segundo o delegado, ao longo das operações nas unidades da rede de salões, foram encontrados centenas de seringas, algumas prontas para serem usadas, além de doses da droga.
— Pedimos o toxicológico e a internação compulsória dos dois em uma clínica de reabilitação. Eles foram atendidos na enfermaria do complexo prisional em crise de abstinência. Ontem estavam de um jeito, hoje estão de outro. O que eles têm é uma patologia, a prisão os salvou da morte — afirmou o advogado, ao GLOBO.
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