O médico Wilian Pires foi sentenciado a pagar R$ 70 mil para a empresária Sayara Karyta de Sousa Rego, de 29 anos, após uma cirurgia malsucedida deixar o abdome da mulher necrosado. O cirurgião também foi investigado e condenado em um caso de estelionato e associação criminosa pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF).
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De acordo com o relato do advogado de Sayara, Leonardo Nascimento, ao GLOBO, a empresária encontrou o perfil do médico pelas redes sociais e decidiu seguir com o procedimento, após ver a quantidade de seguidores — que soma mais de 300 mil no Instagram — de Wilian e as cirurgias feitas em influenciadores como a ex-BBB Paula Freitas.
A lipoaspiração de alta definição — conhecida como Lipo LAD ou Lipo HD — foi realizada em setembro de 2020, em um hospital de Goiânia. Segundo afirma Nascimento, Sayara contou que, durante a consulta pré-operatória, foi informada por Pires que os cortes seriam pequenos e que o resultado final poderia começar a ser observado após algumas semanas.
— Ele falou que seria algo superficial — disse o advogado.
Nascimento sinaliza que em nenhum momento da consulta sua cliente foi avisada dos riscos do procedimento. Apesar das complicações após a cirurgia, o advogado explica que Wilian não foi condenado por erro médico e, sim, por negligenciar o dever de informação e transparência durante o processo pré-cirúrgico e o pós-cirúrgico.
Sayara chegou a procurar o médico após perceber falhas na cicatrização, mas, como afirma seu advogado, Wilian teria feito "pouco caso" à primeira vista. Depois, ao propor soluções para a empresária, citou a ozonioterapia — procedimento controverso que foi autorizado por lei ano passado, apesar de protestos do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Academia Nacional de Medicina (ANM) e da Associação Médica Brasileira (AMB).
O médico acabou sendo condenado em 1ª instância a pagar indenização de R$ 8.948,88 por danos materiais, R$ 20 mil por danos morais e R$ 30 mil por danos estéticos. Os advogados da empresária recorreram da decisão, a fim de aumentar o valor pago por Wilian.
Após recorrerem, a indenização por danos morais foi a R$ 30 mil. O médico ainda pode recorrer da sentença.
— O que revolta a gente é que ele [Wilian] foi no leilão beneficente do Neymar e arrematou um passeio com o jogador. E a gente pensa: o que são [só] R$ 70 mil para esse cara?
Wilian também participou do leilão promovido pelo jogador no ano passado, levando para casa uma viagem com as influenciadoras Poliana e Virgínia Fonseca por R$ 750 mil, junto com outros dois amigos médicos. Em outro leilão, ele arrematou um jantar com Ronaldo Fenômeno e Sabrina Sato por mais de R$ 100 mil.
Procurado pelo GLOBO, a assessoria do médico disse lamentar a situação da empresária, mas afirma que "toda assistência médica foi prestada à paciente".
Confira a nota na íntegra:
"O médico cirurgião plástico Willian Pires lamenta a situação da empresária Sayara Karyta de Souza Rego. Na época da cirurgia, toda assistência médica foi prestada a paciente. Desde então, Sayara Karyta move um processo cível pra conseguir indenização moral. O processo ainda está em trâmite e corre em segredo de justiça e, por isso, o médico não pode dar detalhes do caso, sob pena de incidência no crime do artigo 10 da lei 9296/96 (violação de segredo de justiça)."
Condenação por estelionato
No final do mês passado, o cirurgião foi condenado por associação criminosa e estelionato, por decisão do TJDF. Segundo o tribunal, Wilian se associou a outras seis pessoas para cometer uma série de fraudes e simular diversos acidentes a fim de receber indenizações ou valores de seguro contratados pelos mesmos.
Em um dos casos denunciados no processo, Wilian comprou uma lancha por cerca de R$ 850 mil. Logo após, contratou um seguro para a embarcação no valor de quase R$ 2 milhões. Cerca de 40 dias depois, a lancha pegou fogo no Lago Corumbá, localizado em Goiás, durante uma festa.
Depois do incêndio, o médico recebeu indenização de R$ 1,2 milhão da seguradora. A perícia chegou à conclusão de que o incêndio parecia ter começado de cima para baixo, sugerindo que foi intencional.
Nesta decisão, Wilian foi condenado a dois anos de reclusão, a serem iniciadas em regime aberto.
Em nota ao g1 no dia 29 de junho, a defesa do cirurgião relatou que Wilian ainda não havia sido notificado pela Justiça e que o médico seguia "tranquilo exercendo a atividade que ama".
*Estagiária sob supervisão de Daniel Biasetto
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